Um resumo das ideias popularizadas por Nassim Taleb, chamando atenção para o fato de que eventos
de baixa probabilidade, podem ocorrer, e ter um alto impacto
Vivemos num
mundo em que não conhecemos. Esta é a premissa básica da teoria dos Cisnes
Negros, popularizada pelo pensador contemporâneo Nassim Taleb. Ele trabalhou
por muito tempo como trader no mercado financeiro, e neste ramo, viu várias
pessoas fazerem fortunas espetaculares para tudo virar pó em alguns dias.
Cisnes
Negros são eventos de baixa probabilidade, mas impacto extremamente elevado. É
um outlier difícil de acontecer, mas que pode ocorrer um dia, e, se ocorrer,
terá efeitos catastróficos.
Esta é a
definição, mas não o problema real. O grande problema é que o ser humano tende
a subestimar a existência de Cisnes Negros. Uma das razões é que, por serem tão
raros, alguns desses eventos nunca ocorreram na história. E, mesmo nos casos em
que ocorreram, rapidamente o conhecimento humano se adapta para mostrar que o
evento era previsível, não era tão aleatório assim. É o que Taleb chama de
‘falácia narrativa’. Um exemplo são os economistas ‘profetas’ que afirmaram que
‘era evidente que a crise de 2008 iria ocorrer, devido aos riscos dos títulos
sub-prime’. Tudo isso a posteriori, é claro.
O termo
Cisne Negro remete a uma história. No séc. XVII pensava-se que todos os cisnes
fossem brancos. Por mais cisnes que fossem vistos, eles eram todos brancos. Até
que, na Austrália, foi descoberto o primeiro cisne negro. Apesar de milhares de
anos de observações de cisnes brancos, bastou um único evento de cisne negro
para derrubar a hipótese de que ‘todos os cisnes são brancos’. Este termo foi
criado pelo filósofo inglês David Hume, nos anos 1700, justamente para
demonstrar o ‘Problema da Indução’, ou seja, a fraqueza do nosso processo de
raciocínio indutivo.
Não-linearidade do mundo
O mundo
conhecido, dos acadêmicos e MBA’s mundo afora, é o da curva gaussiana. Ela tem
erroneamente tem o nome de ‘curva normal’, indicando que os fenômeno seguem uma
ordem pré-estabelecida. Entretanto, a
curva normal ignora grandes variações possíveis, joga fora o desconhecido –
ignora o não-linear. Taleb chama o mundo
gaussiano de ‘Mediocristão’.
O mundo real
é governado pelo não-linear, exponencial. É regido por leis de potência e pelo
improvável: alguns poucos ficam com tudo; alguns eventos são de magnitude
maiores do a de todos que já ocorreram;
o que desconhecemos é muito maior do que o que conhecemos. Este é o ‘Extremistão’,
em oposição ao ‘Mediocristão’. É o mundo escalável, exponencial, onde o vencedor-leva-tudo.
Nele o resultado é desproporcional ao volume de trabalho - pode-se ficar
milionário ou falido num instante.
O mundo é
não-linear. A lei de potências governa o
mundo, não a curva gaussiana de probabilidade normal.
Vale a pena
pontuar alguns casos de não-linearidade histórica: os ataques terroristas de 11 de setembro de
2011, o surgimento do Google, a crise financeira de 2008, o surgimento da
internet, o tsunami de 2004 na
Indonésia. Nem a internet, nem o Google, foram previstos pelos livros de ficção
científica, nem pelos acadêmicos e executivos.
Os ataques
de 11 de setembro são um caso bastante ilustrativo. Foi algo completamente
imprevisto, deixando o mundo inteiro em choque, e mudando completamente o rumo
da história. O mundo ficou paranoico com o terrorismo. Dificilmente as guerras
posteriores no Iraque e no Afeganistão teriam justificativas não fosse o
combate ao terror.
A história é
como uma caixa-preta. Conhecemos apenas os eventos da história, mas não os
fatores que causaram o mesmo. Temos apenas a interpretação de historiadores,
que é feita a posteriori e a partir de um ponto de vista subjetivo, não
conhecemos os reais geradores dos eventos. Os eventos importantes são
não-lineares. A história não rasteja, ela anda aos pulos. Entretanto, agimos
como se fosse possível prever o curso da história, e pior ainda, mudá-lo.
Apesar de
nossos avanços tecnológicos, ou talvez por causa deles, o futuro será governado
cada vez mais por eventos extremos.
Como proceder
Para Cisnes Negros
negativos
Aceitar que
não podemos prever o futuro, e que portanto é recomendável tomar medidas de
precaução contra os cisnes negros negativos: seguros, opções, planos B.
Para Cisnes Negros
positivos
Para
os cisnes negros positivos, a recomendação é a oposta: expor-se ao risco. Muita
exploração agressiva, tentativa e erro, participar de festas e conversar com
desconhecidos completos, tentar algo que nunca fora feito antes. A grande
maioria dessas tentativas vai dar em nada, mas um único acerto pode valer todas
as tentativas.
Se, por um
lado, uma estratégia é a de ter opções, seguros e robustez, por outro lado
devemos explorar agressivamente as oportunidades. E qual é a proporção ideal? A resposta é adotar a estratégia ‘Barbell’.
Ela nos remete à imagem de uma barra de
pesos: ser extremamente conservador em um extremo (digamos, 90% do investimento
em títulos bastante sólidos, renda fixa, ouro), e extremamente agressivo no
outro extremo (digamos 10% do investimento em opções de alta volatilidade).
A pior
estratégia é ficar 100% no meio do caminho, nem tão conservador, nem tão
agressivo: não há possibilidade de um cisne negro positivo, e também há risco
de ser atingido por um cisne negro negativo.
Conclusão
Há várias
formas de encarar o mundo. Algumas mais platônicas, em que achamos que a
ciência pode modelar o mundo, os algoritmos do big data e os sensores da
internet, e nos fornecer informações mais exatas do que qualquer outro ser
humano. Ou então, que as respostas que precisamos venham de alguma crença, instituição,
ou bandeira ideológica.
Outra forma
de ver o mundo é assumir que não há como sabermos tudo. Sempre haverá mais no
céu e na terra do que sonha a nossa vã filosofia. Há desconhecidos que fogem ao nosso controle.
Sábio é nos precavermos de imprevistos, através de seguros, opções e redundâncias.
Ser cético para com a ciência e as certezas, e abraçar a aleatoriedade.
Em termos de
projetos, é melhor ter vários ciclos simples e rápidos, de tentativa e erro no
mundo real, do que um mega projeto planejado detalhe a detalhe, do começo ao fim.
Racionalmente,
concluímos: não é difícil aceitar que
‘Vivemos em
mundo que não conhecemos’
(JA, Set18)