Quando desistimos de um
deixamos na mesa todo o dinheiro pago.
Em 2003, Celina
contratou um seguro de vida cuja mensalidade inicial, de R$ 114, foi sendo
reajustada ao longo dos anos e hoje, 16 anos depois, se aproxima dos R$ 600.
Boa parte desse acréscimo se
deve ao fato de terem, ela e o marido, beneficiário da apólice, completado 65 anos de
idade. Relevante informar que o valor atual da cobertura, de R$ 145 mil, não
aumentou na mesma proporção.
A mensalidade que antes cabia
no orçamento não cabe mais. Ambos estão aposentados, ganhando menos do que
ganhavam quando estavam na ativa. Por conta do aperto no orçamento foram
obrigados a substituir um plano de saúde amplo que pagaram por 25 anos por
outro, básico, com cobertura limitada à região onde residem.
Ela lamenta profundamente a
hipótese de cancelar mais um contrato depois de terem contribuído com muito
dinheiro, durante tanto tempo. De fato, não é uma decisão simples.
Para ajudar Celina a tomar a
decisão de manter ou não o seguro, sugeri uma volta ao passado para recordar o
que ela tinha em mente quando decidiu comprar o seguro, qual foi a intenção na
época, que risco ela queria proteger naquela fase da vida.
Muitas vezes contratamos o
seguro para proteger os filhos, ainda menores e dependentes financeiramente dos
pais, visando deixar algum dinheiro para ampará-los no caso da falta dos pais
provedores. Essa foi a motivação de Celina.
Com o passar dos anos a
situação familiar se transforma. Os filhos crescem, começam a trabalhar e ficam
independentes. Idealmente, o casal forma um patrimônio, consegue comprar e
pagar a casa própria, e acumula uma reserva financeira para a velhice.
Quando esse cenário acontece,
o risco que precisava ser protegido não existe mais, e manter o seguro pode
deixar de fazer sentido. Dependendo da estrutura familiar, independência
financeira de filhos, inexistência de outros dependentes, e patrimônio
suficiente para bancar a aposentadoria, pode ser sensata a hipótese do
cancelamento do contrato.
Importante entender a razão
de ter contratado o seguro para aliviar a sensação de perda, de desperdício, de
ter pago por uma coisa durante tanto tempo, e largar todo o dinheiro para trás,
caso optem pelo cancelamento do contrato.
Quando compramos seguro para
o carro, por exemplo, a situação é semelhante. Pagamos o prêmio do seguro para
nos proteger contra o risco de colisão ou roubo do veículo.
Decorrido um ano, agradecemos
que nada aconteceu, não usamos o seguro, mas não recebemos o dinheiro de volta.
Afinal, a seguradora, aceitou ficar com o risco que não queríamos, correu o
risco no nosso lugar e recebeu o prêmio para compensar o risco que assumiu.
Recomendei que Celina fizesse
essa reflexão, conversasse com marido e filhos para decidirem, em conjunto, o
que faz mais sentido para eles.
A pergunta-chave que eles
precisam responder é: 'Ainda precisamos dessa cobertura?' No caso da morte do
segurado?, R$ 145 mil resolvem o problema da família? Se a resposta for
positiva, procurem manter, desde que consigam encaixar o compromisso no
orçamento, sacrificando outras despesas, menos prioritárias.
Caso contrário, avaliem a
hipótese de encerrar o contrato, sem culpa, cientes de que foi bom enquanto
durou, enquanto foi necessário.
A família pode manter os
aportes mensais em aplicações financeiras, na medida em que o orçamento
permitir, e reforçar a reserva financeira necessária para complementar a renda
durante a aposentadoria, desfrutando dos recursos em vida.
Fonte: Marcia Dessen, Planejadora financeira CFP (Certified
Financial Planner), autora de ‘Finanças Pessoais: O Que Fazer com Meu Dinheiro’ |
FSP
(JA, Out19)