Identificar a motivação de Bolsonaro
para seus atos é uma tarefa desafiadora
‘Apesar de isso ser loucura,
há método nela’, escreveu Shakespeare. Quando se trata de Jair Bolsonaro, não
temos muita dificuldade em identificar as loucuras. Mas, encontrar um método
nelas é tarefa das mais desafiadoras.
O presidente atira para todos
os lados.
Ele
representa a direita nacionalista, dirão alguns
O presidente Jair Bolsonaro durante cerimônia na Casa Rosada, em Buenos Aires |
Não duvido. Bolsonaro
inscreveu o ‘Brasil acima de tudo’ em seu dístico de campanha, ameaçou tirar o
país de tratados internacionais, desconfia dos chineses e tem fixação pelo
nióbio. Mas ele agora está falando em adotar uma moeda comum para o Mercosul,
ideia das mais internacionalistas, que deveria causar arrepios em qualquer
nacionalista legítimo.
Ele é um
punitivista reacionário, proclamarão outros
De novo, a observação faz
sentido. Bolsonaro acaba de vetar a única parte decente da nova lei sobre
drogas, que permitiria a redução de até dois terços da pena para pequenos
traficantes. Mas, quando tratou de trânsito, o presidente revelou-se um
verdadeiro anarcolibertário, disposto a apagar qualquer traço de autoritarismo
da lei.
Bolsonaro não está só.
Gostamos de nos imaginar como seres coerentes que agem segundo princípios, mas
não é o que se vê na prática. Até os blocos ideológicos, que deveriam guiar-se
por ideias unificadoras, parecem ser incapazes de fazê-lo.
É de direita
ou de esquerda?
A liberação do aborto e das
drogas, e a condenação à pena de morte e ao porte de armas são bandeiras caras
à esquerda, por exemplo. Já a direita sustenta exatamente o contrário.
Conciliar ambos os conjuntos
de posições com uma narrativa linear exige ginástica mental. Se é o princípio
da sacralidade da vida que prepondera, deveríamos ser contra os quatro pontos.
Já a defesa intransigente da autonomia individual, recomendaria a aprovação de
todos.
O que torna Bolsonaro um caso
único é que ele não parece obedecer nem a princípios, nem a alinhamentos
históricos, e nem ao oportunismo. Suas posições podem ser descritas como a
resultante do caos.
Fonte: Hélio Schwartsman |
FSP
(JA, Jun19)
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