O 9 de julho marca o início da Revolução Constitucionalista, uma revolta que
São Paulo organizou contra o governo de Getúlio Vargas, 1930-1945. Os paulistas queriam uma nova
Constituição para o país, o que Vargas não admitia. A data é feriado estadual
desde 1997, quando Mário Covas, 1930-2001, então governador, assinou o projeto de lei 9497.
Quando eclodiu o movimento revolucionário,
os paulistas acreditavam possuir o apoio de outros estados, notadamente Minas
Gerais, Rio Grande do Sul, e do sul de Mato Grosso, para a derrubada de Getúlio
Vargas.
Pedro de Toledo, que ganhara forte apoio dos
paulistas, foi proclamado governador de São Paulo, e foi o comandante civil da
revolução constitucionalista.
Foi lançada uma proclamação da ‘Junta Revolucionária’ conclamando os paulistas a lutarem contra a ditadura. Formavam a Junta Revolucionária Francisco Morato do Partido Democrático, Antônio de Pádua Sales do PRP, e os generais Bertoldo Klinger e Isidoro Dias Lopes. O general Euclides Figueiredo assumiu a 2º Região Militar.
Alistaram-se 200.000
voluntários, sendo que se estima que, destes, 60.000 combateram nas fileiras do exército constitucionalista.
No estado de São Paulo, a Revolução de 1932 contou com um grande contingente de voluntários civis
e militares, e o apoio de políticos de outros estados, antigos apoiadores da
Revolução de 1930, como, no Rio Grande do Sul, Raul
Pilla, Borges de Medeiros, João Batista Luzardo, Glicério Alves e João Neves da
Fontoura, entre outros, que formaram a Frente Única Rio-Grandense, e que
tentaram fazer uma revolta mas foram capturados (salvo Batista Luzardo, que conseguiu fugir), e exilados pelo interventor gaúcho.
No atual Mato Grosso do Sul foi formado um estado
independente que se chamou Estado de Maracaju, que apoiou São Paulo.
Em Minas Gerais, a revolução de 1932 obteve o apoio do ex-presidente Artur Bernardes, que terminou também exilado.
São Paulo esperava a adesão do interventor do Rio Grande do
Sul, o estado mais bem armado, mas este, na última hora, decidiu enviar tropas
não para apoiar São Paulo, mas para combater os paulistas.
Quando se inicia o levante, uma multidão sai às ruas em
apoio. Tropas paulistas são enviadas para os fronts em todo o estado. Mas as
tropas federais são mais numerosas e bem-equipadas. Aviões são usados para
bombardear cidades do interior paulista. Quarenta mil homens de São Paulo
enfrentam um contingente de cem mil soldados.
Os planos paulistas previam um rápido e fulminante movimento
em direção ao Rio de Janeiro pelo vale do Paraíba, com a retaguarda assegurada
pelo apoio que seria dado pelos outros estados.
Porém, com a não adesão dos outros estados, o plano imaginado
por São Paulo não se concretizou: Rio Grande do Sul e Minas Gerais foram
compelidos por Getúlio Vargas a se manterem ao seu lado, e a publicidade de
pretensão separatista do movimento levou São Paulo a se ver sozinho, com o
apoio de apenas algumas tropas mato-grossenses, contra o restante do Brasil.
Comandadas por Pedro de Toledo, aclamado governador revolucionário, e pelo general Bertoldo Klinger, as tropas paulistas se viram lutando em três grandes frentes: o vale do Paraíba, o Sul e Leste Paulista. O estado de São Paulo, apesar de contar com mais de quarenta mil soldados, estava em desvantagem, pois, se encontrava num grande cerco militar.
Túnel ferroviário que guarda marcas da
revolução de 32
Hoje abrigando um roteiro ferroviário turístico, a região do
túnel de 998 metros de extensão que separa São
Paulo de Minas Gerais, um dos locais relevantes na Revolução Constitucionalista
de 1932, até hoje guarda marcas dos
confrontos registrados naquele ano.
A revolução, que completa 89 anos
neste 9 de julho de 2021, teve no local uma sangrenta batalha entre as tropas
federais e as forças paulistas que fizeram com que, quase um século depois, nas
paredes do túnel ainda são visíveis marcas de tiros e estilhaços.
Relatos de pesquisadores apontam milhares de mortes de combatentes no local, inclusive a do tenente-coronel Fulgêncio de Souza Santos, comandante do 7º Batalhão da Força Pública de Minas Gerais.
Os registros indicam que ele morreu perto do túnel quando tropas de São Paulo tentaram invadir Passa Quatro, cidade mineira que faz divisa com a paulista Cruzeiro. Os paulistas chegaram a invadir Passa Quatro, e conseguiram explodir uma ponte ferroviária em solo mineiro, apontam registros da Câmara do município.
O túnel entre os dois estados era altamente estratégico para
a revolução e mostra, também, a importância que o sistema ferroviário tinha
naquele momento para o país.
Primeiro, e óbvio, o trem era o meio utilizado para o
transporte de tropas para as regiões de batalhas, mas ele também serviu como
obstáculo de combate. Ao menos uma locomotiva foi estacionada no lado paulista
do túnel como forma de impedir o avanço de tropas rivais.
