Há pouca informação sobre vida do matemático e seus seguidores
espalharam versões distintas de ideias
Embora seja
o matemático mais conhecido do público, pouco se sabe sobre a vida e a obra de
Pitágoras. Pior, as escassas informações de que dispomos são contraditórias.
Foi pioneiro genial que deu os primeiros passos na transformação da matemática
em ciência rigorosa? Ou místico obcecado com temas esotéricos, como
reencarnação e regras peculiares, como a proibição de comer feijões? Parte da
confusão se deve aos seus partidários terem se dividido com sua morte,
transmitindo visões antagônicas de suas ideias.
Ao que
sabemos, Pitágoras nasceu na ilha grega de Samos, por volta de 560 a.C., e
morreu no sul da Itália, cerca de 480 a.C.. Na juventude, viajou pelo Egito e
Babilônia, absorvendo conhecimento matemático. Por volta de 530 a.C., fixou-se
na colônia grega de Crotona, onde fundou uma sociedade filosófica e religiosa
que exerceu influência política considerável na Magna Grécia, o conjunto das
colônias gregas no sul da Itália.
‘Escola de Atenas’, ~1509-1511, (detail Pitágoras) , de Raffael Sanzio, 1483-1520 |
Pitágoras
dividia seus seguidores em ‘akousmatikoi’ (ouvintes), que estavam proibidos de
falar e só podiam memorizar as palavras do mestre; e ‘mathematikoi’
(matemáticos, ou aprendizes), os mais avançados, que podiam perguntar e até
expressar opiniões. Só transmitia seus princípios com clareza aos últimos. Os ‘akousmatikoi’
recebiam só esboços vagos e misteriosos.
Depois que
morreu, os dois grupos teriam evoluído para facções rivais, transmitindo
versões distintas dos ensinamentos: mística e esotérica, pelos ‘akousmatikoi’,
racional e científica, para os ‘mathematikoi’. Mas é possível que a distinção
não fosse tão estrita.
O alicerce
da filosofia pitagórica era a ideia de que tudo é número. Ela estava baseada na
descoberta de que as harmonias musicais podem ser expressas mediante números.
Harmonias mais bonitas são dadas por notas cujas frequências estão em relações
simples, tais como (2:1) ou (3:2).
Outro
fundamento de sua crença estava na astronomia, que Pitágoras aprendera com os
babilônios. Acreditava que os movimentos periódicos dos planetas estariam
relacionados de alguma forma com os intervalos musicais, sugerindo que o
movimento dos corpos celestes produz uma espécie de harmonia nos céus, a ‘música
das estrelas’.
Sua
contribuição científica mais conhecida é o teorema de Pitágoras:
‘Num
triângulo retângulo, a soma dos quadrados dos catetos é igual ao quadrado da
hipotenusa’.
Entretanto,
vestígios arqueológicos comprovam que o teorema já era conhecido dos babilônios
na época do rei Hamurabi, há cerca de 1800 a.C.. Também parece duvidoso que
Pitágoras tenha dado a primeira prova rigorosa, como acreditaram alguns
historiadores.
Seu papel
parece ter sido o de apresentar o teorema ao mundo grego e, dessa forma, a toda
a civilização ocidental.
Fonte: Marcelo
Viana, Diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, ganhador do
Prêmio Louis D., do Institut de France
| FSP
(JA, Nov18)