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Palestina antes do nascimento de Israel

Território era habitado por milhares de pessoas nos séculos 19 e 20, e registrava o 'renascimento árabe'

 

Rua em Jerusalém entre 1911 e 1917

‘Uma terra sem povo para um povo sem uma terra’.

O slogan foi repetido à exaustão, ao longo do século 20, pelo movimento sionista, e pelos apoiadores do sionismo, para mobilizar a imigração judaica à Palestina. As fotografias do arquivo do Library of Congress Eric and Edith Matson, tiradas entre 1898 e 1946, e fornecidas ao Público pelo Palestine Photo Project, contam, no entanto, uma história diferente.

A Palestina era, nos séculos 19 e 20, antes do nascimento do Estado de Israel, em 1948, um território habitado por centenas de milhares de pessoas, e vivia, segundo a Enciclopédia Britânica, ‘um renascimento árabe’.

A localização da Palestina a tornava um local estratégico do ponto de vista comercial. A partir dos portos de Gaza e Jaffa, importações e exportações ocorriam com países dos continentes africano, europeu e asiático. Havia também ligações ferroviárias com outras zonas do Império Otomano. As imagens que compõem a galeria mostram o cotidiano da Palestina dessa época e levantam o véu sobre a história que está por detrás do nascimento do Estado de Israel.

Entre 1516 e 1917, o território da Palestina integrou o Império Otomano, que, durante a Primeira Guerra Mundial, entre 1914 e 1918, se alinhou às potências centrais do eixo que saiu derrotado do conflito.

Na sequência da vitória, dois dos países dos Aliados, França e Reino Unido, com a concordância da Rússia, assinaram um acordo secreto, em 1916, intitulado Sykes-Picot, que determinava que parte do território do Império Otomano, seria desmembrado no pós-guerra, e ficaria sob a administração francesa e britânica.

Nesse acordo, foi determinado que a Palestina, devido à presença de locais sagrados para cristãos, muçulmanos e judeus, deveria ser governada por um regime internacional. As administrações dos territórios ‘conquistados’ pelos Aliados apenas souberam das resoluções do acordo por ocasião de sua publicação, sem que tivessem tido a oportunidade de se pronunciar a favor ou contra.

Em 1917, o Reino Unido decidiu violar o acordo Sykes-Picot e, unilateralmente, por meio da Declaração de Balfour, determinar que o território da Palestina deveria ficar sob o seu comando, e tornar-se ‘o Lar Nacional para o Povo Judeu’, prometendo empregar ‘os seus melhores esforços no sentido de facilitar a realização deste fim’.

Mais uma vez, a população não foi consultada ou chegou a qualquer acordo com o Reino Unido. A Declaração de Balfour estipulava, especificamente, ‘que nada seria feito que pudesse prejudicar os direitos civis ou religiosos das comunidades não judaicas preexistentes na Palestina’, embora não se referisse a essas comunidades pelo nome, ou aludisse aos direitos políticos ou nacionais delas.

Assim, o Reino Unido tomou as rédeas do poder na Palestina, no pós-guerra, assumindo o papel de facilitador da imigração da comunidade judaica para a região, como havia prometido. Antes da chegada dos britânicos, a esmagadora maioria da população era árabe, mas já existia uma comunidade de judeus na Palestina, ainda que expressivamente minoritária, correspondendo, dependendo das fontes, entre 5% e 8% da população.

Algumas estimativas apontam para cerca de 50 mil judeus vivendo na Palestina em 1918, cerca de 10% de uma população composta por 500 mil árabes, de acordo com o site das Nações Unidas. Mas, a partir da vigência do controle britânico, a imigração judaica se intensificou. Em paralelo, em 1920, a Liga das Nações tornou oficial o governo britânico da Palestina e, no mesmo ano, os britânicos tornaram o hebraico uma das línguas oficiais da região.

Na década de 1930, o número de judeus que chegaram na Palestina aumentou significativamente –fenômeno intensificado pela perseguição e extermínio sistemático dos judeus na Europa central, nomeadamente com a chegada de Hitler ao poder da Alemanha, em 1933.

Apenas no ano de 1935 chegaram à Palestina cerca de 62 mil judeus. Nos dois anos anteriores, tinham chegado um total de 72 mil. Em 1937, de acordo com as Nações Unidas, a população judaica era de 400 mil e, dez anos depois, atingiu 625 mil. Segundo a Britânica, havia, em 1946, na Palestina, 1,2 milhão de árabes, e 678 mil judeus. Eram apenas 50 mil os judeus morando na Palestina em 1918 – o que corresponde a um crescimento de 1350% da população judaica, num período de cerca de 25 anos. À medida que chegavam, os imigrantes judeus foram construindo novos centros urbanos na Palestina.

