Pátio Colégio, Henrique Passos |
A história de São Paulo inicia-se no século XVI, com a
chegada de navegadores portugueses e espanhóis, com o descobrimento do Brasil.
No entanto, apenas em 1532 o português Martim Afonso de Sousa iria fundar a
primeira povoação de origem europeia na América — a vila de São Vicente, na
atual Baixada Santista, realizando também as primeiras eleições em continente
americano.
A fundação de São Paulo está ligada da ao processo de
ocupação e exploração das terras americanas pelos portugueses, a partir do
século XVI. Inicialmente, os colonizadores fundaram a Vila de Santo André da
Borda do Campo (1553), constantemente ameaçada pelos povos indígenas da região.
Mem de Sá |
O povoamento da região de São Paulo teve início em
1560, quando, por ordem de Mem de Sá, governador geral da colônia, que mandou a
população da vila de Santo André da Borda do Campo para os arredores do
colégio, denominado ‘Colégio de São Paulo de Piratininga’ – o nome foi
escolhido porque dia 25 de janeiro a Igreja Católica celebra a conversão do
apóstolo Paulo de Tarso. Desta forma, a vila de Santo André da Borda do Campo
foi extinta, e São Paulo foi elevada à categoria de vila.
A história da cidade de São Paulo ocorre paralelamente
à história do Brasil, ao longo de 465 anos de sua existência, completados nesta
6ª feira, 25 de janeiro de 2019, contra quinhentos e tantos anos do país.
Estrada de São Paulo pelo caminho do Rio de Janeiro Aquarela de Jean-Baptiste Debret, 1827
Era uma cidade de difícil acesso, pois arriscava-se a
vida para escalar a Serra do Mar, quase uma muralha. Os primeiros jesuítas
fixaram-se num platô onde já viviam os caciques Tibiriçá e sua gente, onde é
hoje o convento de São Bento. Terra fértil, de grande campo e muitos pinheiros,
onde os inimigos não podiam chegar sem serem vistos. A cidade nasceu em 25 de Janeiro de 1554, por ação um grupo de
religiosos jesuítas, chefiado pelo padre Manoel da Nóbrega e do qual fazia
parte José de Anchieta.
Pátio do Colégio |
Segundo os relatos dos padres, o lugar foi escolhido por
seu clima agradável, sua vegetação do campo e suas águas limpas e abundantes. E
o principal: pela presença, na região, de uma numerosa população indígena que
já convivia com os portugueses, pronta
para ser catequizada, batizada e transformada em um rebanho de fieis servidores
da igreja católica.
O abandono da antiga Vila Santo André aconteceu por
causa da condição de pobreza, e da
situação de medo em que viviam seus habitantes diante das constantes ameaças de ataques dos Carijós e de outras
tribos indígenas inimigas.
Isso levou o primeiro povoado paulista do planalto a
sair da borda do campo e ir reunir-se ao que estava dentro dos campos de
Piratininga, para o interior de São Paulo, se afirmando como posto de
colonização portuguesa em terras Paulistas.
A situação não era nada boa na Vila de São Paulo. No
entanto, a pequena vila formada em torno do colégio dos padres ia crescendo
cada vez mais, assim como outros aldeamentos indígenas eram criados pelos
jesuítas nas vizinhanças. Aldeamentos que viriam a ser a origem e dar o nome a
atuais bairros paulistanos, como São Miguel Paulista, Pinheiros, Penha e Santo
Amaro, e de cidades da Região Metropolitana de São Paulo, como Guarulhos,
Barueri e Carapicuíba.
Pode-se dizer
que o nome do estado de São Paulo vem do nome da cidade de São Paulo. Ela é a
primeira vila colonial brasileira, que se tornou a capital do estado e maior
cidade do país. Então, São Paulo é um estado brasileiro cujo nome nasceu nos
primeiros tempos das capitanias hereditárias.
Naquela época um dos confrontos mais intensos que os
portugueses enfrentaram na região do atual estado de São Paulo foi com os
índios Tamoios, do grupo Tupinambá. Aqueles indígenas dominavam o litoral norte
paulista e o litoral sul fluminense. Aliados dos franceses, tornaram-se grande
ameaça aos povoados e vilas organizados pelas colonizações portuguesas.
