Origem
Anton era uma rapaz de cerca
de 17 anos, originário de uma família de classe média, morava com os pais, estudava
e sonhava poder um dia conseguir um bom emprego para ganhar o que fosse
necessário conseguir ascender socialmente em relação a seus pais, ser
independente, constituir uma família, enfim, progredir.
Na sua relação com colegas e
amigos era reservado, se posicionava em relação a todos os assuntos mas evitava
assumir a liderança de qualquer causa – no máximo apoiava, contribuía dentro de
suas possibilidades para o seu sucesso. Preocupava-se, principalmente, com a
escalada de violência, preconceito racial e de classe, dificuldade para grande
parte da população da sua cidade para ter acesso à educação, assistência
médica.
Começou a trabalhar aos 15
anos e conseguia, com seu salário, arcar com suas despesas básicas. A partir
daí, para viabilizar, passou a estudar no período noturno.
Não se considerava
prejudicado por dedicar praticamente todo o seu tempo em ganhar dinheiro para
subsistir, para estudar, investindo assim no próprio futuro. Pelo contrário.
Considerava-se satisfeito por poder fazer isso – muitos não conseguiam, e já
tinham o futuro comprometido pelas limitações, as atuais e, previsivelmente, as futuras.
Vivia feliz nesse sua rotina,
fazendo o que considerava o mais certo a fazer. Pés do chão, consciente que o
seu futuro estava sendo construído hoje, e que dependia dele, do resultado do
que fizesse, conseguisse superar, alcançar.
Parecia que sua vida estava
devidamente encaminhada. Entretanto, contrariando as expectativas, a sua rotina
seria quebrada, a sua vida sofreria uma grande mudança, tomaria um rumo
totalmente inesperado.
Percepção
Anton, logo após completar 18
anos, passou a perceber que o que falava, por algum motivo que escapava à sua
compreensão, era levado em conta e aceito pelos demais, ao contrário do que
acontecia antes, quando era ignorado, quando ninguém prestava atenção às suas
observações, sugestões, pedidos.
Testando essa facilidade
começou a pleitear coisas que vinham ao encontro de seus desejos, interesses e, surpreendentemente, era sempre atendido.
O que acontecia?
Escolheu e conquistou com
facilidade a namorada dos seus sonhos; seu blog passou a fazer sucesso e teve
um crescimento extraordinário, atraindo muitos e importantes anunciantes e,
consequentemente, alimentando substancialmente
sua conta bancária.
Observando do que estava
acontecendo na sua vida, seu sucesso inédito com as pessoas, com os negócios,
passou a tentar racionalizar, a definir o que estava acontecendo. Resolveu
dedicar um tempo para se auto avaliar, tentar definir traços do seu perfil que
pudessem estar contribuindo para isso. Começou
analisando como se sentia, pensava, e suas reações em diversas situações. O
resultado o levou a estabelecer dezessete traços do seu comportamento, personalidade,
que poderiam justificar o que estava acontecendo:
Diante dessas constatações, passou a prestar mais atenção no que
fazia – suas causas e efeitos, e nas pessoas com quem se
relacionava. Seu objetivo era utilizar da melhor forma possível esse
seu talento. Entretanto, contrariamente ao que pretendia, observou
que quanto mais observava, mais aumentava, ganhavam mais força.
Notou também que parte do que conseguia fazer, conseguia passar para aqueles que estivessem mais próximos, que começavam a pensar e a agir como ele. Pouco a pouco, foi atraindo seguidores, e todos ficavam esperando sua orientação sobre o que fazer, o próximo passo.
Tomou consciência de que havia se transformado em alguém
com muito poder. Como se comportar? Qual
seria o melhor caminho a seguir?
Considerando sua formação familiar, seus sentimentos, sua
preocupação com o social, legal, escolheu trilhar o caminho da Justiça.
Caminho
Prestou exame vestibular e conseguiu entrar e cursar -
no período noturno, pois trabalhava durante o dia- a Faculdade de Direito. Aos
23 anos se formou, especializou-se em crimes financeiros, passou a exercer a
profissão. O oportunamente, sete anos mais tarde, foi indicado a aceitou a
posição de juiz federal
A corrupção era, a seu ver, uma das causas da
estagnação do seu país, além de alimentar um costume arraigado na sociedade que
era o de levar vantagem em tudo, independentemente das consequências. Iria bater
de frente com um bando de bandidos espertalhões, que deveriam estar lutando
pela melhor qualidade de vida da população, e não como
acontecia. Eles procuravam apenas buscar facilidades e, gananciosamente, usufruir
da riqueza fácil, benefícios e prazeres.
Como juiz federal trabalhou em casos relevantes,
principalmente relacionados com órgãos públicos, e que mereceram destaque na
imprensa nacional, Isso o fez se aproximar dos mandatários da Suprema Corte do
país.
