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Fazenda dos Ingleses - Serramar

 

Fazenda dos Ingleses

A Fazenda dos Ingleses no bairro do Porto Novo, em Caraguatatuba, ano de 1927.

Essa pequena cidade, isolada como as demais do Litoral Norte, teve um importante empreendimento que iria mudar seus rumos econômicos e culturais.

De capital inglês, maquinários, novas técnicas, novas edificações e, sobretudo, novos costumes aportavam na Princesinha do Litoral. Era fundada a unidade da Cia. Brasileira de Frutas, ou mais comumente conhecida, a Fazenda dos Ingleses, em Caraguatatuba.

Durante 40 anos esta empresa utilizou a vasta retro área agricultável de Caraguá, na produção de laranja tipo grapefruit, bananas e de aguardente, sob uma rotina que mesclava modernas técnicas agrícolas e industriais.

Suas locomotivas interligavam todos os bairros da cidade, e findavam no Porto Novo, terminal ferroviário e fluvial. Neste local, as linhas de produção tratavam de embalar as frutas, produzir a cachaça e, finalmente, embarcar no Rio Juqueriquerê os produtos a serem enviados aos mercados da Europa.

Era uma das três maiores fazendas do gênero na América Latina, a Fazenda dos Ingleses tinha quatro mil alqueires de terras na grande planície entre Caraguatatuba e São Sebastião.

Em seu auge, 1930, cultivava quatro milhões de pés de banana e laranja, exportados diretamente para Londres em navios ingleses que fundeavam no Canal de São Sebastião.

Fazenda dos Ingleses e o terminal de embarque

Em seu interior, 120 quilômetros de linhas férreas escoavam a produção até o cais no Rio Juqueriquerê, onde era embarcada em chatões, e levada para embarque nos navios.

O empreendimento atraiu mão de obra de toda a região, desde Angra dos Reis até Santos, incluindo Paraibuna. Eram quatro mil trabalhadores residentes. Provocou aumento da população, dos meios de comunicação, incremento do comércio, e aumento das receitas municipal, estadual e federal. E colocou Caraguatatuba no mapa das exportações brasileiras.

A fazenda possuía quadras de tênis, campos de golfe e polo, cinema, e promovia campeonatos de futebol que reuniam até trinta times.

A decadência veio com a 2ª. Guerra Mundial (1939-1945), e com a catástrofe de 18 de março de 1967, quando uma tromba d'água na serra soterrou as plantações, e quase destruiu Caraguatatuba, provocando a morte de mais de três mil pessoas.

Na década de 90 ela foi comprada pelo grupo Serveng, que lá instalou a Serramar, projeto pecuário de alta tecnologia. Hoje abriga também o parque de tancagem de gás da Petrobrás, shopping Serramar, e o Hospital Regional.

Fim da Fazenda dos Ingleses

No ano de 1967, já combalida financeiramente, sucumbiu com a Catástrofe de Março daquele ano. Encerrou assim as atividades. O que restou para o futuro? Seu casario, suas ruínas, as lembranças e relatos dos caiçaras que, com orgulho, fizeram parte de seus quadros.

Poderíamos ter mais. Contudo, com o abandono e descaso de anos e anos, seus vestígios (principalmente no Porto Novo) foram destruídos ou perecem no tempo. As antigas casas dos trabalhadores poderiam ser restauradas, e as ruas reabertas, para uso como moradias de interesse social. Os antigos galpões, transformados em equipamentos públicos. O cais do porto fluvial, um local de passeio e lazer.

Enfim, todo o complexo, um sítio histórico de paisagem notável, que congrega vestígios arqueológicos, arquitetônicos, cênicos e imateriais seria, enfim, um patrimônio do município, motivo de orgulho e de desenvolvimento para Caraguatatuba, São Paulo, bem como para o Brasil.

Tombamento

O Conselho Municipal de Políticas Culturais de Caraguatatuba - CMPCC, se reuniu extraordinariamente nesta última quarta-feira (27), às 18h30, para discutir o tombamento de dois núcleos históricos da antiga Fazenda dos Ingleses, hoje Fazenda Serramar, e a criação de um Fundo Municipal de Cultura.

A proposta para o tombamento da Fazenda dos Ingleses, hoje conhecida como Fazenda Serramar, foi apresentada pelo arqueólogo e turismólogo Clayton Galdino, que a justifica pela ‘importância histórica, memorial e afetiva, relacionada às trajetórias econômicas, urbanas e sociais de Caraguatatuba e região’.

Galdino cita ainda ‘as potencialidades educacionais, artísticas e econômicas do uso adequado destes testemunhos, em especial no turismo, lazer, habitação, e equipamentos culturais e artísticos’. Por fim, alerta para ‘o risco de perda definitiva deste patrimônio pelo abandono, arruinamento, e impactos deliberados que porventura possam existir’.

O primeiro pedido de tombamento da fazenda foi feito em 1992, junto ao Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo - CONDEPHAAT, pelos vereadores Ilson Vitório, de Caraguatatuba, e João Siqueira, de São Sebastião. A proposta foi rejeitada porque o conjunto tinha interesse ‘apenas regional’, e não estadual...

Dois núcleos

O tombamento abrange dois núcleos.

O primeiro ao lado da escola estadual e da rodovia, que deu ao bairro o nome de Porto Novo: casas da vila de trabalhadores, dos chefes, galpões, cais de 100 m do porto no Juqueriquerê, e área de vegetação e mangue - único núcleo abrangido pelo pedido de tombamento anterior.

