‘Diga-me
com quem tu andas e eu direi quem tu és.’
Alfredo era um
homem com cerca de 60 anos. Recém aposentado, agora com mais tempo disponível,
mexendo em seu computar descobriu que havia uma forma de encontrar com mais
facilidade o que precisasse na sua lista de contatos cadastrados. Para tanto, ele
deveria identificar cada um deles, além de pelo nome, também pela indicação da
origem da sua relação, através de marcadores chamados ‘Bandeiras’ .
Considerando a
vantagem que teria ter seus contatos reunidos por grupos afins, resolveu fazer isso. Após ter começado, sentiu a dificuldade – sua
lista tinha cerca de 2000 ‘nomes’,
colecionados durante o período de, pelo menos, três décadas. Cada nome tinha a indicação dos contatos
feitos, do que foi feito e quando, e dos resultados atingidos. Independentemente
da dificuldade, foi à luta. Começou pela letra ‘A’, e seguiu em ordem
crescente.
Com a prática,
foi aperfeiçoando o cadastramento, simplificando ou incorporando novas ‘Bandeiras’
, tudo visando atender ao objetivo.
Durante o processos
se deparou com contatos mais significativos; com outros que foram meros figurantes,
coadjuvantes ou simplesmente burocráticos. Outros que ele nem se recordava mais
porque os havia cadastrado; alguns que já
haviam falecido - que identificou
como ‘Descontinuado’, como se diz atualmente para os produtos que
saíram de linha.
Mais ou menos
no meio do trabalho, ele se conscientizou, lhe ‘caiu a ficha’, como se diz, de que
aqueles nomes todos que haviam orbitado em sua vida, de uma forma ou de outra, contribuíram
para ela ter sido o que foi, e para
ele ser quem se tornou.
Essa reflexão
o levou a valorizar algo que até então lhe havia passado despercebido. Percebeu
a importância da influência daqueles com os quais nos relacionamos. Somos,
podemos dizer, o resultado desses relacionamentos, da soma dos momentos
compartilhados, e de tudo aquilo que eles significaram para nós: inspiração, força,
coragem, amor, ódio, compaixão, inveja, barreira, conhecimento, confiança, bondade, mentira,...
Essa conscientização,
embora que tardia –sim porque essa frase ‘Dize-me com quem andas e eu te direi quem
és’ tem fundamento bíblico-, levou Alfredo a rever todos os seus
relacionamentos atuais. E, principalmente daí em diante, a estimular os
positivos e a evitar os negativos.
No finalmente,
Alfredo, tendo classificado todos os seus contatos, e revisto o que cada um
significou, acabou por visualizar com
mais clareza as diversas etapas da sua vida, e o que elas representaram então para
ele, e depois, no conjunto da obra.
A soma de
todas essas etapas resultou no que ele chamou de ‘Edifício da Vida’. Cada andar uma etapa
percorrida – todo esforço dispendido, sucesso ou frustração, sentimentos
vividos, ...tudo estava ali representado.
E, ao olhar
para ele Alfredo sentiu orgulho. Orgulho por ter participado daquela
construção, independentemente de qualquer coisa, e por tudo o que ela
representou e representa, para ele mesmo, para os seus, e para a sociedade.
Refletiu que
todos, desde jovens, deveriam ser estimulados e orientados para definir e
construir o ‘Edifício Ideal’ da sua vida. Assim, eles poderiam saber porque
estavam fazendo o que faziam no presente e, lá na frente, poder olhá-lo e
sentir o que Alfredo passou a sentir - sentia que valeu o esforço dedicado.
A partir daí,
a vida de Alfredo adquiriu mais sentido, brilho. Ficou mais leve e prazerosa, apesar dos
eventuais e inevitáveis tropeços, e do tempo passado.
(JA, Abr18)