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Dom Pedro II, duzentos anos

 Duzentos anos depois, seguimos fortes no campo, e frágeis na ciência. Falta ao país o projeto que o imperador já enxergava

 

Estátua de Dom Pedro II no Museu Imperial em Petrópolis

Em 2 de dezembro de 1825 nascia Dom Pedro II, o imperador que fez do saber um projeto de Estado. Duzentos anos depois, o Brasil vive daquilo que ele intuiu: a força do território, da agricultura, e da ciência, como fundamentos do desenvolvimento. Mas também padece do que ele temia, a incapacidade de transformar conhecimento em projeto nacional.

Dom Pedro II foi um soberano singular, de 1831 a 1889. Poliglota, leitor voraz, curioso das ciências naturais, foi o primeiro chefe de Estado a visitar o laboratório de Pasteur, a financiar a fotografia no país, e a investir em pesquisa agrícola. Criou, em 1887, o embrião do Instituto Agronômico de Campinas, ordenou o reflorestamento da Floresta da Tijuca, e estimulou a imigração para povoar e modernizar o campo. Defendia a abolição da escravidão, e acreditava  que o progresso de uma nação dependia da educação e da ciência, não da retórica.

O Brasil que ele governou ainda era uma promessa. O de hoje é um gigante agrícola, responsável por alimentar o mundo tropical. Tornamo-nos potência em soja, carne, açúcar e café. Mas, paradoxalmente, continuamos pequenos onde deveríamos ser grandes: na pesquisa, na tecnologia, e na visão estratégica de longo prazo. O agronegócio brasileiro é produtivo, mas não suficientemente inteligente. Temos volume, mas carecemos de sistema.

Enquanto a China multiplica por cinco seus investimentos públicos em pesquisa agrícola desde o início do século, somando hoje mais que Estados Unidos e Brasil juntos, nossas instituições históricas, como Embrapa e Instituto Agronômico de Campinas, sobrevivem com orçamentos restritos, defasagem de pessoal, e pouca coordenação entre si. O setor privado, embora vigoroso, pensa em safras, não em décadas. O governo, por sua vez, não coordena uma política nacional que una ciência, financiamento, mercado, e território. Cada um faz o seu melhor, mas o resultado coletivo é disperso. Falta projeto.

A consequência é clara: exportamos commodities e importamos tecnologia. Criamos riqueza, mas não produzimos conhecimento suficiente para a sustentar. Somos o maior produtor agrícola do mundo tropical, mas não lideramos o debate global sobre segurança alimentar, biotecnologia, e clima, que é o debate definidor deste século.

O bicentenário de Dom Pedro II, celebrado em 2025, permanece como um ponto de inflexão na história nacional. Mais do que uma data comemorativa, é um espelho do país que fomos, e do que poderíamos ser. O Brasil precisa de uma política pública ativa que volte a colocar a pesquisa e a inteligência territorial no centro da estratégia nacional. Não se trata de saudosismo imperial, mas de um imperativo moderno. Sem integração  entre ciência, agricultura, educação, e sustentabilidade, não haverá protagonismo.

A Conferência do Clima de 2025, a COP30, sediada pelo Brasil, simbolizou a oportunidade de reposicionar o país no debate global sobre clima e alimentação. O desafio agora é transformar essa energia em programa permanente, com instituições fortalecidas, financiamento estável e coordenação nacional. O Brasil  deve continuar a se apresentar ao mundo não apenas como celeiro verde, mas como laboratório vivo da agricultura do futuro, tropical, regenerativa, digital, e socialmente inclusiva.

Duzentos anos depois, Dom Pedro II continua a ensinar que o poder mais duradouro de uma nação não está em suas riquezas naturais, mas em sua capacidade de gerar conhecimento, e distribuir oportunidades. O Brasil do século vinte e um precisa resgatar esse espírito, e pensar o futuro como quem governa o tempo. 


Fonte:  Gustavo Diniz Junqueira,  empresário e ex-secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de SP   | Veja

(JA, Dez25)

 

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