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Rússia x Ucrânia

Guernica, Pablo Picasso, 1881-1973

Na Guerra Civil Espanhola, voando em apoio ao General Franco, aviões da Alemanha nazista arrasaram a cidadezinha de Guernica. Ante a indignação internacional, os franquistas propalaram que não houvera massacre: fora mero embuste arquitetado pelos republicanos. Amplamente desmentida, a patacoada franquista caiu no ridículo. Mas quem melhor conscientizou o mundo para o acontecido não foram pesquisadores, e sim Picasso, com seu célebre quadro.

Agora, são Putin e companhia que tentam tapar o sol com a peneira. O Kremlin está processando o jornalista russo Aleksandr Nevzorov, hoje exilado, por retransmitir notícia do bombardeio da maternidade em Mariupol. A versão oficial ˗ já desprezada como a de Franco em Guernica ˗ foi que se tratara de encenação ucraniana. Provavelmente, dirão o mesmo do bombardeio do teatro que abrigava civis desalojados.

Já são numerosos os jornalistas russos que deixaram os empregos, e até o país, inconformados com as lorotas oficiais. Na TV estatal, foram quatro ou mais. Como Marina Ovxyannikova, aquela que interrompeu o noticiário do Canal 1, onde trabalhava, com o cartaz ‘Aqui, estão mentindo para você’.

Falando na sede parisiense de ‘Repórteres Sem Fronteiras’, Zhanna Agalakova, ex-correspondente do Canal 1, assim qualificou a versão oficial de que as tropas russas foram à Ucrânia combater nazistas: ‘Jogada fraudulenta e desavergonhada!’. Segundo tal versão, a Ucrânia seria nazista, pouco importando que tenha presidente judeu (neto de oficial do Exército Vermelho que foi condecorado na luta contra os nazistas, e com parentes vitimados no Holocausto) nem que a extrema-direita não tenha conseguido emplacar nenhum parlamentar na última eleição.

Ainda segundo o Kremlin, haveria genocídio no leste da Ucrânia. Mas a Human Rights Watch, defensora internacional de direitos humanos, não confirma o tal ‘genocídio’ ˗ para ela, existem realmente abusos, até crimes, mas são de parte a parte.

Após a invasão, o governo russo fechou a Eco de Moscou, rádio de linha liberal, e bloqueou o acesso ao Facebook, Instagram e outros ‘sites’. A TV Rain, canal independente, saiu do ar para resguardar a segurança do seu pessoal. Hoje, após duas advertências dos censores, Dmitry Muratov, ganhador do Nobel da Paz, anunciou que seu jornal Novaya Gazeta suspenderá temporariamente a publicação.

Dizem que a primeira vítima das guerras é a verdade. Nenhuma surpresa que de ambos os lados haja boataria. Mas nem todas as versões são equivalentes, ou sequer corretas. Afinal, quem foi que ameaçadoramente concentrou tropas e armamentos pesados na fronteira? Quem invadiu quem?

Mas a turma de Putin tem inovado: montou uma suposta verificação de ‘fake news’ ˗ só que com a originalidade de ser, ela própria, mentirosa. Assim:

1.       Importa vídeos de ataques ocorridos em outros tempos e lugares

2.       Diz que os ucranianos os estariam falsamente atribuindo aos russos

3.       Afirma (sem provas) que o material andaria circulando na Ucrânia

4.  Como conclusão, alardeia que o outro lado estaria espalhando incessantes mentiras contra Putin e seus amáveis pelotões.

Através da tecnologia da informação, o ProPublico ˗ este, sim, um competente verificador de notícias ˗ detectou em março pelo menos doze vídeos desses, elaborados especificamente para pintar os ucranianos como autores de ‘fake news’. Objetivo: desacreditar as notícias dos bombardeios russos.

Segundo Hannah Arendt, tiranos que querem controlar as massas não precisam de crenças; basta a confusão. Se todos mentem para você ˗ escreveu ˗, a consequência não é você acreditar nas mentiras. É pior: ninguém mais acreditar em nada. Com um povo assim, faz-se o que se quiser.

Mas embora a maioria dos russos esteja condicionada por noticiários sob censura, percebem-se brechas de dissensão. Exemplos:

o    O êxodo, com proporções históricas, de jovens profissionais deixando o país.

o    A parcela de opositores que preferiram permanecer na Rússia, apesar das mais de 15.000 detenções sofridas; entendem eles que assim se farão ouvir melhor.

o   Os milhares de cientistas que ousaram assinar um manifesto contra a guerra.

o       Os doze soldados expulsos do exército por se recusarem a cruzar a fronteira ucraniana.

o  Ou mesmo Anatoly Chubais, personagem do escalão superior, que se demitiu e saiu da Rússia.

Putin pode arrasar a Ucrânia. Mas as fabulações de sua turma serão um dia arquivadas com as de Franco, Pinochet e outros déspotas não esclarecidos.

Na ocupação nazista de Paris, um dia a Gestapo apareceu no ateliê de Picasso. Vendo ali Guernica, o capitão perguntou:

– Foi você que fez?

– Eu, não! Foram vocês!...



Fonte: A.C. Boa Nova

(JA, Mar22)

 


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