Desembarque de Cabral em Porto Seguro, 1932 -^- obra de Oscar Pereira da Silva, 1867-1939
O navegador português, Pedro Álvares Cabral, a quem é atribuída a descoberta do Brasil, nasceu em Belmonte, em 1467 ou 1468, filho do alcaide-mor daquela localidade. Com cerca de 10 anos foi para a corte e, anos mais tarde, viria a casar-se com uma sobrinha de Afonso de Albuquerque. Sabe-se que D. João II lhe concedeu uma tença, embora se ignorem os motivos.
Depois do regresso de Vasco da Gama da Índia, em 1499, Pedro Álvares Cabral foi nomeado comandante de uma frota de treze navios que partiram em março de 1500 com destino à Índia. Seguiu a rota indicada por Vasco da Gama, mas, ao passar por Cabo Verde, sofreu um desvio maior para sudoeste, atingindo, a 22 de abril de 1500, a costa brasileira. Mandou um navio a Portugal com notícia da nova da descoberta, e seguiu para a Índia, chegando a Calicute a 13 de setembro de 1500.
Vários barcos se perderam, entre eles o de Bartolomeu Dias, que naufragou perto do Cabo da Boa Esperança, que ele próprio dobrara anos antes pela primeira vez. Depois de cumprir a sua missão no Oriente, Pedro Álvares Cabral regressou a Portugal em 1501, e foi fixar-se nos seus domínios, na zona de Santarém, onde acabaria por falecer em 1520.
A carta de Pero Vaz de Caminha é um documento essencial e
curiosíssimo de um momento supremo da História, e da cultura portuguesa, e,
como tal, um paradigma da literatura de viagens do Renascimento, e da cultura
nova, de base experimental e tendência crítica, na qual, segundo Jaime
Cortesão, está contido o ‘fermento’ responsável pelo espírito
filosófico do século 18.
Trata-se de uma verdadeira carta-narrativa, na qual são
descritos a geografia, a fauna, a flora do Brasil, a aparência e a psicologia
dos nativos, os métodos e experiências de contato dos portugueses e as
reações mútuas, obviamente a partir de uma perspectiva etnocêntrica, que estuda
a nova terra e a população com o objetivo de colher algum proveito: ‘Nesta
terra’ não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou
ferro, nem lho vimos. A terra, porém, em si é de muito bons ares [...]. Mas o
melhor fruto que dela se pode tirar me parece que será salvar esta gente’.
A própria ‘salvação’ religiosa da população nativa é
capitalizável, na medida em que os portugueses acalentavam então a noção de que
a grandiosidade dos seus empreendimentos derivaria do fato de os feitos da sua
História se relacionarem com a expansão da fé cristã e, como consequência, sendo sempre
beneficiados pela proteção de Deus. É a mesma concepção providencialista da
História portuguesa que encontramos em ‘Os Lusíadas’.
A expansão era encarada, não só como o alargamento da
civilização e da cultura, em que o homem de então, mais perfeitamente realizava
as suas potencialidades - a portuguesa -, mas também através da qual Deus mais dilatava no
mundo a sua lei.
Numa perspectiva humanista e neoplatónica, portanto, era
através da expansão portuguesa que o Homem se aproximava cada vez mais do
estatuto divino, o qual, aliás, se cumpre metaforicamente nos cantos finais de ‘Os
Lusíadas’.
Deste modo, a Carta do Achamento do Brasil é um documento fundamental para a compreensão do Renascimento português, logo, também da História do mundo.
(JA, Abr21)