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Camisa Amarela da Seleção Brasileira


Cor foi escolhida em um concurso do Correio da Manhã vencido por Aldyr Schlee


Desenho de Aldyr Schlee para o concurso que elegeu a camisa seleção, 1953

Símbolo do futebol brasileiro e de seu reconhecimento global como país apaixonado pelo esporte, a camisa amarela da seleção, consagrada como pentacampeã mundial, nasceu de um trauma nacional que completa 70 anos nesta quinta-feira (16).


Seleção Brasileira de Uniforme Branco, 1934, ano da na segunda Copa do mundo. Esse uniforme foi utilizado até 1950
Em 16 de julho de 1950, o Brasil perdeu para o Uruguai por 2 a 1 de virada, no último jogo das equipes na Copa do Mundo realizada no país e ficou com o vice-campeonato, em um Maracanã que reuniu mais de 200 mil pessoas. O episódio entrou para a história do futebol como o Maracanazo.

Foi a última vez que a seleção utilizou uniforme branco, sua cor oficial até então, em Mundiais.

Em 1953, um concurso realizado pelo jornal carioca Correio da Manhã, em parceria com a então Confederação Brasileira de Desportos, determinaria as novas cores da indumentária brasileira. Os postulantes deveriam propor o kit completo: camisas, calções e meiões.

O Correio da Manhã considerava o branco ‘inexpressivo’, opaco diante da variedade de cores mais vivas da bandeira nacional. Por isso, entre as regras estabelecidas pelo periódico, havia a necessidade de incluir nos desenhos as quatro cores presentes no estandarte brasileiro.

A campanha do jornal, que procurava renovar a identificação do torcedor brasileiro com sua seleção, reuniu mais de 300 participantes.

Venceu uma combinação que trazia a camisa predominantemente amarela com detalhes verdes e calções azuis com detalhes brancos.



A ironia do vencedor estava em sua origem: o gaúcho Aldyr Schlee nasceu em Jaguarão, na fronteira com o Uruguai, e sempre ficou dividido com relação à torcida pelas duas seleções. Por isso ele contava que não havia ficado triste com o triunfo uruguaio em 1950, no Maracanã.

Na época do concurso, Schlee vivia em Pelotas, no interior do Rio Grande do Sul, e trabalhava como desenhista em um jornal local, ilustrando lances e gols de partidas de futebol para as páginas de esportes do veículo.

‘Fiz mais de cem desenhos. Fiz duas faixas com um X. Fiz um V como o do Vélez Sarsfield [da Argentina]. Cheguei à conclusão de que a camisa tinha que ser toda amarela’, afirmou Schlee ao jornalista inglês Alex Bellos, que escreveu o livro ‘Futebol, o Brasil em campo’, cuja capa está ilustrada com os croquis desenhados pelo gaúcho.

Para a versão final do desenho, Aldyr Schlee utilizou o amarelo-ouro para a camisa e o azul-cobalto para o calção. Não eram exatamente as tonalidades da bandeira nacional, mas o seu projeto foi aceito pelo júri do Correio da Manhã e da CBD, e venceu o concurso.

Além de um prêmio em dinheiro, cerca de 4 mil cruzeiros à época, o vencedor ganhou também um estágio no jornal.

A novidade estreou em Copas do Mundo já na edição do ano seguinte, em 1954, na Suíça. A seleção brasileira caiu nas quartas de final para a Hungria.

Sua consagração como símbolo do futebol brasileiro viria em 1962, quando Mauro Ramos de Oliveira ergueu a taça Jules Rimet, vestindo camisa amarela, após vitória do Brasil sobre a Tchecoslováquia na final, em Santiago.

No Mundial anterior, a Fifa determinou que, na decisão, só uma das duas seleções poderia vestir amarelo. Como os suecos eram os anfitriões da competição, jogaram com seu uniforme principal, enquanto o Brasil precisou improvisar, conseguindo às pressas um novo jogo de camisas.

Chefe da delegação brasileira, Paulo Machado de Carvalho determinou que a camisa da decisão fosse azul, uma referência ao manto de Nossa Senhora Aparecida, de quem o dirigente era devoto. Com essa cor, a equipe comandada por Vicente Feola bateu a Suécia por 5 a 2, e conquistou o primeiro título mundial.

A Copa do Mundo de 1958, entre as que foram vencidas pela seleção brasileira, foi a única em que a equipe não vestiu amarelo na final.

Criador da camisa amarela, Aldyr Schlee morreu em novembro de 2018, aos 83 anos.

Em 2016, ele disse que o uso do uniforme em manifestações contra a corrupção era um contrassenso. ‘Esses mal informados usam a camisa da entidade mais corrupta do mundo’, disse Schlee, em referência à Confederação Brasileira de Futebol (CBF), e aos escândalos em que dirigentes da entidade se envolveram nos últimos anos.

A camisa da seleção, assim como a bandeira e o hino nacionais, também foi apropriada por apoiadores de Jair Bolsonaro, que costumam ir às ruas vestindo amarelo em seus atos. Em resposta, setores críticos ao governo querem devolver a esses símbolos a condição de bens comuns da sociedade brasileira.

Na sua campanha em defesa da democracia, inspirada no movimento das Diretas Já, da década de 1980, o jornal a Folha de São Paulo tem estimulado os leitores a usar a cor amarela.





Fonte:  FSP  -  Esporte



(JA, Jul20)



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