A menina tinha certeza que tinha
nascido para ser alguém que viria fazer a diferença no seu mundo. Alguém que
seria lembrada por algo especial que fez durante a sua vida, deixando uma marca
positiva na história, no futuro das pessoas.
Entretanto, ela não sabia o que
deveria fazer para tanto e, muito menos o como.
Então começou a pensar, a imaginar o
que o mundo, as pessoas precisariam para ser melhores, para serem mais
felizes. Pensou em várias coisas, mas não chegou a nenhuma conclusão. Por
exemplo: sorvete gratuito na escola, a qualquer tempo – mesmo durante as aulas;
que na TV só houvesse programação infantil; que o período de férias fosse maior
do que o de aulas, etc.
Estava difícil decidir. Mas uma coisa
ficou clara para ela: tudo o que ela estava pensando iria beneficiar apenas uma
parte das pessoas, uma parte que, infelizmente, ainda não tinha poder de
decisão. Então ela resolveu não perder tempo com isso, e passou e imaginar algo
que beneficiasse a todos.
Ela sabia da dificuldade que seus
pais tinham para pagar o colégio que ela frequentava. O custo mensal era
desproporcional ao que eles ganhavam. Porém, eles se sacrificavam para pagar o
que era cobrado porque sabiam – e ela também – que uma boa educação era
importante, fundamental, para viabilizar um futuro melhor – um bom emprego e salário.
A partir de então ela começou a
prestar atenção ao que acontecia na sua escola. Observou que, apesar de cara,
ela não era muito diferente das outras e que, além disso, era muito
conservadora no sentido que vinha ensinando as mesmas coisas, da mesma forma
ano após ano, independentemente de todas as facilidades de comunicação e de
acesso às informações que foram
disponibilizadas para todos nos últimos anos. Além disso, percebeu que ela
e todos os seus amigos, após as aulas, que tomavam meio período do dia,
praticavam esportes em clubes ou academias ou aprendiam um idioma numa escola
especializada, tendo que pagar por isso também..
Toda essa reflexão a levou a duas
pergunta: ‘Por que não mudar isso?’
‘Como?’
Teve uma ideia. Foi falar com a sua
professora e colocou seus pensamentos. Ela, a professora, concordou. Também
achava que deveria haver uma mudança, mas ponderou que elas não tinham poder para promover essa mudança. Isso deveria ser feito a nível de Governo, do Ministério
da Educação... Ou seja, era praticamente impossível.
Ela saiu desse encontro, meio que
assim, desanimada. Durante a noite, naquele dia, teve uma ideia que apareceu na
sua cabecinha como se fosse um sonho. Nesse sonho ela estava falando com um
homem muito importante, alguém que era representante do povo na capital do
país, colocando as suas ideias. E, por incrível que pareça, ele estava
concordando com ela.
No dia seguinte, falou com seu pai
que, por conta de suas atividades, era muito bem relacionado. Ele ouviu o que ela tinha a
dizer e, mesmos tendo se surpreendido com uma preocupação social tão precoce,
compreendeu e aceitou suas conclusões. Então, depois dela muito insistir,
resolveu promover um encontro entre ela e um Deputado Federal, seu
conhecido, para tratar do assunto.
Ela foi encontrar com o homem que a
recebeu muito bem, a ouviu, ponderou algumas coisas e, finalmente concluiu que
ela tinha razão. Propôs, inicialmente, ouvirem a opinião de um especialista na área de educação para saber a opinião dele.
O educador também considerava o
sistema atual arcaico e falido, e que deveria ser promovida uma mudança no
processo, para evitar que o país ficasse defasado nessa área em relação aos
demais. Isso deveria ser tratado prioritariamente, considerando que a
educação dos jovens é fundamental para a evolução social do povo, preparação de mão de obra para suprir as carências existentes, enfim para garantir um melhor futuro, progresso do país.
Ele colocou os principais pontos que
esse projeto deveria considerar:
1. Ser restrito à Educação Fundamental e Ensino Médio.
2. Estabelecimento de uma base
curricular que previsse e definisse:
- Que educação pública é um direito do povo, e que é dever do estado provê-la
- O que deveria ser ensinado, com detalhamento da profundidade em que deveria ser passado.
- O que cada aluno deveria aprender em cada etapa do percurso escolar, independentemente de sua origem territorial, social ou cultural.
- Que os cursos fossem ministrados em período integral, considerando a necessidade de aumento do volume do conteúdo, e da qualidade do aprendizado.
- Liberdade aos diversos órgão de educação, deste e daquele Município ou Estado, para complementação da base curricular comum, considerando os contextos locais - o projeto social, as aspirações e especificidades regionais.
- A possibilidade da prática esportiva, considerando os benefícios físicos e psicológicos que se obteria, facilitando assim o aprendizado.
