Ellen era uma moça tímida. Ela
desviava o olhar das pessoas e de tudo. Normalmente seu olhar estava voltado
para baixo – para os seus pés, ou para os do seu interlocutor. Naturalmente, esse
hábito era limitante e ela deixava de perceber, de ver, muitas coisas que
poderiam ter sido interessantes ou úteis para ela.
Com o passar dos anos, ela mesmo passou
a considerar esse comportamento muito estranho: ‘Por que não podia olhar para
as pessoas, para tudo do seu entorno? Por
que as outras pessoas podiam?’ Passou a ter consciência de que o problema era
dela, e não dos outros. Entretanto, embora se esforçasse, não conseguia mudar. Sempre
se pegava fazendo o de sempre.
Então, resolveu fazer a mudança por
partes. Inicialmente, se programou para
olhar as pessoas nos olhos – especialmente enquanto estava andando nas ruas –
era mais fácil do que encarar alguém com quem estivesse dialogando. Percebeu que a maioria das pessoas nem estava
olhando para ela. Estavam olhando para frente, para o caminho que deviam
seguir. Ao perceber isso, passou a achar mais fácil olhar para as pessoas.
Num segundo momento, desenvolveu
outra técnica. Consistia em olhara para o alto, acima das cabeças das pessoas –
isso evitava ser pega olhando diretamente para alguém. Entretanto, para fazer
isso esbarrou em uma dificuldade física: muitas pessoas eram mais altas do que
ela. Além disso, ela se sentia meio
arrogante procedendo dessa forma. Por
que projetar seu olhar acima das pessoas? Parecia que estava querendo
submetê-las, o que, naturalmente, não era o caso.
Encontrou uma forma de eliminar esses
dois ‘inconvenientes’. Consistia em
projetar aquilo que sentia como sendo a sua energia, acima da própria cabeça, procurando
deixá-la no nível da do seu interlocutor ou passante. Dessa forma, não
necessitava olhar para cima para perceber as pessoas com quem interagia ou cruzava, pois se colocava
o mesmo nível que elas – nem a mais, nem a menos. Começou se sentir bem fazendo isso, mesmo porque o
esforço para concentrar a sua energia acima da sua cabeça a fazia relaxar e, ao
mesmo tempo, se sentir mais poderosa – como se tivesse entrado em contato com
uma energia maior. Isso era ainda mais perceptível quando estava no meio de
muita gente, ou em locais onde predominava vegetação – bosques,
parques,...
Ellen e um dos seus colegas da
faculdade, Armando, oportunamente conversaram sobre o tema. Armando, ao
contrário de Ellen, era expansivo, articulado e tinha uma grande empatia. Era um bom aluno, se dava bem com todo mundo;
todos o apreciavam e confiavam nele. Ellen lhe contou sobre a dificuldade que
tinha em se relacionar com as pessoas em geral - principalmente se o contato fosse inicial, e a estratégia que estava aplicando para
superar.
Armando considerou a ideia
interessante. Ficou de estudar melhor o assunto e lhe dar um retorno.
Dias mais tarde, ele lhe disse que estudou
o assunto e verificou que é um fato comprovado que todos os seres vivos, dos
mais rudimentares aos mais complexos, se revestem de um ‘halo energético’ que
lhes define a própria natureza. Esse halo é chamado de ‘Aura’.
Aura é, portanto, a suposta
manifestação de substância etérea, energética,
irradiada por todos os seres vivos, somente perceptível por pessoas de
sensibilidade especial. Podemos dizer que Aura é um sopro colorido emanado de
um corpo sutil. Aliás, a palavra ‘Aura’ vem do latim ‘aura(ae)’ que significa vento brando, brisa,
o ar, sopro, hálito, brilho.
Essa energia cósmica, energia vital, esse
quantum energético, manifesta-se nas pessoas desde o nascer. Ela funciona como
um espelho das paixões do indivíduo, dando o reflexo exato de seu ego inferior
ou personalidade, resumindo todo o conhecimento profundo de cada ser. Cada Aura
é como uma impressão digital - não existem duas auras exatamente iguais, e ela
varia dependendo da evolução mental do seu possuidor.