Em determinado momento da guerra, os jesuítas Manuel
da Nóbrega e José de Anchieta foram para região de Ubatuba. Ali conseguiram, em
1563, estabelecer um acordo de paz. Sobre esse acordo, escreveu Anchieta:
‘Visitamos suas aldeias e eu dizendo-lhes que se
alegrassem com nossa vinda e nossa amizade, que gostávamos de estar com eles
para ensinar-lhes as coisas de Deus, que lhes daria saúde, alimento em
abundância e a vitória sobre seus inimigos. Mas a razão principal que os levou
a aceitar a paz não foi o medo dos
cristãos nem a necessidade de suas coisas, que os franceses também lhes dão,
como roupas, ferramentas e arcabuzes, e sim a possibilidade de agora guerrear
com seus inimigos, os Tupi, que tem sido nossos aliados e dos quais, de uns
tempos para cá, alguns também andam se levantando contra nós’.
Por volta de 1600, a população da Vila de São Paulo
era formada pelos colonos e suas famílias e principalmente por índios e
mamelucos, os mestiços de índios e brancos.
A presença dos indígenas na vila de São Paulo foi
muito importante, desde o começo. Os indígenas:
Faziam o trabalho pesado nas roças e os serviços domésticos;
Transportavam as cargas entre o planalto e litoral, descendo e subindo
as encostas das serras do Mar;
Guiavam as expedições ao sertão;
Conheciam os caminhos por entre as matas e sabiam construir canoas de
tronco inteiriço para navegar pelos rios;
Desciam
os frutos das matas para alimentar-se durante as longas permanências nos
sertões e as plantas que serviam de medicamento, para curar febres, ferimentos,
etc.
Assim, quando nos tempos coloniais se dizia que os
colonos paulistas sobreviveram com o remédio dos sertões, não era só maneira de
falar, era a realidade:
Proprietários e índios cativos em São Paulo
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e Santana de Parnaíba, 1630-1699
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Numero de
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Numero de
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Proprietários
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Índios cativados
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1630-1639
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99
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2804
|
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1640-1649
|
111
|
4060
|
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1650-1659
|
142
|
5375
|
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1660-1669
|
148
|
3752
|
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1670-1679
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138
|
3686
|
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1680-1689
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159
|
3623
|
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1690-1699
|
71
|
1058
|
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A escravização indígena era uma atividade que gerava
lucros internos, ou seja, a metrópole portuguesa não se beneficiava com ela.
Portanto, a preferência pelo trabalho escravo negro e não pelo índio se deve ao
fato de que o comércio internacional de escravos trazidos da costa africana era
tão tentador que acabou se transformando no negócio mais lucrativo da Colônia.
Portugueses, holandeses e, no final do período
colonial, brasileiros disputaram o controle dessa área tão lucrativa. Portanto,
o tráfico se tornou mais do que um meio de prover braços para a grande lavoura
de exportação, mas uma potencial fonte de riqueza para quem vendia os escravos,
tratados como coisa, produto.
Devido às dificuldades encontradas em escravizar os
índios, a partir de 1570 a Coroa portuguesa passou a incentivar a importação de
africanos, tomando também medidas para tentar evitar a escravização desenfreada
e o morticínio indígena.
Porém, a transição da escravização indígena para a
negra africana se deu de maneira diferente na América portuguesa, variando no
tempo e no espaço. Ela acabou mais rapidamente no núcleo mais importante da
empresa mercantil, destinada à exportação de produtos agrícolas em grande
escala. E demorou mais para acabar nas regiões periféricas, como é o caso de São
Paulo.
Aclamação de Amador Bueno – Oscar Pereira da Silva, 1931 |
O século XVII foi bastante agitado para o paulista.
Além das expedições e das bandeiras, um
episódio bastante peculiar colaborou para a movimentação na vida política da
vila. Esse episódio ficou conhecido como Aclamação de Amador Bueno.
Em 1640, terminou o período do chamado Domínio
Espanhol (1580-1640), quando as coroas portuguesas e Espanholas estiveram unidas.
