Samuel, um pós-graduado, um executivo experiente, bem sucedido, estava fazendo compras num desses supermercados que vendem no atacado. Os supridores do SM estavam em todos os corredores, em grupos , trabalhando, conversando. Em alguns corredores havia mais funcionários do que clientes.
A circulação de clientes eventualmente ficava impedida porque ali os repositores dependiam de equipamento para elevar/abaixar os produtos nas respectivas gôndolas.
Ele ficou indignado com o incômodo que estava sendo causado, e se perguntava: Por que os funcionários não faziam esse trabalho no período da noite, priorizando a circulação de clientes no horário diurno? Afinal, o objetivo do SM era vender...
Continuou andando, fazendo seu percurso de compras. Ouvir as conversas dos funcionários era compulsório.
De repente, percebeu que estava pensando como eles, prestes a intervir na linguagem deles, com pessoas sem poder de decisão, colocando seu ponto de vista, quando se conteve. Começou então a refletir sobre: Por que ele, sendo quem era, sentiu-se integrado, e esteve prestes a tomar uma atitude que seria mais própria de pessoas daquele grupo?
Reações emocionais
Um dos aspectos mais fascinantes da cultura humana é que ela constitui uma via muito mais rápida do que a seleção natural para promover mudanças no comportamento e, por vezes, na própria biologia. O caso paradigmático é o da tolerância à lactose entre adultos, comum só em descendentes de povos que adotaram estilos de vida pastoris.
Normalmente, a razão prevalece sobre nossos instintos, e reagimos de acordo com as normas, de acordo com o que aprendemos e é esperado. Entretanto, nem sempre é assim.
Normalmente, a razão prevalece sobre nossos instintos, e reagimos de acordo com as normas, de acordo com o que aprendemos e é esperado. Entretanto, nem sempre é assim.
Às vezes, principalmente nos momentos de grande estresse, instintivamente, damos vazão à reações inadequadas, geradas pela nossa emoção
Isso é natural porque as nossas reações, embora quase sempre sigam os critérios que assumimos como corretos, podem variar, dependendo do nosso estado emocional, do ambiente – local, cultura e pessoas. Não é incomum visitar determinado país, e lá se sentir à vontade, com facilidade para entender e falar a língua, a aceitar os costumes locais. Vale inverso também.
Outra situação é aquela em que estamos num ambiente diferente do habitual, e começamos a ter reações, pensamentos e sentimentos, que não nos são próprios, e estranhamos. Esse sou eu mesmo? O que explica isso?
Essas reações são determinadas por uma energia interior, denominada instinto.
O que é instinto?
O termo instinto foi usado nas primeiras traduções da obra de Freud para o inglês, a fim de traduzir o termo alemão ‘Trieb’. Esse uso do termo instinto não corresponde ao conceito psicanalítico, e foi por isso substituído pelo termo pulsão .
Em resumo, é a sabedoria inconsciente que alcançamos pelas experiências acumuladas. O instinto, dependendo da situação, nos induz a reagirmos rapidamente, independentemente da razão, para nos protegermos.
Entretanto, quando nos questionamos sobre o motivo de termos agido de tal forma, nem sempre encontramos a resposta dentro de nós mesmos.
Supõe-se que haja uma forte base genética para definição dos nossos instintos - ideia defendida por Darwin. Os mecanismos que determinam a influência genética sobre os instintos ainda não são completamente compreendidos, uma vez que se desconhecem as estruturas que determinam sua hereditariedade.
Mas, não é difícil acabarmos aceitando que fazemos parte de um universo bem maior do que aquele em que vivemos conscientemente, que transcende à nossa experiência real. É um universo que desconhecemos, mas ao qual, sem dúvida, estamos intimamente ligados.
É importante aceitarmos essa possibilidade para:
- Refletir sobre algumas ações ou sentimentos impróprios que já vivenciamos nessas condições.
- Tentar definir o que nos levou a agir como agimos, com a proposição de se precaver para evitar.
Nem sempre nossos impulsos estão corretos e, nesse caso, para não nos arrependermos, eventualmente mudar o curso da vida que pretendemos manter, devemos agir comandados pela razão, e não pela força instintiva. Pode valer o inverso também.
‘Antes de reagir, controlar-se, avaliar previamente a correção da ação’.
Tomando medidas para evitar atos impulsivos
>> Examine fotos e imagens da natureza
Estudos apontam que quem recorre a esse recurso fica menos propenso a tomar decisões impulsivas. Fotos que incluam montanhas, florestas, praias etc. são úteis.
Ponha um cartão postal ou uma foto do seu ambiente natural favorito sobre ou próximo a um bloco de notas, ou à sua mesa de trabalho.
Antes de tomar uma decisão, faça uma pausa e reflita, enquanto encara a imagem do mundo natural. Assim, essa escolha provavelmente não será impulsiva.
>> Tire um Cochilo
Breves descansos ajudam a diminuir a impulsividade em adultos, segundo uma pesquisa publicada na Universidade de Michigan, nos Estados Unidos. O tempo de descanso estudado foi de 60 minutos. No entanto, você não precisa dormir por uma hora para se beneficiar dessa estratégia.
Cochilar também parece ajudar a manter as pessoas calmas, e menos frustradas, durante uma tarefa. Quem tem esse hábito fica mais propenso a manter o foco nas atividades que executa — até terminá-las.
Os benefícios do cochilo não se limitam às pessoas que não conseguem dormir 7-9 horas por noite. Todos os sujeitos do experimento conduzido na universidade os receberam.
>> Faça com que agir de modo impulsivo seja mais difícil
Estabelecer limites para si próprio o protegerá de atos e decisões impensados. Por exemplo: se não conseguir evitar falar tudo o que pensa, considere escrever todos os seus comentários e perguntas em um pedaço de papel, antes de expressá-los. Dessa forma, você pode ir deixando de fazer declarações impulsivas e inadequadas.
Se tiver o impulso de gastar demais, deixe seu cartão de crédito em casa quando for às compras; use dinheiro vivo.
Deixar suas decisões ‘em banho-maria’ por 24 horas, o ajudará a evitar compras impulsivas, além de dar a você uma chance de pensar se precisa mesmo desses itens.
>> Experimente praticar exercícios de respiração
Uma pesquisa da Universidade da Califórnia apontou que recorrer ao Sudarshan Kriya (programa de respiração baseado na yoga) gera uma redução significativa de comportamentos impulsivos entre adolescentes. Esse programa inclui quatro tipos básicos de movimentos:
- Respiração Vitoriosa (Ujjayi) - tipo de exercício lento e intencional em que o foco fica no momento em que o ar da respiração toca a garganta.
- Respiração de Fole (Bhastrika) - nesse exercício, o ar é forçado para fora das narinas e, depois, inspirado rapidamente. Essas ações devem ser repetidas 30 vezes por minuto.
- Repetir ‘Om’ três vezes seguidas, o que exige uma respiração estável e controlada.
- Respirar de modo rítmico (seja de forma lenta, média ou rápida).
Isso tudo ajudou Samuel a entender / aceitar o sentimento que sentiu no Super Mercado naquele dia, e a concluir que os impulsos são compulsórios, ao contrário das nossas ações. Ainda, serviu para reforçar o que ele já sabia:
‘Independentemente dos nossos instintos e sentimentos, somos responsáveis por nossos atos, e sempre sofreremos as consequências de tudo o que praticarmos’.
Fontes: Dvs | WikiHow
(JA, Nov19)