Em 1889 um imigrante Italiano desembarcava no Porto do Rio de Janeiro, seu objetivo era o mesmo de tantos outros que
chegavam a América: Prosperar! Esse imigrante, chamado Giuseppe Martinelli, foi
excepcionalmente bem sucedido e, em pouco mais de duas décadas, construiu um
respeitável patrimônio. Desejoso por deixar um legado mais permanente de seu
trabalho, além de sua importante empresa de navegação em Santos, o Comendador
Martinelli decide erguer na cidade São Paulo o mais alto arranha-céu da América
do Sul, o Edifício Martinelli.
Giuseppe
Martinelli, 1889
O Edifício Martinelli é um
prédio localizado no Centro do município de São Paulo. Situa-se no triângulo
formado pela Rua São Bento, avenida São João, e Rua Líbero Badaró, no centro da
capital paulista.
Devido sua altura, o local
pode ser considerado um mirante, de onde é possível observar pontos turísticos
de São Paulo, com por exemplo o Vale do Anhangabaú e a Catedral da Sé.
Foi o segundo arranha-céu do
Brasil e da América Latina, ultrapassando o Edifício Joseph Gire, no Rio de
Janeiro, que apesar de ter iniciado sua construção apenas em 1927, foi
inaugurado dois anos depois, em 1929.
A construção do edifício
começou em 1922 e foi inaugurado às pressas, ainda incompleto, em 1929, com
apenas 12 andares, devido a inauguração do ‘Edifício A Noite’. A disputa
começou porque em 1924 foi publicado um artigo que nomeava o ‘Edifício A Noite’
como o maior arranha-céu do mundo. E tal questão de disputa entre ambos os
edifícios demonstravam o interesse de seus empreendedores sobre o título que
visava enfatizar o poder público e o poder relacionado à imagem de progresso
tecnológico da cidade de São Paulo.
A construção do edifício
seguiu até 1934. O trabalho terminou quando tinha 30 andares.
O edifício foi idealizado
pelo italiano Giuseppe Martinelli, e projetado pelo arquiteto húngaro Vilmos
(William) Fillinger. Com 105 metros de altura, foi, entre 1934 e 1947, o maior
arranha-céu do país e, durante algum tempo, o mais alto da América Latina - em
1935, o posto de mais alto da América Latina passou a ser do Edifício Kavanagh,
levantado em Buenos Aires, que media 120 metros de altura.
Sua construção gerou grande
polêmica, pois, até esse momento, não havia nenhum outro edifício em São Paulo
com altura elevada.
Em 1932, durante a Revolução
Constitucionalista, Martinelli abrigou em seus terraços superiores, uma bateria
de metralhadoras antiaéreas, para defender São Paulo do ataque dos chamados ‘vermelhinhos’,
os aviões do Governo da República, que sobrevoavam a cidade ameaçando
bombardeá-la.
Vários partidos políticos
tiveram suas sedes no Edifício Martinelli: o antigo Partido Republicano
Paulista (PRP), o Partido Comunista Brasileiro (PCB) e a União Democrática
Nacional (UDN). Os clubes da cidade também ocupavam as suas dependências como o
Palestra Itália, hoje a Sociedade Esportiva Palmeiras, a Portuguesa de
Desportos e o IT Clube, hoje desaparecido.
Zeppelin
sobrevoando o Martinelli em 1933
Construção
Erguido com a técnica
construtiva de alvenaria de tijolos e estrutura de concreto, a estrutura do
andar principal é inteiramente revestida por granito vermelho róseo, tornando
sua característica marcante. Foi considerado o símbolo arquitetônico mais
importante do momento de transição da cidade baixa, ou seja, desde seu início,
foi considerado marco do processo de transmutação de uma cidade para uma
metrópole, visto que em sua localidade, na época, não havia nenhum outro tipo
de construção vertical
Todo o cimento da construção
era importado da Suécia e da Noruega, pela própria casa importadora de
Martinelli. Nas obras trabalhavam mais de 600 operários. 90 artesãos, italianos
e espanhóis, cuidavam do esmerado acabamento.
