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Pênalti

 
O pênalti pode não ser justo, mas é mais justo que o mundo cruel que havia antes de Willie McCrum inventar o castigo máximo.

Seu bisneto, o admirável Robert McCrum, escreveu uma breve biografia da família na qual Willie é personagem central. ‘The Penalty Kick: The Story of a Gamechanger’, é o nome do seu ensaio.

Como diria Hobbes sobre o estado da natureza que precede o Leviatã, o futebol antes das regras era uma existência pobre, sórdida, brutal e, às vezes, curta. Isso para um jogador ‘normal’, digamos, que saía sempre partido da partida.

Para o goleiro, e nas palavras de McCrum, era preciso ter uma vocação de psicopata, ou de masoquista, para aceitar matar, ou morrer.

Aliás, antes da Football Association ser criada, na Inglaterra, em 1863, ‘carregar no goleiro’ era uma tática permitida. ‘Carregar no goleiro’ sem ele ter a bola, entenda.

Com a bola, não só era permitido como obrigatório. O goleiro, sabendo disso, reagia em conformidade. É impossível estimar com rigor o número de dentes que se perderam nessa pré-história.

Willie não se conformou. Apesar de ser goleiro em Milford, condado de Armagh, na Irlanda do Norte, no final do século 19, queria um pouco de ordem, mesmo que isso punisse o goleiro. A justiça era mais importante que a conveniência.

E, aos 25 anos, apresentou a ideia aos ingleses.

Agora, imagine: um irlandês, vindo do fim do mundo, ensinando aos ingleses como jogar futebol?

Riram dele. Insultaram o pobre Willie. Pênaltis para quê? A ideia era até insultuosa: eram cavalheiros que jogavam futebol, não bárbaros.

Apesar de tudo, a ideia triunfou a partir de 1891. A resistência continuou, pelo menos no crepúsculo do esporte amador: um dos times mais importantes da virada do século na Inglaterra —sim, seu nome era Corinthian— nunca aceitou o pênalti.

Quando o juiz marcava, o goleiro do Corinthian saía da frente, encostava no poste e fumava, deixando o gol aberto. Antes perder o jogo que perder as maneiras.

Há algo de premonitório nesse ódio inglês ao pênalti, escreve McCrum, e com razão: os pênaltis, sobretudo em jogos decisivos, é uma maldição que não passa para os súditos de Sua Majestade.

Antes de 1970, tudo foi tentado para desfazer os empates, explica o autor. Gol de ouro. Moeda ao ar. Até tempo ilimitado, o que não deixou de produzir situações inusitadas: conta McCrum que, no pós-Segunda Guerra, houve casos de jogos que duraram três horas.

A torcida começava a ver o jogo, saía para jantar, regressava – e o jogo ainda decorria. A vitória era decidida por exaustão. Os pênaltis acabaram com essa tortura.

Pena que Willie McCrum não tenha sobrevivido para ver o destino da sua ideia: morreu em 1932, afundado em álcool e na miséria, depois da falência da fábrica de tecidos da família.

O pênalti foi o único ponto de luz numa vida obscura. Mas só um irlandês, vindo das margens do império, poderia inventar aquele minidrama de redenção –ou danação– para um dos participantes solitários.

É como se Willie acreditasse, contra as evidências da sua própria vida, que depois do infortúnio ou da injustiça, ainda há espaço para uma segunda oportunidade. 

Fonte: João Pereira Coutinho, escritor, doutor em ciência política pela Universidade Católica Portuguesa

 

(JA, Dez24)

 

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