O pesquisador chegou a descreditar e buscar destruir a reputação
científica de colegas
O físico inglês Isaac Newton, 1642-1726 |
Anos atrás
foi moda publicar livros com listas das ‘100 pessoas mais importantes’ ou ‘mais
influentes’ de todos os tempos. Ultimamente não tenho visto, mas basta uma
busca rápida na internet para ver que a mania não passou. Em geral, os
primeiros lugares são ocupados pelos fundadores das grandes religiões: Moisés,
Cristo, Buda e Maomé. Em seguida vem um cientista: Isaac Newton.
Nascido em
1642 e falecido em 1726, pelo calendário juliano então vigente, de Newton foi
dito que ‘fez avançar todas as áreas da matemática que existiam’. Sua maior
obra, ‘Princípios Matemáticos da Filosofia Natural’, publicada em 1687, lançou
as bases de uma nova concepção do mundo, científica e racional. Um mundo cujo
dia a dia não precisa ser gerido pela divindade, pois está perfeitamente
determinado por leis matemáticas.
Não que
Newton partilhasse dessa visão. Religioso, acreditava que o universo necessita
intervenção divina regular para permanecer estável. Teria ficado chocado se
ouvisse um de seus maiores seguidores, o francês Pierre-Simon Laplace, 1749-1827,
responder: ‘Não precisei dessa hipótese’, quando Napoleão Bonaparte questionou
por que seu ‘Tratado de Mecânica Celeste’ não mencionava Deus.
Newton foi
uma figura paradoxal em mais do que um aspecto: o maior cientista de todos os
tempos esteve longe de ser um grande ser humano.
Descobriu o
cálculo matemático, extraordinária ferramenta a serviço da ciência. Mas demorou
três décadas para publicar, deixando que o alemão Gottfried Leibnitz, 1646-1716,
se antecipasse.
O motivo da
demora é controverso. Newton teria buscado evitar polêmicas, segundo os
defensores. Estava escondendo o jogo, para colher sozinho os frutos do novo
método, afirmam os detratores.
Seja como
for, a disputa sobre a prioridade da descoberta explodiu e envenenou as vidas
dos dois. Quando a Real Sociedade Britânica decidiu estudar a questão, Newton,
que a presidia, manobrou para a conclusão lhe ser favorável. Ele mesmo escreveu
o relatório final, declarando que Leibnitz era uma fraude.
Foi
igualmente impiedoso com o cientista inglês Robert Hooke, 1635-1703, que ousara
afirmar ter descoberto a lei da gravitação antes. Em carta a Hooke, Newton
escreveu sua citação mais famosa: ‘Se vi tão longe foi porque me ergui nos
ombros de gigantes’. Embora pareça modesta, a frase também pode ser entendida
como sarcasmo: Hooke era baixinho e corcunda.
Após a morte
do adversário, Newton promoveu a destruição sistemática de sua reputação
científica, chegando a remover a única pintura de Hooke existente na Real
Sociedade.
Fonte: Marcelo
Viana, diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, ganhador do
Prêmio Louis D., do Institut de France
| FSP
(JA, Nov18)