A santa baiana Irmã Dulce merece um
estudo de caso por parte de Harvard
No próximo domingo (13), na praça
do Vaticano, ocorrerá a canonização de Irmã Dulce, 1914-1992. Ela não é apenas a primeira santa brasileira, ela
é a primeira CEO brasileira a ser canonizada.
A ‘Organização Social Irmã
Dulce’ é o seu primeiro milagre. Franzina, saúde frágil – tinha sérios
problemas pulmonares - ela não tinha, a rigor, condições físicas de fazer nada,
nem de segurar um copo de água.
Mas seu hospital de mil
leitos, construído sabe Deus como, é obra do seu empreendedorismo. O hospital
começou num galinheiro nos fundos do convento, e hoje tem 40 mil m².
Os problemas respiratórios de
Irmã Dulce pioravam todo fim de mês. Um dos médicos que cuidou dela foi André
Guanaes, irmão de Nizan Guanaes. Ele
conta algo que sempre a escutava dizer, típico da situação de tantos CEOs no
Brasil: ‘Dia tal eu tenho 3 milhões para pagar; isso é problema de Santo Antônio;
isso não é meu problema; isso é um problema dele’.
O problema era de Santo
Antônio, mas era ela quem ia pedir a Antônio Carlos Magalhães, a Ângelo Calmon,
e a outros poderosos da Bahia e do Brasil.
Ela era santa com os pobres,
mas não era santa com os ricos. Com esses, ela era pragmática. Como uma boa CEO, conversava
com todo o mundo. Com a direita, com a esquerda, com o que está entre as duas e
além. Sua relação com o grande líder espírita da Bahia, o igualmente santo
Divaldo Franco, é maravilhosa. Foi, assim, maior que a igreja que agora a
canoniza.
Sua história vem desde seu
início no bairro pobre de Alagados, até os atuais 2 milhões de atendimentos
ambulatoriais, 18 mil internamentos e 12 mil cirurgias por ano. Como uma pessoa
que dormia sentada por causa dos problemas pulmonares pode tocar uma obra desse
tamanho? Milagre.
Tudo na Bahia era destinado a
ajudar as obras assistenciais de Irmã Dulce: bingo, quermesse, show. Era tudo
para ela pagar o seu fim de mês.
Nesse mesmo espírito, está
havendo uma iniciativa artística na Bahia para celebrar a santa. 77 artistas da
música baiana foram a estúdio gravar a música de Irmã Dulce. Ivete Sangalo,
Luís Caldas (que criou a música axé), Margareth Menezes (que vai cantar no Vaticano), e
dezenas de músicos talentosos gravaram com dedicação e disponibilidade
incomuns.
É difícil imaginar o que a
frágil Irmã Dulce passou para ampliar, modernizar e manter, a cada fim de mês,
seu hospital de mil leitos.
Uma obra dessa não se faz só
com bondade, mas com determinação, com disciplina, com empreendedorismo.
Ela era focada, cercou-se dos
melhores, aplicava orçamento base zero (era
uma Beto Sicupira de hábito), e tinha um
modo peculiar de levantar fundos: ficava na sala de espera do futuro doador, e
só saía de lá quando o próprio se dignava a recebê-la. O povo da Bahia é
testemunha.
Por isso, 15 mil baianos irão
a Roma no dia 13, assistir à sua canonização. E, no dia 20, Salvador vai
parar para ver a missa de sua canonização no Estádio da Fonte Nova.
Irmã Dulce não é uma santa
católica. Ela é uma santa baiana. São devotos dela a mãe de santo, o ateu, o
pastor e até o padre. Harvard Business School deveria escrever o estudo de caso
de Irmã Dulce, a primeira CEO brasileira a ser canonizada pelo Vaticano.
Fonte: Nizan Guanaes, empreendedor, fundador do Grupo
ABC |
FSP
(JA, Out19)