A saída de Pazuello do governo é só
uma questão de tempo. Ou porque será sacrificado, ou porque pedirá demissão.
Até quando o general Eduardo
Pazuello, ministro improvável da Saúde tanto quanto Jair Bolsonaro é presidente
acidental, ainda suportará o desgaste que sofre, em decorrência de sua abissal
ignorância sobre os assuntos que é obrigado a tratar? E até quando o Exército
assistirá inerte à desmoralização de um dos seus oficiais?
Pazuello não é apenas mais um militar
de alto coturno que serve ao governo de um ex-capitão afastado contra sua
vontade da caserna por indisciplina, e conduta antiética nos anos 80 do século passado. É o único general da ativa e, como tal,
membro do alto comando do Exército. Isso faz muita diferença – ou melhor:
deveria fazer.
Seu colega Luiz Eduardo Ramos,
ministro da Secretaria do Governo, levou meses para finalmente se render à
pressão superior, e pedir passagem para reserva. Militar da ativa não pode
ocupar os dois lados do balcão, ora sentando-se com os que governam o país, ora
com os que ditam os rumos das Forças Armadas.
Uma coisa nada tem a ver com a outra.
O Exército é uma instituição permanente e apartidária. Não deve confundir-se,
nem se deixar confundir com governos
cuja duração máxima é de oito anos. Era de quatro até que nos anos 90 o presidente Fernando Henrique Cardoso pegou gosto e quis
ficar mais quatro. Ficou.
O Brasil registrou, ontem, quase 800 mortes pela Covid-19 em 24 horas, e o total ultrapassou a marca de 178 mil. O número de infectados se aproxima dos 7 milhões desde o começo da pandemia. Na gestão de Pazuello, a
quantidade de casos aumentou 30 vezes. E se não
bastasse, ele continua a dizer asneiras.
Em debate com governadores, entre
eles João Doria (PSDB), de São Paulo, o ministro bateu seu
recorde de asneiras. Visivelmente desconfortável no papel que Bolsonaro o
forçou a viver, Pazuello disse a certa altura do duro interrogatório que
enfrentou:
‘Eu já expus a todos os governadores:
quanto à vacina do Butantã, que não é do Estado de São Paulo, é do Butantã, eu
não sei por que o senhor [Doria] tanto fala como se fosse do Estado,
ela é do Butantã. O Butantã é o maior fabricante de vacinas do nosso país e é
respeitado por isso’.
Por descuido ou por pena do general,
Doria não respondeu que o Instituto Butantã foi fundado pelo governo de São
Paulo em 1901 e, desde então, faz parte da
Secretaria de Saúde do Estado. Ele é o fabricante por aqui da Coronavac, a
vacina chinesa que desperta em Bolsonaro seus instintos mais primitivos.
Em outubro último, em entrevista à
rádio Jovem Pan, Bolsonaro afirmou: ‘A vacina da China nós não compraremos. É
decisão minha’. Está gravado, o que não o impedirá de desmentir como já
desmentiu que tenha dito duas vezes que o Coronavírus não passava de uma
gripezinha. Também está gravado, mas e daí?
O ponto alto do discurso de Pazuello
aos governadores foi sobre o futuro da Coronavac: ‘Quando a vacina estiver
registrada, avaliaremos a demanda, e se houver demanda, e houver preço, nós
vamos comprar. Havendo demanda, todas as vacinas serão alvo de nossas compras’.
Havendo demanda? Já não há?
Ele ainda afirmou que a Anvisa deve demorar 60 dias para aprovar qualquer vacina contra a Covid-19.
Pazuello não sabe o que diz. E tem
medo de dizer o que possa enfurecer Bolsonaro. Há mais de um mês, autorizado
por ele, o ministro anunciou a compra de 46
milhões de doses da Coronavac. No dia seguinte, foi desautorizado. Pazuello
então admitiu envergonhado: ‘Manda quem pode, obedece quem tem juízo’.
Tem um general que se humilha e que é
humilhado em praça pública dia sim, o outro também, e isso não é uma coisa que
dignifique o Exército de Caxias.
Fonte: Ricardo Noblat
(JA, Dez20)