Em 1641, os paulistas temiam que o novo governo de Portugal resolvesse proibir
de vez a escravidão indígena. Além disso, temiam que os portugueses proibissem o comercio que era feito com os
colonos espanhóis do rio da Prata.
Amador Bueno, Belmonte |
Então, fazendeiros e comerciantes paulistas criaram em
São Paulo uma espécie de reino independente, e aclamaram como rei Amador Bueno,
um morador local. Amador ponderou, mas rejeitou a proposta, mais por temor das
consequências sobre seus negócios do que por fidelidade aos portugueses e seu
rei. Dizem que foi até ameaçado de morte caso não quisesse empunhar o cetro
tendo que sair de casa fugido para esconder-se no Mosteiro de São Bento.
Porém,
depois de intensas negociações, os apoiadores da proposta tiveram garantias de
que seus negócios não seriam afetados por Portugal e assim declararam e
prestaram juramento ao rei de Portugal, D. João IV.
O episódio foi o primeiro gesto de autonomia ocorrido
na colônia e, não por acaso, surgiu em São Paulo, terra de pouco contato com
Portugal, miscigenação com indígenas e estrangeiros, além de um inquebrantável
sentimento de autoridade regional e subcontinental, que permanece até os dias
de hoje
Bandeirantes
Os bandeirantes andavam quase sempre descalços,
vestidos com um colete feito de couro de anta e com um pequeno chapéu,
também de pele de anta. Sua alimentação era feita a maneira
indígena, sendo a mandioca o alimento básico, acompanhada de carne seca. Com
farinha de milho, feijão e toucinho, faziam o virado à paulista consumido frio.
Quando faltava comida, ingeriam formigas, larvas, largados, sapos e cobra. Para
cozinhar, montavam pequenas fogueiras a moda dos índios, usados três pedras
colocadas no chão em forma de triângulo.
Antônio Raposo Tavares |
Antônio Raposo Tavares fez a travessia de São Paulo
até Belém, no atual estado do Pará, usando os rios Tiete, Paraná, Paraguai,
Madeira e Amazonas.
Fernão Dias Paes |
Fernão Dias Pais nasceu em 1608 e morreu em Minas
Gerais no ano de 1681. Passou sete anos nas matas das serras de Minas Gerais,
abrindo caminho para a descoberta das minas de ouro. Juntou fortuna com o
negócio de capturar e vender índios como escravos para os próprios colonos
paulistas e para colonos de outras capitais. Depois, ganhou fama procurando
ouro e pedras preciosas, as esmeraldas, nos sertões de Minas Gerais. No comando
da expedição, por lá andou nos seus últimos anos de vida e ali morreu, sem
encontrar as valiosas pedras verdes.
Se, por um lado, a bravura dos bandeirantes e a grande
contribuição que deram para a expansão do nosso território não podem ser
esquecidas, temos de lembrar que a atuação deles foi cercada por muita
violência e crueldade. É importante lembrar, por exemplo, que as bandeiras tinham como um dos seus objetivos a captura
de índios para trabalhar como escravos nas vilas e cidades que se formavam.
Além disso, alguns donatários e governadores-gerais incumbiam os bandeirantes
de trazer de volta os escravos fugitivos, indígenas ou negros, que se escondiam
no sertão. Os bandeirantes usavam de muita violência nessas ações. Eles também
entraram em conflito com os jesuítas
Muitas vezes, os bandeirantes invadiam e destruíam as
missões, os aldeamentos fundados pelos padres para catequizar os indígenas.
Além de catequizar, os jesuítas utilizavam a mão-de-obra indígena em diversas
atividades realizadas nos aldeamentos. Como esses índios já estavam adaptados
ao trabalho, os bandeirantes invadiam as missões para aprisioná-los e
comercializá-los como escravos.
Brasão Cidade de São Paulo |
Fonte: Teixeira, Francisco M. P. História de São
Paulo: 5º ano. São Paulo: Ática, 2008. Weinstock
, Marcos. Revista de São Paulo: Prefeitura da Cidade de São Paulo: CTP.
Impressão e Acabamento, 2010.
(JA, 25-Jan19)