A explicação científica desse
fenômeno considera que toda célula em ação em cada unidade viva, funciona como
um motor microscópico, em conexão com a usina mental do indivíduo. Assim, é
compreensível que todas as agregações celulares emitam radiações, e que essas
radiações se articulem, através de sinergias funcionais, para constituírem o
que podemos nomear por ‘tecidos de força’, em torno dos corpos que as
exteriorizam.
Portanto, a ideia de Ellen de
projeção de energia para um nível superior tinha lógica considerando que todos
temos essa energia pessoal, e que temos capacidade de estimulá-la, projetá-la.
E, além disso, de acordo principalmente com a cultura oriental, essa mentalização
seria um ótimo meio para se abstrair o pensamento de eventos passados e
preocupações futuras, relaxar, e concentrar a energia no presente. O presente, o hoje, é quando as coisas acontecem;
é quando nossas atitudes poderão alterar o nosso futuro, viabilizar, realizar aquilo que gostaríamos de ter ou ser.
Porém, entre as pesquisas que fez
descobriu que a técnica de olhar o horizonte, ou “Olhar Horizontal’, poderia ser ainda
mais interessante.
Consistia em não olhar nem para cima,
nem para baixo, nem em encarar seu interlocutor ou passante, nem em projetar
energia pessoal para um plano superior. Mas simplesmente olhar para o nível do seu
horizonte atual, visível
Assim, se você viesse caminhando, ao encontrar
uma pessoa, não olharia para ela especificamente. Manteria seu a olhar no nível do seu horizonte projetado, e procuraria olhar, observá-lo, na
maior amplitude possível – no mínimo em 180º.
Então, você não estaria focando nada
especificamente, e isso permitiria ver e observar muito mais do que se procedesse de outra maneira. Seus
diversos interesses poderiam ser despertados por fatos, coisas ou pessoas, que,
de outra maneira, passariam despercebidos. Portanto, estaria ampliando a sua capacidade
de julgamento, de escolhas, e a
probabilidade de acerto
Essa atitude, também evitaria a projeção no outro da sua
insegurança e expectativas. Além disso, permitiria alcançar um estado de calma, relaxamento - uma consequência, muito semelhante à obtida no método de projeção de energia.
Ellen ouviu a sugestão e resolveu testar. Foi praticando e aprovando, tanto que esse comportamento acabou por se tornar habitual, normal, para
ela. Percebeu que, aos poucos, foi se tornando mais confiante e despreocupada.
Sentia que havia superado uma barreira que a limitara durante toda a sua vida
até ali. A sua relação com o mundo
passou a ser mais positiva. Parecia que ela sempre encontrava, descobria o que
estava precisando.
E, como uma coisa puxa outra, além
dela se sentir bem, feliz, conseguiu concluir a sua graduação e desenvolver uma
gratificante carreira profissional. Suas escolhas pessoais também foram
adequadas, e a levaram a constituir uma família igualmente feliz, tranquila,
bem sucedida.
Ellen tem consciência da importância
de tudo que aconteceu, e procura passar para as pessoas com as quais se relaciona
o fato de que uma simples mudança de comportamento, evitando encarar o mundo de
uma forma pontual, tradicional, pode fazer toda a diferença para o futuro. Ela divulga esse seu ‘case’, procurando não se
auto valorizar, ou levar as pessoas a fazerem o que ela fez. Sua
proposta é apenas alertá-las, e incentivá-las, para que:
- Evitem seguir sempre, automaticamente, o mesmo tradicional caminho.
- Questionem se o que estão fazendo, o caminho que estão percorrendo, é o ideal para sua auto superação, evolução.
- Estejam sempre disponíveis para promover as mudanças que se fizerem necessárias.
O importante é procurar e seguir conscientemente
o melhor caminho, o caminho ideal, pois, só assim, o seu melhor destino poderá
ser realizado.
"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. E' o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, 'a margem de nós mesmos". (Fernando Pessoa)
(JA, Set16)