- O ensino de pelo menos uma língua estrangeira, de forma que o aluno saísse fluente e capacitado a frequentar universidades e cursos de especialização em outros países.
- Uma política de formação de professores, inicial e continuada.
- Uma política salarial para os profissionais da área de educação condizente com a sua formação e responsabilidade
3. Além disso tudo, considerando as
diferenças existentes entre as diversas
regiões do país, para viabilizar o
mesmo tipo de ensino para todos, deveria ser prevista a possibilidade do Ensino à Distância, pelo menos para transmissão do conteúdo das
principais matérias. Para tanto, seriam
contratados os melhores professores existentes, desta e daquela área, que gravariam as aulas que seriam transmitidas para os alunos de todo o país. Eles, os alunos, assistiriam essas gravações, sob a coordenação de monitores locais. E, se restasse
alguma dúvida, poderiam colocá-las digitalmente para o ‘Mestre’, que providenciaria e a resposta para a aula seguinte.
4. Naturalmente, esse projeto deveria
contemplar a adequação das escolas para ser viabilizado. Seriam desenvolvidos projetos para
criação de algumas ‘Escolas Laboratório’. Após implantação, acompanhamento, e
avaliação do desempenho dessas unidades experimentais, esse projeto seria readequado, corrigido até se chegar a um modelo ideal. Após a aprovação do desse modelo, seriam tomadas medidas
para estimular a implantação de unidades semelhantes em todas as regiões do país.
.
O Deputado ouviu o especialista e ficou
entusiasmado com a ideia, com suas possibilidades. Saíram dali e ele disse à
menina que iria preparar o projeto e colocá-lo em discussão no Congresso, o
mais rápido possível. Acreditava haver uma grande chance de sucesso,
considerando o momento político e a sua relevância. Agradeceu a iniciativa. Disse ainda que esse projeto levaria o nome dela, e
que, certamente, representaria um marco na área da educação, e do futuro do
país. Ela passou então a acreditar que seu sonho, embora parecesse impossível
inicialmente, poderia se transformar em realidade.
Assim foi feito. O projeto ‘Menina de Óculos Amarelos’ foi
desenvolvido e, depois de muita discussão e emendas, foi aprovado na sua
essência, e implantado. A viabilização da implantação, do ponto de vista
financeiro, foi a abertura da possibilidade de parcerias público privadas. O setor
privado se interessou e investiu no projeto, diante da possibilidade do abatimento tributário do dinheiro aplicado. O fato das empresas
participarem trouxe um benefício adicional pela inclusão no curriculum normal dessas
unidades de cursos técnicos profissionalizantes, para atender à demanda do mercado de mão de obra especializada. Assim, os alunos,
ao concluírem o Ensino Médio, passaram a contar com a possibilidade de serem contratados para um estágio remunerado pelas empresas da
região.
Nos vinte anos passados desde então, a menina agora moça, cursou Pedagogia e Administração de Empresas, e ainda vários
cursos de especialização. Foi professora por um determinado período e, mais recentemente, assumiu a direção de um desses colégios que hoje representam o que há de
melhor em termos de educação básica e serve de modelo para todo o mundo. No
futuro, ela pretende participar do grupo gestor, sediado na capital do país. Sua
carreira veio ao encontro de suas aspirações: “Faz o que gosta, é bem
remunerada, e fica feliz de ver o resultado do seu trabalho”. Aquele Deputado Federal que a ajudou lá atrás, atualmente é um Senador da República, muito respeitado, tendo sido reeleito para vários mandatos.
De vez em quando, pensava na concretização do
seu sonho ‘infantil’, tentando entender
como isso foi possível. Com base nos conhecimentos que acumulou durante a sua
formação, chegou à conclusão de que foi porque ela, inconscientemente, conseguiu
responder positivamente a algumas perguntas, cujas respostas definem a
possibilidade de um sonho se tornar realidade. A chamada ‘Sonhabilidade’.
Perguntas:
- Qual a sua missão de vida?
- Qual a sua visão de mundo e de si mesmo?
- Quais são os seus valores?
- Quais são seus sonhos, e como você poderá alcançá-los?
- Você tem sonhos, mas considera sua realização impossível.?
- Que tipos de habilidades e competências você necessita para realizar os seus sonhos?
- Como a sua carreira se encaixa em seu sonho?
Ela sempre acreditou que poderia fazer, e que merecia o que imaginava. Além disso, teve uma ‘atitude espiral’ para
realização – sempre esteve um passo acima ou adiante do anterior e, pouco a pouco,
o sonho foi evoluindo, deixando de ser uma ideia, se tornando realidade .
"Nós somos apenas os sonhos que sonhamos." (Fernando Pessoa)
(JA, Ago14)