Ali existem nichos de vegetação que poderão se transformar num parque municipal e casas em diferentes graus de preservação.

O segundo núcleo está dentro da Serramar. Na época não esteve na rotina da comunidade, mas foi palco de eventos culturais. Era a antiga área residencial dos ingleses, hoje conhecida como ‘castelinho’, localizada no alto de um morro, bem em frente à entrada da fazenda. Inclui o trecho de estrada que permite o acesso ao morro.

Considerados sítios arqueológicos, ambos estão também com pedido de cadastramento junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Arqueológico Nacional - IPHAN.

Formalização

Com apoio da Associação Caiçara do Juqueriquerê - ACAJU, entidade que atua em rede com várias ongs locais, a proposta de tombamento foi protocolada, e vem sendo discutida no Conselho desde dezembro passado.

A Serramar, notificada desde o início, participa das discussões desde a última reunião do Conselho. A empresa parece sensível à sua importância histórica pois, em 2012, patrocinou livro e documentário sobre o assunto: ‘Grape Fruit com Banana’, trabalho da historiadora Glória Kok.

‘O tombamento não exclui a propriedade das áreas, apenas indica usos compatíveis com a preservação da memória. Prevê o restauro da fachada das construções, e manutenção de sua volumetria; permite novas edificações, desde que sigam estas normas; abertura das ruas internas - antes Rua do Porto, Rua dos Marítimos... - para que sejam novamente integradas ao bairro’, explica Galdino.

‘Os dois núcleos possuem alto potencial turístico, econômico e cultural. A preocupação é preservar seu aspecto paisagístico, arquitetônico, e histórico’, diz ele.

Inserido entre bairros carentes de estrutura urbana de lazer, estão previstos salas de aula a céu aberto, centro cultural, apoio ao turismo náutico, aos pescadores locais e à pesca esportiva.

O protocolo do tombamento prevê a proteção preliminar das áreas. Prefeitura e Fundação Cultural - FUNDACC foram notificadas para providências de fiscalização e fomento.

A preservação de todo este patrimônio também está prevista no Plano Municipal de Cultura até 2027, ano do centenário da antiga Fazenda dos Ingleses, quando o município tem que dar um destino público a estas áreas.

Patrimônio imaterial

Trata-se de um conjunto de várias manifestações intangíveis, como os ofícios das comunidades tradicionais, caiçaras, indígenas e quilombolas, festas religiosas, até receitas culinárias.

No caso da Fazenda dos Ingleses, objeto de vários livros já publicados, sua enorme influência ainda hoje permeia a cultura local. A poucas décadas, um jardineiro da região, analfabeto, referia-se à lanterna como ‘flash light’; e ao castelinho como ‘masters’, a residência dos chefes ingleses... Ele havia crescido na fazenda...

‘Trata-se de um anseio da comunidade, e tem forte apelo emocional. O tombamento traduz o sentimento de muita gente, moradores, ex-funcionários, seus filhos e netos’, diz Clayton Galdino, ele próprio neto de um antigo trabalhador da fazenda.

‘Este é um processo democrático, e o tombamento é apenas o primeiro passo. Nossa expectativa é que, a partir dele, se instale um diálogo constante entre a Serramar e a comunidade, quanto ao uso da área’. ‘Que a Serramar olhe para a História de Caraguatatuba’, finaliza.

Fazenda Serramar

Thadeu Penido, diretor da Serramar, filho de Pelerson Soares Penido, proprietário, conta que a fazenda Serramar nasceu da reunião, no início da década de 90, de outras propriedades que seu pai possuía em Santa Isabel (53 km de São Paulo), no Vale do Paraíba.

A escolha por Caraguatatuba se deveu principalmente à logística, e à chuva farta do litoral norte.

‘O calor é bravo, é verdade. Em compensação, chove bastante, o que é bom para a alimentação do gado. Além disso, produzíamos e distribuíamos 30 mil litros de leite/dia nas próprias cidades do litoral, volume que representava exatamente o consumo da região em 1990’, lembra Penido.

Aos poucos, segundo ele, o leite B da Serramar foi perdendo espaço para outros concorrentes. ‘Também entrou para valer o Longa Vida. Ele tem menos qualidade do que o nosso, o que lhe torna possível a redução do preço.

A saída foi procurar novos mercados. ‘Além do litoral, estamos hoje em cidades como Taubaté e São José dos Campos, ambas do Vale do Paraíba, e na capital’.

Em 92, os Penido fundaram em Caraguatatuba o seu próprio laticínio. Ele vai continuar funcionando, comprando e envasando leite de terceiros.

‘Nossa intenção é adquirir o produto de cooperativas, como a de Guaratinguetá, cuja qualidade de leite é garantida’, diz Thadeu.

A Serramar possui 1500 fêmeas em lactação. A produção média das vacas é de 20 a 22 litros de leite ao dia.

O plantel foi formado a partir de vacas PO (puras de origem) e POI (puras de origem internacional). Elas foram adquiridas em fazendas paulistas e mineiras.

‘Depois, com assessoria de Ângelo Venanzoni Roberti, um especialista em gado holandês, trouxemos 250 novilhas prenhas do Canadá. Fomos ainda buscar 350 embriões nos EUA’, diz Thadeu. 

 

Fonte: Raquel Salgado | Salim Burihan | FSP – Agrofolha | Nova Imprensa

 

(JA, Abr22)

 


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