Amizade (do termo latino vulgar amicitate) é uma relação afetiva entre duas pessoas, a princípio sem características romântico-sexuais. Em sentido amplo, é um relacionamento humano, que envolve conhecimento mútuo e afeição, além de lealdade ao ponto do altruísmo
Em sentido mais estrito, são
chamados de amigos aquelas pessoas com quem se costuma realizar atividades
recreativas, tais como desportos, jogos diversos, sair à noite; ou no contexto
dos adolescentes, aqueles com os quais se dão melhor na escola.
Muitos apontam nisso uma
confusão entre o conceito de ‘amigo’ e o de ‘colega’, este sim um tipo de
pessoa com o qual não há fortes laços de companheirismo, apenas interesses
afins.
Outro dia tentei me lembrar fatos,
amigos e colegas nas diferentes fases da minha vida.
Infância
Não consegui me lembrar de
nenhum amigo da infância.
Algumas brincadeiras daquela
época, passados mais de 70 anos, guardo até hoje na memória. Empinava ‘pipa’ e,
quando chegava hora de ir para escola, cortava a linha e ia me preparar. Não me
importava por perder a linha e a pipa porque a minha tia, que morava conosco,
era costureira e me dava suas linhas velhas. Mesmo que eu tentasse recolher a
pipa, não iria dar certo – a linha não iria suportar o esforço que seria
necessário para recolher. Quando ia para a escola, de bonde, ficava olhando
para fora, procurando a pipa na área onde poderia ter caído – nunca achei.
Quando fiquei um pouco mais
velho, lembro-me de algum dos meus colegas, mas não de seus nomes. Um deles era
treinado pelo seu pai para lutar boxe, e convidava os amigos para lutar com
ele. Um dia eu aceitei. Quando percebi que iria levar um soco, ao invés de me
defender com as mãos, instintivamente rolei no chão contra as pernas dele,
derrubando-o. Não levei o soco, mas nunca mais fui convidado para lutar.
Num doutro dia, desentendi-me
com o grandão da turma. Ele me ameaçou, fugi, e ele começou correr atrás de
mim. Instintivamente rolei no chão indo de encontro aos seus pés, e ele caiu. Ficou
assustado com o tombo, e, eventualmente tenha se machucado. Pelo que me lembro,
ficou por isso mesmo.
Nessa época, num determinado
período, resolvi vender as revistas em quadrinhos usadas que eu tinha para
poder comprar outras, que eram vendidas num empório próximo. Fiz uma banquinha
na frente de minha casa e expus minhas revistas. Não deu
certo – ninguém nunca comprou nada.
Adolescência
Embora tenha estudado por cerca de três anos em um colégio interno, em
Nova Friburgo-RJ. no início da adolescência, não formei lá nenhuma
amizade especial. Tive muitos colegas.
Quando voltei para São Paulo,
participei de um grupo de amigos que jogava Futebol de Salão todo sábado pela
manhã. Viajamos juntos algumas vezes. Éramos bons amigos, mas, com a conclusão
do curso (antigo Colegial), fomos nos afastando. Atualmente não mantemos mais
contato.
Fase Adulta
Comecei a trabalhar antes de concluir a faculdade de Administração. Quando estava trabalhando num banco americano, conheci algumas pessoas que admirava. Elas trabalhavam num setor que me chamou a atenção pelo tipo de trabalho (Organização & Métodos), e importância para a empresa. Tentei transferência para lá, mas sem sucesso.
Um dos colegas da faculdade
trabalhava nessa atividade, numa empresa da área comercial, e, depois de muito
insistir, consegui através dele ser contratado para trabalhar lá. Esse mesmo
amigo me levou, anos mais tarde, para trabalhar numa outra empresa (uma montadora de veículos, de origem alemã), onde fiquei por cerca de 16 anos. Lá fiz
amizade com uma pessoa que, ao sair, convidou-me para trabalhar com ele na área
da educação. Fui, e acabei ficando nessa empresa por 24 anos, até me
aposentar.
Durante minha vida
profissional fiz vários amigos, mas, com o passar do tempo, fui perdendo
contato com todos eles.
Velhice
Os amigos que ainda mantenho
na minha velhice, são pessoas que conheci já no final da minha fase adulta.
Sei que, se precisar, posso
contar com eles, e vice-versa, mas é só. Mantemos contato esporádico, mas não
muito frequente.
A verdade é que vamos nos
tornando cada vez mais limitados para poder manter de uma vida social ativa. Nosso
corpo apresenta deficiências cada vez maiores: dor aqui e ali, dificuldade para se movimentar, ouvir, enxergar... Além disso, as limitações financeiras são maiores e preocupantes,
pois, normalmente, já não estamos mais podendo participar do mercado de trabalho,
aumentar a receita como necessário, e as despesas não param de aumentar.
Conclusão
O fato é que não damos muito
valor às nossas amizades, enquanto elas existem. E, por conta disso, há um
afastamento gradual, que acaba por se tornar efetivo.
Na juventude isso ocorre
porque temos uma vida em constante transformação, havendo sempre possibilidade
de novos relacionamentos.
Na fase adulta nos concentramos
naqueles que tem a ver, podem influenciar, nossa vida pessoal e profissional.
Na velhice, pouco a pouco
vamos restringindo nosso relacionamento àqueles que nos são próximos, aqueles
por quem nos sentimos ligados, responsáveis, que temos interesse em ajudar, e àqueles que
conhecem nossas carências e se prontificam a colaborar para que possamos
superá-las, suportá-las.
Entretanto, nos mais velhos,
o isolamento natural é muito inconveniente
Inquéritos populacionais com
participantes saudáveis demonstram que quanto mais abrangentes as relações
sociais, maior a longevidade. Ao contrário, solidão e isolamento aumentam o
número de mortes precoces. Além disso, têm relação direta com a velocidade do
declínio cognitivo, e com o aumento do risco de demência.
Diversas publicações calcularam que isolamento e solidão duplicam o risco de desenvolver depressão e ansiedade. A convivência com um círculo maior de amizades reduz em 15% o risco de depressão e ansiedade em quem passou por experiências traumáticas.
(JA, Jul23)