A razão e a moral são duas coisas diferentes, mas elas têm
sido, cada vez mais, colocadas em planos idênticos, ou mesmo com a primeira tentando
se sobrepor à segunda.
A moral é um fenómeno emergente, não é uma construção
racional da mente humana, não é um produto da nossa vontade consciente.
Muitos dos preceitos e regras da moral são proibições, implícitas ou explícitas, do gênero ‘não se deve’ fazer isto ou aquilo, que muitas
vezes vão contra os nossos instintos básicos, e que, exatamente por isso,
racionalmente, voluntariamente, não escolheríamos.
A moral está para além da razão, não é um produto dela. É
como se fosse uma forma de conhecimento cristalizado nas tradições, hábitos e
inclinações de indivíduos e sociedades, da mesma forma que há muito
conhecimento cristalizado nos genes e moléculas de um organismo.
Muitas das normas morais são absorvidas na infância e na
juventude por imitação, não por adesão racional. Muitas dessas regras,
inclusive, não são compreendidas, e até podem parecer absurdas.
Um dos grandes conflitos que impregna a nossa sociedade atualmente tem a ver com esta questão, isto é, com a tentativa de sobrepor a razão à moral, de misturar os dois planos e, em última instância, colocar a moral sob o domínio da razão.
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Clube Paineiras do Morumbi
Na última reunião do Conselho Diretivo - CD do Clube Paineiras do Morumbi, foi discutida a possibilidade
das próximas eleições para renovação de parte do Conselho Diretivo e da
Diretoria Executiva - DE serem prorrogadas de 2021 para 2022, por medida
de precaução, para evitar contágio Covid-19 – pandemia.
Os atuais conselheiros que estivessem em fim de mandato neste
ano (40), e a atual Diretoria Executiva -
cuja renovação está prevista para este ano, teriam seus mandatos prorrogados
por um ano. Quando da próxima eleição,
os eleitos teriam seu mandato reduzido proporcionalmente – um ano.
Como a aprovação da proposta contrariaria o estatuto, para
ser implantada exigiria aprovação da maioria dos associados, o que demandaria
uma consulta sobre a validade da medida.
Na votação do CD
votei a favor da prorrogação, considerando o aspecto racional, lógico. Não
haveria condições normais para haver uma campanha - os candidatos não poderiam se
apresentar pessoalmente, conhecer melhor os eleitores, colocar seus propósitos e os do seu grupo, enfim de criarem
a condição mais ideal possível para a escolha dos votantes.
A proposta da prorrogação prevaleceu. O próximo passo agora é consultar todos os associados.
Mais tarde, o grupo político ao qual eu havia me afiliado
para poder concorrer à reeleição prevista para este ano, o ‘Integridade’, se posicionou
contra a decisão da assembleia. Argumenta que, se irá haver uma consulta geral on-line,
por que, ao invés disso, já não fazer a eleição...
Ainda, criticaram os 22 conselheiros
que terão seus mandatos encerrados neste ano - entre os quais estou incluído-, e
que votaram a favor da prorrogação, por terem defendido uma causa própria.
Conclusão
Nem havia pensado nisso. O Grupo está certo. Votei levado
pela minha razão, mas, pelo aspecto moral, eu deveria ter me abstido do voto. Para minimizar, e por uma questão de coerência, quando for feita a consulta geral para definição ou não da prorrogação, irei me abster.
Preocupado com a possibilidade de reincidência nesse tipo de erro no futuro, registrei para lembrar:
“Toda boa decisão deve atender,
tanto aos parâmetros da Razão, quanto aos da Moral. “
(JA, Mai20)