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Trabalhadores na construção do Martinelli – 1927 |
Os detalhes da rica fachada
foram desenhados pelos irmãos Lacombe, que mais tarde projetariam a entrada do
túnel da avenida Nove de Julho. Diversos imprevistos prolongaram as obras: as
fundações abalaram um prédio vizinho – problema resolvido com a compra do
prédio por Martinelli; os cálculos estruturais complexos levaram à importação
de uma máquina de calcular Mercedes da Alemanha.
Enquanto isso, Martinelli não
parava de acrescentar andares ao edifício, estimulado pela própria população
que lhe pedia uma altura cada vez maior – de 12 passou para catorze, depois
dezoito e, em 1928, chegou a vinte. Nessa época o próprio Martinelli já havia assumido
o projeto arquitetônico e, não se satisfazendo em fiscalizar diariamente as
obras, também trabalhava como pedreiro – retomando assim a profissão que
exercera na juventude na Itália – e demonstrava enorme prazer em ensinar aos
operários mais jovens os macetes da profissão.
Eng. Giuseppi Martinelli visitando as obras do
edifício que leva seu nome durante a construção, anos 20
A população achou que o
prédio iria cair. As pessoas que ali passagem atravessavam a rua com medo do
prédio. Com isso Martinelli resolveu construir sua casa no 24º andar. Uma
mansão de 3 andares com 11 suítes. Foi a forma que ele encontrou de provar que
o prédio era seguro.
O consumo de cimento era
muito alto e a chegada de navio era demorada, com isso Martinelli pede ajuda ao
ítalo brasileiro e amigo, o Conde Alexandre Siciliano dono da Cia. Mechanica e importadora, que forneceu cimento para a obra a
prazo. Dizem que Martinelli nunca conseguiu pagar, e que o Conde nunca o cobrou.
O arranha-céu, em seu início,
utilizou diversos produtos vindo da Suíça, tais como elevadores e telefones.
Martinelli se endividou com a
construção, e necessitou tomar um empréstimo junto ao banco ‘Istituto Nazionale
di Credito per il Lavoro Italiano all'Estero’, do Governo Italiano. Infelizmente, não
conseguiu pagar, e Mussolini, na época ditador da Itália, confiscou o prédio.
Com
o início da segunda guerra mundial, a Alemanha afundou dois navios brasileiros.
Então, como a Itália fazia parte do ‘eixo’, e o Brasil fazia parte dos ‘aliados’,
o governo brasileiro confiscou o prédio para compensar o prejuízo. Martinelli entrou em depressão pela perda do
prédio.
Como no Brasil,
tradicionalmente, tudo que é público se deteriora, nas décadas de 50 e 60, o
edifício se tornou um grande cortiço, tendo sido registrado casos de
assassinatos no interior do prédio.
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Detalhe da fachada do Edifício |
Na década de 70, o então
governador Paulo Egídio, resolveu restaurá-lo e o doou à prefeitura, para
abrigar algumas secretarias municipais.
Em 1975 ele foi desapropriado
pela prefeitura e completamente reformado pelo Prefeito Olavo Setúbal.
Reinaugurado em 1979, hoje abriga as Secretarias Municipais de Habitação e
Planejamento, as empresas Emurb e Cohab-SP, a sede do Sindicato dos Bancários de
SP além de diversos estabelecimentos comerciais na parte térrea do edifício.
No ano de 2008, a cobertura
do edifício passou por reformas em sua infraestrutura. Após dois anos de obras,
o local foi reaberto para os visitantes que visavam apreciar a vista da cidade
que o prédio proporciona, porém, agora pertencente à prefeitura, com diversos
escritórios.
No 26º andar do prédio existe um terraço do qual se tem uma visão panorâmica
da cidade, podendo-se avistar diferentes pontos da cidade de São Paulo e seus
arredores, como o Pico do Jaraguá, as antenas da Paulista e os milhares de
prédios que compõem a paisagem urbana da cidade.
Também nesse espaço (cobertura) foi construída a ‘Casa do Comendador’,
réplica de uma villa italiana, onde a elite de São Paulo se reunia em suntuosas
festas. Foi construída como moradia da família Martinelli para ‘provar’ ao povo
que o prédio não cairia. O espaço é aberto para visitação em todos os dias da
semana.
