Quando abrimos ao meio um pãozinho alongado e o recheamos com uma salsicha cozida na água ou grelhada, preparamos um dos melhores sanduíches do mundo: o cachorro-quente, também conhecido pelo anglicismo hot dog.
O molho pode ser clássico, de
mostarda e ketchup, ou incrementado, com direito em alguns casos ao status
gourmet.
Dependendo do país ou região
onde é feito, o sanduíche aceita maionese, molho de tomate acebolado,
vinagrete, picles, pimentão, cebola, chilli, batata-palha, purê de batata,
salpicão, beterraba, abacaxi, mel, pepino, ervilha, milho, bacon, creme rosé ou
de alho, carne moída, requeijão, queijo cheddar, parmesão ralado, farofa, e ufa!
Obviamente, a combinação desses ingredientes ainda varia conforme o gosto
pessoal.
Origem
Onde surgiu o
cachorro-quente? Nos Estados Unidos, é claro. Trata-se de um sanduíche que tem
a ver com os gostos e hábitos alimentares do seu povo.
Há versões diferentes para
sua invenção, porém sempre envolvem os imigrantes alemães que introduziram nos
Estados Unidos a salsicha germânica Frankfurt, a primeira a ser usada no
sanduíche. Leva as carnes bovina e suína, toucinho, pimenta e outros temperos.
Depois, preferiu-se a Viena, de origem austríaca, com a mesma composição. Qual
a diferença entre ambas? A Frankfurt incorpora mais condimentos. Hoje, porém,
existe a salsicha apropriada para o sanduíche, vendida com o nome de Hot Dog,
com preço mais em conta, por ser elaborada com os cortes mais baratos das
carnes do boi e do porco, ou do frango (galinha
e peru), além de miúdos suínos, proteína
de soja etc. As três são submetidas a rigorosos controles sanitários.
Há versões diferentes para a
invenção do cachorro-quente, todas envolvendo imigrantes alemães que escolheram
os Estados Unidos para viver. Os norte-americanos, porém, tendem a aceitar que
o sanduíche foi criado na cidade de Saint Louis, em 1904, pelo
igualmente alemão Anton Feuchtwanger, vendedor ambulante de salsichas. Ele as
entregava quentíssimas aos clientes. Para não queimarem as mãos, oferecia-lhes
luvas de algodão. Entretanto, muitos esqueciam de devolver a proteção e assim
davam prejuízo. Aconselhado pelo cunhado padeiro, Feuchtwanger trocou as luvas
por pãezinhos cortados ao meio. Passou a ser conhecido como o pai do
cachorro-quente.
Os norte-americanos se renderam
ao sanduíche por ser um lanche rápido, capaz de substituir a refeição convencional
quando estão com pressa; nas visitas aos parques arborizados; nos passeios aos
zoológicos; e, sobretudo, nos jogos de futebol americano ou beisebol. Tem sido
assim desde a invenção do sanduíche. Aliás, sustentam que o hot dog foi
batizado durante um jogo dos New York Giants, um time de futebol
norte-americano da maior cidade do país. Como fazia muito frio, um cidadão
chamado Harry Stevens não conseguia vender aos torcedores os sorvetes e
refrigerantes que estocara para a ocasião. Então, arrematou todas as salsichas
e pães das redondezas, e mandou seus empregados oferecerem o sanduíche pelo
estádio. Saiu tudo.
O cartunista Tad Dorgan, do ‘The
New York Journal’, que assistia à partida na cabine de imprensa, divertiu-se
com a cena. Ele costumava fazer caricaturas dos imigrantes alemães, gente
simples que falava mal o inglês, e ganhava a vida vendendo salsichas Frankfurt,
que muitos julgavam levar carne gastronomicamente inferior, ou seja, de
cachorro. Brincando com essa lenda, Dorgan desenhou um cãozinho bassê entre
duas fatias de pão. O animal foi retratado latindo, coberto de mostarda, e com
esta legenda: ‘Pegue o seu cachorro-quente!’ O cartum viralizou e consagrou o
sanduíche.
Mais tarde, duvidou-se em
Nova York da higiene do preparo do hot dog nas ruas. Muitas pessoas deixaram de
consumi-lo com medo de doenças. Aí entrou em cena o comerciante Nathan
Handwerker, ex-empregado do Feltman’s German Beer Gardens, que adotou uma
estratégia inteligente para demonstrar as perfeitas condições sanitárias do seu
sanduíche. Começou a oferecê-lo de graça aos médicos de um hospital vizinho,
desde que aparecessem usando o uniforme profissional. Daquele modo, avalizavam
a sanidade do produto. Hoje, os norte-americanos comem em média 20 bilhões de
hot dogs por ano, sendo 26 milhões durante os campeonatos de futebol no país.
No Brasil
No Brasil, o cachorro-quente
foi lançado em 1926 pelo empresário valenciano Francisco Serrador, pai da
Cinelândia, no Rio de Janeiro. Ele colocou a novidade à venda na entrada dos
seus cinemas. Mas o sanduíche só deslanchou em vendas a partir de 1945, depois da
Segunda Guerra Mundial, quando o Brasil sofreu avassaladora influência da
cultura norte-americana. Tudo o que vinha dos Estados Unidos era considerado
bom e bonito. A novidade inspirou o compositor carioca Lamartine Babo a gravar,
em 1928, a marchinha carnavalesca ‘Cachorro-Quente’:
‘Comer/ Cachorro-quente lá no bar/ Por certo a moda vai pegar/ Por não ser vulgar... /Comer/ Vai toda a gente ao quarteirão/ Pois há linguiça em profusão/ Pra comer com pão.../ Que bom lamber.../ Trincar... Comer.../ Um cachorrinho tentador/ No Quarteirão do Serrador/ Comer/ É bem melhor do que beber, / Pois dá sustância e faz crescer/ Todo e qualquer ser... / Comer/ É verbo bom de conjugar/ Quando queremos conquistar/ Um ‘pirão’ no bar...’
https://www.ouvirmusica.com.br/lamartine-babo/cachorro-quente/
Completamente globalizado,
como está em moda dizer, o apetitoso sanduíche hoje só é suplantado em
popularidade pelo também norte-americano hambúrguer – e, infelizmente, perde de
longe.
Apesar do nome de aparência
grosseira, com a qual nos acostumamos, passando inclusive a gostar dela, o
cachorro-quente não atemoriza ninguém. O mundo o saboreia com gana canina.
Receita
preparada em São Paulo-SP, pelo chef Bruno Fischetti
Rendimento:
1
porção
1 salsicha Frankfurt
1 pão de cachorro-quente
1 colher (sopa) de mostarda escura
1 colher (sopa) de chucrute
1 pitada de sal
Preparo
1. Em uma panela com água fervente
coloque a salsicha e cozinhe-a em fogo baixo por cerca de 5 minutos ou até
ficar pronta. Retire e escorra.
2. Em uma frigideira esquente a
salsicha, virando-a seguidamente até ficar dourada, com aparência de frita.
3. Abra o pão no sentido do
comprimento e deposite dentro a salsicha.
4. Distribua em cima a mostarda
escura e o chucrute.
5. Ajuste o sal e sirva em seguida.
Fonte: A. C. Dias Lopes
(JA, Jul22)