Anton ganhou enorme notoriedade nacional e
internacional por comandar julgamento em primeira instância dos crimes
identificados como sendo o maior caso de
corrupção e lavagem de dinheiro já apurado no país, envolvendo grande número de
políticos, empreiteiros e empresas.
Legado
Seus admiradores e seguidores eram cada vez mais
numerosos. Organizaram-se em grupos representativos - um em cada estado da União. Tinham como propósito apoiá-lo e ajudar remover a herança
cultural que levava o povo a considerar a desonestidade como sendo aceitável,
normal.
Levantavam a bandeira ‘Anticorrupção’, e passaram a exigir cada
vez maior atitude de seu líder nesse
sentido. Nesse período, sua candidatura à Presidência
do país foi aventada em diversas ocasiões, mas Anton, agora casado com dois filhos, e
ainda sem entender direito quem ele era, não pretendia seguir esse caminho.
Continuou sua tarefa de desbaratar quadrilhas, colocar
os culpados em julgamento, e contribuir com fatos e evidências que ajudasse a
condená-los, conforme o caso.
Seguindo esse propósito fez inúmeros inimigos que, se
se fosse possível, ficariam felizes com a sua eliminação. Várias vezes foi alvo
de ações criminosas que tentavam incriminá-lo, macular a sua honra. Entretanto,
devido à retidão de suas ações e palavras, sempre conseguiu se sair bem dessas
situações. Por outro lado, consciente do risco que corria, procurava andar bem protegido, e evitar exposições
desnecessárias.
Algumas de suas decisões suscitaram polêmicas por
contrariarem inúmeros interesses. Porém, elas foram quase que totalmente
confirmadas por todas as instâncias superiores do judiciário, do Tribunal
Regional Federal ao Supremo Tribunal Federal. Em dois anos, por exemplo, dos
453 recursos das defesas em instâncias superiores, apenas 22 deles tiveram
decisões favoráveis às defesas, isto é, 95,2% das suas decisões foram mantidas.
Sua vida e missão, amplamente divulgados pela mídia,
fez com que seu exemplo frutificasse e servisse de modelo para a população,
principalmente para a ala mais jovem, que, pouco a pouco, deixou de aceitar a
desonestidade como padrão, muito pelo contrário.
Entretanto, Anton ainda se questionava sobre o seu
dom:
¾
Havia feito, estava fazendo, tudo o que deveria?
¾ As pessoas que estavam mais próximas a ele, aceitavam, admiravam, quem
ele era de fato, ou o que/quem ele representava?
Ele nunca conseguiu responder
a essas questões.
Num novo governo do seu país foi
convidado e aceitou, ser Ministro da Justiça. Continuou nessa função até o fim
do mandato, sempre lutando pela causa que elegera, além do aumento da eficácia
do sistema penal, pela maior rapidez do julgamento e punição dos culpados.
Embora tenha sido grande a
sua contribuição para a causa, ela não foi suficiente para conquistar uma
vitória definitiva. Havia necessidade de manter acesa a luz que iluminou o seu
caminho. E assim foi. Seus inúmeros seguidores, continuaram, mantiveram o seu
propósito de vida e, ao longo dos anos seguintes, os resultados começaram a
aparecer ganhar cada vez mais significado.
A mudança de mentalidade
passou a se tornar evidente, e esse foi o início de uma nova era, uma era onde
o dinheiro público era aplicado para o bem público. E o povo, desde a população
mais simples, passou a ter atendidas normalmente suas necessidades básicas - Segurança,
Saúde, Educação. Moradia e Trabalho.
O futuro fora redefinido no
sentido do bem, da prosperidade. Os dons misteriosos de Anton frutificaram, sua
vida teve importante significado e, quem ele era, diante daquilo ou daquele que
representou, não fazia mais diferença.
"A lei não deve existir apenas para
preservar a ordem reinante, proteger a propriedade, regular as relações sociais
e garantir os privilégios estabelecidos. Além disso, tem outra função, a
transformadora, que é servir de instrumento para a distribuição mais justa de direitos
e oportunidades, de modo a compensar o desequilíbrio de forças entre os grupos
mais fortes e os menos favorecidos da sociedade."
Este texto lançou um conceito
totalmente novo nas leis brasileiras, o de justiça social, que se tornaria um
paradigma nos debates nacionais, principalmente a partir do século XX. É um
resumo parcial das ideias de José Bonifácio de Andrada e Silva, em
correspondência enviada a bancada paulista que representava o Brasil nas cortes
portuguesas, em 1821.
Reconhecimento
Durante a sua carreira
profissional, até o fim da vida, Anton recebeu várias comendas e homenagens,
sendo frequentemente convidado a fazer palestras em instituições de renome, tanto no seu país como fora
dele. Sempre que tinha oportunidade, relatava
seus objetivos, seu trabalho, resultados. Era uma prova viva da possibilidade de
superação de paradigmas estabelecidos.
‘A superação sempre é possível – basta estar
preparado, ter um sonho e atitude para ultrapassar a realidade atual e criar o futuro
desejado.’
(JA, Jun19)