É um prédio com grande
símbolo arquitetônico, e já foi lugar para encontros da classe alta paulistana.
Prefeitura publica edital para conceder parte do Edifício
Martinelli
A Secretaria Municipal de
Desenvolvimento Urbano (SMDU), por meio da São Paulo Urbanismo,
publicou no Diário Oficial do dia 27 de
agosto 2020, o edital de concessão de parte do
Edifício Martinelli. Ponto histórico do Centro da cidade, a prefeitura
apresentou essa ideia em março de 2019,
como parte do projeto Triângulo SP. Esse plano busca revitalizar o centro
histórico e a vida noturna da região.
Falando especificamente do
Martinelli, a ideia é de transforma-lo em um polo turístico, e criar o
Observatório Martinelli. O tipo de concessão utilizada pela SMDU é o de modo de disputa fechado e com maior oferta de
preço.
Ao contrário do veiculado em outros
portais, a proposta da prefeitura é para conceder os espaços cobertos e
descobertos, situados na Loja 11 e nos 25º, 26º, 27º e 28º andares do Edifício Martinelli, totalizando
2570 m², para a implantação e exploração
de serviço de visitação pública, de equipamentos urbanístico-cultural e
gastronômico e as chamadas ‘atividades acessórias’.
Postal do
Edifício Martinelli, com destaque para um dos Palacetes Prates
Ainda segundo o documento publicado,
os objetivos dessa concessão são:
¾ Retomar o protagonismo do Edifício Martinelli no
cenário turístico e urbanístico da cidade de São Paulo;
¾ Proporcionar ao público uma experiência de visitação
completa, composta por um programa de atividades estruturado em eixos de (i) visitação pública, (ii) memória/urbanismo e (iii) gastronomia;
¾ Garantir a adequada destinação econômica de relevante
ativo imobiliário da SPUrbanismo, maximizando seu retorno
financeiro;
¾
A melhoria, o desenvolvimento socioambiental e a
reativação do Centro de São Paulo, em especial do triângulo histórico.
No que tange o valor da concessão de
uso, a SPUrbanismo,o valor estimado do contrato
é de R$ 45.863.883,00
(quarenta e cinco milhões, oitocentos e sessenta e três mil, setecentos e
oitocentos e oitenta e três reais), correspondente ao valor das despesas de capital para
execução das obrigações nele previstas, cumulado com o somatório dos valores de
contribuição pagos à SPUrbanismo a título de outorgas fixa e
variável.
Além disso, devido a gatilhos no
contrato, a SPUrbanismo deve receber algum dinheiro
pelo uso mensal da área. O prazo para a concessão é de 15 anos, sem a possibilidade de adiamento.
A fachada do Edifício Martinelli é
tombada. Em 2010, o local foi reformado e aberto para
o público até 2017, quando foi fechado novamente por
problemas estruturais. A reforma demandaria cerca de R$ 3 milhões. O prédio sedia secretarias municipais, lojas dos
Sindicatos dos Bancários e da Caixa Econômica Federal.
Por outro lado, o
edifício Joseph Gire, no Rio de Janeiro,
também conhecido como edifício 'A Noite', por ter abrigado o vespertino carioca
em seus primeiros anos, será levado a leilão pelo governo federal, a um preço
mínimo de R$ 90 milhões, como parte de um programa de venda de imóveis hoje sem
uso pela administração pública.
No hall dos elevadores do
andar mais alto do edifício Joseph Gire, no centro do Rio de Janeiro, ainda é
possível ver, meio apagada, a marca da Rádio Nacional, que tornou o prédio um
dos marcos dos anos de ouro do rádio brasileiro.
Atrás do que antes era um
letreiro, estão o que restou de auditórios e estúdios que receberam artistas
como Dalva de Oliveira, Emilinha Borba, Orlando Silva e Francisco Alves, sempre
recebidos por hordas de fãs na porta do edifício.
A outrora imponente
construção, considerada o primeiro arranha-céu da América Latina quando foi
inaugurada, em 1929, está fechada desde 2018 e hoje abriga apenas três
funcionários responsáveis pela segurança e manutenção.
Fonte: WP | netleland.net
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(JA, Dez19)