Sebastian é um homem de meia idade, casado e com três filhos já adultos.
Profissionalmente foi bem sucedido e, no decorrer de sua vida, conseguiu
amealhar algum patrimônio que atualmente lhe garante seu sustento e da esposa,
nessa fase de sua vida. Embora esteja
aposentado, não se sente assim por conta das inúmeras atividades a que se
dedica. O tempo passa mais rápido agora do que antes e, de modo geral, é
um tempo feliz.
Entretanto, ultimamente, ele tem tido alguns sonhos noturnos que lhe
estão causando um certo mal estar. Tanto à noite, ao acordar assustado, como depois, tentando imaginar os motivos. Os sonhos são
realistas e protagonizado por pessoas que parecem reais, mas que ele
desconhece, nunca viu. Nesses sonhos ele está sempre colocado numa situação de insegurança, de perigo, em tem que fazer algo para se safar. Num deles, por exemplo, é ameaçado fisicamente, sem
motivo aparente, por um homem enorme, de pele e olhos claros, sanguíneo, demostrando ódio – alguém que Sebastian, que sempre estava pronto para um confronto, não teve
alternativa senão se retrair. Por que isso? Quem seria essea 'fera'? Por que
esse homem o ameaçava? Quem ele representava?
Nunca chegou a uma resposta conclusiva. Mas, refletindo, imaginou que
aquele homem poderia ser a personificação de uma situação que ele vive atualmente,
mas que prefere relegar a um segundo plano -sua vida financeira está estruturada, mas baseada em uma série de circunstâncias que podem variar, de uma hora para outra, e provocar uma
crise. Ele não tem uma reserva financeira suficiente para garantir seis meses de
despesas, como recomendado com o pomposo nome de ‘Capital de Risco’. E ele está trabalhando no limite, de forma que se alguma coisa falhar, for prejudicada, ficará numa situação muito delicada. Entretanto, pensando bem, a maioria
das pessoas vive sob essa ameaça, e, mesmo assim, a não fica sofrendo por
conta disso.
Sem saber o que fazer foi pesquisar e chegou à conclusão que pode
estar sofrendo de medo, ansiedade.
O medo é uma das emoções básicas do ser humano. Todos, em algum momento
de nossas vidas sentimos essa emoção, em maior ou menor grau.
O medo se ativa na presença de uma ameaça, seja pela percepção ou
interpretação de um possível dano ou perigo para o nosso bem estar físico e/ou
psicológico. Costuma aparecer na
ocorrência de um perigo real -presente e iminente-, ou ainda frente a um perigo
imaginário.
Na presença do medo, é colocado em funcionamento o comportamento de
emergência do indivíduo, o qual proporciona a ativação necessária para ele superar ou fugir
da situação geradora. Na maioria das vezes o medo é passageiro. Porém,
dependendo da importância do problema, pode ativar respostas emocionais que
alterem de forma significativa o seu modo de vida.
O córtex pré-frontal é o responsável por tomarmos consciência da sensação de medo,
podendo interpretar a situação de forma correta, exagerada, ou subestimada,
dependendo da valoração feita, e do
momento de vida. Desta forma, no
medo se estabelecem duas considerações importantes: a perda e o imediatismo,
fatores que determinarão nosso comportamento.
As respostas ou estratégias que devem ser levadas a cabo, dependerão das
crenças e expectativas do indivíduo, e de como enfrentará aquilo que lhe dá medo,
podendo ser de forma ativa (confronto) ou passiva (desvio ou fuga). Quanto mais convencido ele estiver de suas
habilidades e recursos para regular esta emoção, mais eficaz será a sua reação.
O lado prejudicial de não regular de
forma adequada o medo, será a criação de sentimentos de desconfiança,
preocupação e mal-estar.
Desta forma, uma das funções da ansiedade é nos ativar diante da expectativa
de um possível perigo, nos levando a reagir de uma maneira seletiva, ou
ampliando as informações que são consideradas como ameaçadoras, deixando de
lado o resto das condições estimulantes, que passam a ser consideradas como
neutras.
A diferença entre o medo e a ansiedade, é que a presença do estímulo é clara no caso do medo, e confusa e imprecisa, no da ansiedade. Além disso, a ansiedade gera uma grande
preocupação produzida pela antecipação dos efeitos negativos de uma situação
futura, podendo, em muitos casos, prejudicar a saúde mental de uma pessoa.
Já um pouco mais seguro do que estava acontecendo, Sebastian começou a
definir a estratégia para superar a sua ‘ansiedade’ ou ‘medo’.
Ele tinha consciência de que o seu medo estava relacionado com a
valoração de um perigo eminente, e a
ansiedade com a expectativa de que algo irá acontecer no futuro.
Pensando bem, ele não estava exposto a um perigo eminente. Então, o que
ele tinha não era medo. Ele sofria com a expectativa de que algo poderia acontecer
no futuro – era ansiedade. Agora, se o que
ele temia acontecesse, tinha convicção de que, face aos seus recursos atuais, não teria capacidade de controlá-las,
superá-las, sem causar um dano considerável ao padrão de vida a que estava
adaptado.
Então, resolveu que, conscientemente, procuraria desativar o processo desencadeado
por uma resposta emocional negativa, ante à situação que considerava de
especial importância. Foi tentando desligar a conexão existente entre a
ansiedade e as situações que a provocavam, criando respostas comportamentais positivas
para minimizar essas situações, até deixá-las dentro do seu umbral de tolerância.
Já que a causa de seus problemas era a possiblidade de, em algum momento,
deixar de ter os recursos financeiros que considerava essenciais para sua vida, começou a se ocupar em criar condições
para redução das despesas e aumento da sua renda atual. Uma coisa que não havia lhe ocorrido
anteriormente porque seu fluxo de caixa histórico era satisfatório. Mas,...
Pouco a pouco, foi obtendo resultados positivos e, embora a redução de despesas e o aumento de sua
renda não lhe desse a segurança ideal, pelo menos, pelo simples fato de estar se
ocupando em encontrar uma solução racional para evitar uma eventual situação
estressante no futuro, já lhe dava uma sensação de estar no controle, trabalhando para evitar.
Para Sebastian, como resultado de suas pesquisas e atitude, suas noites
começaram a ficar mais tranquilas. E, durante o processo, aprendeu a lidar da
melhor forma com seus sentimentos, sem estresse, com sabedoria, tendo em mente
que a vida é mais valiosa que todos os medos.
O ser humano, durante a sua existência, deve assumir como inevitável a
convivência com o medo e, sobretudo, com a ansiedade, que variam, dependendo da
fase de vida -infância, adolescência, velhice-, transformações sociais,
pressões familiares, etc., e da
necessidade de aprender como superá-los.
Medos servem para nos alertar e proteger de algo. Porém, nem sempre nossa ‘máquina’ funciona tão bem - existem milhares de medos inexplicáveis por ai. E você, tem medo de quê?
(JA, Ago17)