 

A resistência à chegada de mais imigrantes judeus intensificou-se nesse período, entre a população árabe da Palestina, e, em 1933 se tornaram frequentes manifestações em oposição à imigração, e que pediam o fim do mandato britânico. As autoridades reprimiam essas manifestações violentamente.

Num dos protestos, no ano de 1935, em Jaffa, o então presidente do município de Jerusalém’ Musa Qassem al-Husseini, então com 83 anos, foi espancado pelas autoridades britânicas, e morreu em decorrência dos ferimentos, o que gerou ainda maior revolta entre a população árabe.

Essa indignação viria a dar origem à Revolta Árabe, em 1936, uma série de manifestações e greves que desembocaram em fortes ofensivas árabes e repressão britânica. Entre 1936 e 1939, a Palestina esteve em guerra civil. A Britânica refere que, na sequência desta revolta, ‘pela primeira vez, um órgão oficial britânico falou abertamente sobre a formação de um estado judaico’.

Os britânicos estabeleceram, desde o início do seu mandato, limitações para a imigração de população judaica à Palestina, temendo que a situação se tornasse incontrolável devido à forte resistência árabe. Mesmo após a tomada de poder de Adolf Hitler, na Alemanha, a administração britânica manteve essa política, conduzindo à revolta das comunidades judaicas, e dos seus braços paramilitares Haganah e Irgun, contra o governo.

‘O Haganah resistiu a atacar os britânicos enquanto combatia contra a Alemanha nazi. Mas, os seus guerrilheiros se uniram ao Irgun, e levaram a cabo vários ataques contra os britânicos’, diz trecho de texto no site do National Army Museum do Reino Unido. Em 22 de julho de 1946, o Irgun fez explodir parte do hotel King David, em Jerusalém, uma das sedes da administração britânica na Palestina, matando mais de 90 pessoas e ferindo mais de 40.

Em meados de 1940, tanto árabes como judeus se opunham, por diferentes razões, ao mandato britânico na Palestina. ‘Sionistas pressionavam para aumentar a imigração, e levavam a cabo ataques ao governo, e os estados árabes se mobilizaram em resposta’, contextualiza a Britânica.

‘A Segunda Guerra Mundial tinha tornado o Reino Unido vitorioso, mas exausto. A resolução britânica de permanecer no Oriente Médio entrava em colapso’.

Em 1947, o presidente norte-americano Harry S. Truman declarou, contra o interesse britânico, o seu apoio à ideia da criação de Israel; no ano seguinte, a ‘solução de dois estados’ seria levada a votação na recém-criada Organização das Nações Unidas.

Em 1948, o Reino Unido abandonava a Palestina. No mesmo ano, as Nações Unidas partiam o território em dois e nascia Israel. Os palestinianos se opuseram ao acordo que foi, novamente, unilateral.

 

A resistência árabe ao novo Estado israelense, em 1948, deu origem a um conflito armado, e ao ‘deslocamento e expropriação em massa’ dos palestinianos –entre 600 e 700 mil pessoas foram forçadas, sob ameaça de violência israelita, a abandonar as suas aldeias e as suas casas, e a encontrar refúgio na Cisjordânia, na Faixa de Gaza, ou em países vizinhos.

O site My Jewish Learning refere que nos três anos e meio que se seguiram à fundação de Israel, 688 mil pessoas imigraram para a região, uma média de 230 mil por ano, ‘o que se traduziu numa duplicação da população’.

A Jewish Virtual Library escreve que, em setembro de 2023, a população de Israel é de 9,8 milhões de pessoas (sendo que nem toda é judaica), dez vezes mais do que a que existia em 1948, quando o Estado foi fundado.

Em 2022, o jornal israelense Haaretz dava conta que existem, no mundo, 15,2 milhões de judeus, e que 6,9 milhões vivem em Israel.

Presentemente, Israel ocupa, à revelia da lei internacional, que lhe destinou 55% do território em 1947, mais de 20 mil quilômetros quadrados de terra (76% do território); aos palestinos cabe residir numa área de 6 mil quilômetros quadrados (24%), em Gaza, e na Cisjordânia.

Mais de 70 anos depois, Israel continua a não permitir que os refugiados regressem às suas terras, às suas casas, violando o que a ONU considera ser um direito humano fundamental. Em consequência, mais de cinco milhões de palestinos vivem, atualmente, dispersos por vários países do Oriente Médio e do mundo.

Em Israel, nos dias de hoje, ‘os palestinos continuam a ser expropriados e deslocados pelos colonatos israelitas, por despejos, confisco de terras, e demolições’, escreve a ONU.

A Palestina é, hoje, um ‘Estado Observador’, não reconhecido pela maioria dos países do Ocidente.

 

      

 

Fonte: Ana Marques Maia | FSP

 

(JA, Out23)

 

 


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