À época, a estação mineira logo após a divisa entre os
estados era chamada de Túnel; mas, a morte de Fulgêncio fez com que a estação
passasse a ser denominada Coronel Fulgêncio.
Inaugurada em 1884,
a estação foi utilizada até o começo da década de 1970 e, depois, ficou abandonada até 2004, quando a ABPF (Associação Brasileira de Preservação
Ferroviária) a assumiu,
e iniciou sua restauração. No período, em meio ao mato alto que dominava o
local, foram encontradas cápsulas e objetos supostamente utilizados no período
da revolução.
Embora a estação não tivesse utilidade para passageiros desde
o seu fechamento até 1991, seus trilhos recebiam os trens que
operavam no ramal ferroviário entre Cruzeiro e Três Corações- MG.
Hoje, funciona no local o Trem da Serra da Mantiqueira, que
parte da estação central de Passa Quatro, que pertenceu à ferrovia Rio-Minas,
passa pela estação Manacá, em operação desde 1931, e vai até Coronel Fulgêncio, num percurso total de 20 quilômetros (ida e volta), no
alto da serra.
A estação Manacá também foi utilizada como base das tropas
federais na revolução de 1932.
Além de Cruzeiro-Passa Quatro, os trens também foram
significativos no transporte de tropas para a divisa entre Rifaina-SP e Sacramento-MG.
Passa Quatro tem uma série de bens ferroviários que integram
a lista de patrimônios culturais ferroviários do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional), mas
o túnel não está nessa relação.
São declaradas de valor histórico as estações ferroviárias
Passa Quatro, Coronel Fulgêncio e Manacá, três terrenos das estações, um
depósito de materiais e uma residência de empregados.
O Conselho de Patrimônio Histórico e Cultural de Passa Quatro
chegou a criar uma campanha pelo tombamento do túnel, ainda sem resultado até
aqui.
O túnel, que hoje é usado por turistas e grupos de ciclistas
e motociclistas, pode no futuro voltar a ser utilizado como interligação
ferroviária entre os dois estados.
A ABPF está trabalhando na restauração do
trecho de 25 quilômetros entre Cruzeiro e o
túnel, o que inclui desenterrar trilhos na cidade paulista e colocar novos dormentes
e trilhos onde eles não existem mais.
Não há prazo para a conclusão dos trabalhos. O objetivo,
porém, é ampliar a rota dos atuais 10
quilômetros existentes na cidade mineira para 35 quilômetros.
Cronologia da Revolução
3.out.1930 - É deflagrado o movimento que levou o gaúcho Getúlio Vargas ao poder. Ele assume um governo provisório depondo Washington Luís da Presidência da República
17.fev.1932 - Os grandes partidos de São Paulo criam a Frente Única Paulista, que exigia nova Constituição para o país
23.mai - Quatro estudantes são mortos durante um protesto contra Vargas em São Paulo; de suas iniciais surge a sigla MMDC
9.jul - Militares antecipam a deflagração da mobilização, marcada para 14 de julho, pegando aliados de surpresa
22.ago - Primeiro combate aéreo no país, em Cruzeiro: dois aviões paulistas enfrentam dois aviões federais
12.set - O governo ocupa o porto de Santos, sob bloqueio desde o início da revolta, mas os combates seguem até dia 24
2.out - As tropas paulistas se rendem ao governo Vargas; líderes do movimento vão para o exílio
3.mai.1933 - São realizadas eleições no país para a escolha da Assembleia Nacional Constituinte, demanda dos paulistas.
Obelisco Mausoléu aos Heróis
de 32, também conhecido como Obelisco do Ibirapuera ou Obelisco de São Paulo.
Foto de Francisco Vidal de Castro
Obelisco do Ibirapuera
Obelisco do Ibirapuera é um monumento projetado pelo escultor
ítalo-brasileiro Galileo Ugo Emendabili. Foi construído em puro mármore
travertino pelo engenheiro alemão Ulrich Edler. Tem como finalidade homenagear
e servir como mausoléu aos Heróis de 32.
Foi inaugurado em 9 de
Julho de 1955, um ano após a inauguração do Parque
do Ibirapuera, no IV Centenário de São Paulo. Guarda na
cripta, em seu subsolo, os restos mortais de combatentes, e dos quatro jovens
mortos em 23 de Maio de 1932: Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo, que deram
origem à sigla MMDC.
O monumento tem 72 metros de altura. A soma dos números (7+2) igual a 9, assim como são 9 os degraus de sua entrada. O gramado ao redor tem o formato de um coração, e tem 1932 metros quadrados. O Obelisco simboliza uma espada, enfincada no coração paulista.
Em suas 4 faces foram esculpidas
representações militares, e a inscrição:
‘Aos épicos de julho de 32, que, fiéis cumpridores da sagrada promessa feita a seus maiores - os que moveram as terras e as gentes por sua força e fé - na lei puseram sua força, e em São Paulo sua Fé.’
E na entrada uma outra marcante inscrição:
‘Viveram pouco para
morrer bem. Morreram jovens para viver sempre.’
Fonte: Marcelo
Toledo, Sobre Trilhos FSP | Memórias Paulistas
(JA, Jul21)