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Cringe mania

 Favor sair da frente, que o novo sempre vem


A recente comoção com a palavra cringe levanta o tema do envelhecimento e não dá para ignorar o espanto causado pelo pequeno intervalo de idade entre quem está sendo zoado e quem zoa. Quando a geração Z (dos nascidos entre 1995 e 2010) passa a ridicularizar os millennials (nascidos entre 1980 e 1994), ela transforma pessoas na casa dos 20 anos em ex-jovens, dando margem a deliciosos memes e piadas. É claro que o maior prazer vem das gerações anteriores a 1980, que se sentem vingadas.

Entretanto, a interpretação do termo vai muito além da querela entre geração Z e millennials.

É comum as pessoas se sentirem ameaçadas pela forma como as novas gerações passam a desprezá-las. Envelhecimento é uma carta que só chega ao seu destino tarde demais e nem todo mundo abre. Por isso, a famosa crise dos 30 anos dá lugar à dos 40, dos 50 e assim sucessivamente. Se você puxar pela memória, no entanto, verá que mesmo crianças lamentam o fim da infância.

A forma como perseguimos uma certa imagem de nós mesmos acaba por impedir que nos movimentemos sem constrangimento. Afinal, queremos corresponder à consistência de uma foto, com seus retoques e melhores ângulos. Abriu a boca, se mexeu, e o risco de passar vergonha, e ser ridicularizado, começa a valer.

Podemos simplesmente nos constranger e rir ou —como habitual— passar a constranger os outros para nos safar. As disputas aqui são muitas, e encontram as mais diferentes artimanhas.

A youtuber Contrapoints, em vídeo longo e ultra didático, faz questão de propor uma análise ‘psicanalítica’ da palavra, embora faça uso de vasta terminologia psicológica —tem até colinha no final.

O vexame que alguns adultos dão, sem perceber, quando se põem a disputar lugares com os mais jovens, vai do risível ao tétrico. E revela a forma como não são capazes de suportar o lugar de rebotalho, como Lacan chamava o lugar do analista. A disputa por prestígio dá margem a mais críticas, cara de enfado, e olhos revirados, criando um ciclo patético. Insisto que o rir de si é, disparado, o melhor remédio.

Como diz o ditado popular ‘quem desdenha quer comprar’, ou seja, algo naquele que desprezo me interessa. Pode ser de uma forma sádica ou empática, mas, certamente, não indiferente.

Se juntarmos as duas questões, veremos que nunca foi tão difícil assumir a passagem do tempo, em uma cultura na qual as redes sociais funcionam como retratos de Dorian Gray. Lá estamos sempre lindos, congelados no tempo, mesmo que à base de muito Photoshop. Mas, quando saímos para encontrar o bofe, ao vivo e em cores, o que deveria ser retrato, revela-se assustadoramente real. Essa é uma das hipóteses que justificaria o desinteresse dos mais jovens pelos encontros sexuais, mesmo antes da pandemia.

O tema é curioso, ainda mais quando sabemos que, a partir de 2022, a velhice será considerada doença pela Organização Mundial de Saúde —o gene que a desencadeia vem sendo pesquisado obstinadamente por cientistas de Harvard. Se a velhice for doença, poderá ser erradicada, tornando a imortalidade o novo produto na prateleira capitalista, que os despossuídos jamais alcançarão.

Se serve de consolo, a imagem de Elon Musk levando milionários imortais para viver nos subterrâneos de Marte, faz o inferno de Dante Alighieri parecer a Disneylândia.

Sugiro sairmos com graça e dignidade, quando nossa vez chegar.

 

 


Imagem em destaque: Pato Donald traduzido no Brasil nos anos 50, extremamente popular nos anos seguintes, ria ‘quá, quá, quá’

Fonte: Vera Iaconelli, Diretora do Instituto Gerar de Psicanálise, autora de ‘O Mal-estar na Maternidade’ e ‘Criar Filhos no Século XXI’. É doutora em psicologia pela USP | FSP


(JA, Jun21)

 


 

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