Neste dia 25 de janeiro a cidade completa 467 anos. O que determinou a escolha da data
Fundação
Em 25 de janeiro de
1554,
o padre Manuel de Paiva celebrou no local a primeira missa de São Paulo. De
acordo com a igreja católica, o apóstolo Paulo teria se convertido ao
cristianismo neste dia. Por isso, a data foi escolhida para marcar a instalação
dos jesuítas na cidade. Também se deve a este fato que a cidade tenha sido
batizada com o nome de São Paulo.
A fundação de São Paulo insere-se no processo de ocupação e exploração das terras brasileiras pelos portugueses, a partir do século 16. Nessa época, o grupo de padres da Companhia de Jesus, escalaram a serra do mar com a intenção de construir um colégio católico.
O padre José de Anchieta, em carta à Companhia de Jesus, explicou as razões da escolha do nome e da data:
‘A 25 de Janeiro do
Ano do Senhor de 1554, celebramos, em paupérrima e estreitíssima casinha, a
primeira missa, no dia da conversão do Apóstolo São Paulo. Por isso, a ele
dedicamos nossa casa!’
Ao redor do colégio,
formou-se uma pequena povoação de índios convertidos, jesuítas e colonizadores
portugueses. Em 1560, a população do povoado seria expressivamente
ampliada, quando, por ordem de Mem de Sá, governador-geral da colônia, os
habitantes da vila de Santo André da Borda do Campo foram transferidos para os
arredores do colégio. A vila de Santo André é extinta, e o povoado é elevado a
esta categoria, com o nome de ‘Vila de São Paulo de Piratininga’. Por ato
régio, é criada, no mesmo, ano, sua Câmara Municipal, então chamada ‘Casa do
Conselho’. É provavelmente nesse mesmo ano de 1560 que é criada a ‘Confraria da
Misericórdia de São Paulo’ (atual Santa
Casa de Misericórdia).
Em 1562,
incomodados com a aliança entre tupiniquins e portugueses, os índios
tupinambás, unidos na Confederação dos Tamoios, lançam uma série de ataques
contra a vila em 9 de julho, no episódio conhecido como Cerco de
Piratininga. A defesa organizada por Tibiriçá e João Ramalho impediu que os
tupinambás entrassem em São Paulo, e os obrigou a recuar, em 10 de julho do
mesmo ano.
Ainda em 1590, com a
iminência de um novo ataque a cidade novamente se prepara com obras de defesa,
e é claro que nesse ambiente cheio de incertezas a prosperidade se torna
impossível. Mas na virada do século 17 a situação se acalma e se consolida o povoamento, nas
palavras de Alcântara Machado:
‘Afinal, com o recuo, a submissão e o extermínio do gentio
vizinho, mais folgada se torna a condição dos paulistanos e começa o
aproveitamento regular do chão. Deste, somente deste, podem os colonos tirar
sustento e cabedais [bens
materiais]. É nulo,
ou quase nulo, o capital com que iniciam a vida. Entre eles não há
representantes das grandes casas peninsulares [famílias do Reino], nem da burguesia dinheirosa. Certo que
alguns se aparentam com a pequena nobreza do reino. Mas, se emigram para província
tão áspera e distante, é exatamente porque a sorte lhes foi madrasta na terra
natal. Outros, a imensa maioria, são homens do campo, mercadores de recursos
limitados, artífices aventureiros de toda casta, seduzidos pelas promessas dos
donatários ou pelas possibilidades com que lhes acena o continente novo’.
Ocupação da
cidade
Desde o início, a ocupação
das terras da cidade se deu de forma policêntrica, com diversos aldeamentos,
principalmente jesuítas mas também de outras ordens eclesiásticas, em torno das
quais iniciavam-se as aglomerações. A motivação mais natural para isso, em São
Paulo, era o relevo da cidade, com muitos aclives e riachos. A organização
urbana, da mesma forma que em toda a colônia, era centrada, administrativa e
eclesiasticamente, nas paróquias. Cada paróquia era centrada em uma capela.
A primeira paróquia foi,
naturalmente, a Freguesia da Sé, fundada em 1589. Conforme os demais núcleos foram crescendo, eles
desmembraram-se, com novas capelas ganhando status de paróquia. As paróquias
desmembradas do centro foram:
o 1796, 26 de março: Paróquias de Nossa Senhora do Ó e Penha de
França, ambas distantes cerca de 10 km do centro.
o 1809, 21 de abril: Paróquia da Santa Ifigênia, mais próxima
mas naturalmente separada pelo rio Anhangabaú.
o 1812, 21 de outubro: Paróquia de São Bernardo, que no ano
seguinte (1813, 9 de novembro) foi ainda elevado a distrito.
o 1818, 8 de junho: Paróquia do Brás, também mais próxima, mas
naturalmente separada pelo rio Tamanduateí.
Além dessas, houve diversos
aldeamentos mais distantes. Dentre eles, apenas dois prosperaram: o de
Pinheiros e o de São Miguel, ambos fundados por José de Anchieta em 1560. Diversos
aldeamentos foram dizimados pela varíola, dentre os quais podemos citar:
Itaquaquecetuba, Mboy, Itapecerica, Barueri, Guarapiranga, Carapicuíba,
Ibirapuera e Guarulhos.
São desta época os primeiros
caminhos: o que ia ao Campo do Guaré (hoje
chamado bairro da Luz), tornou-se a atual
Florêncio de Abreu. Os outros dois, dariam origem às hoje denominadas rua 15 de Novembro e
rua Direita.
Também no século 16 são fundadas
novas igrejas: a Matriz, em 1588
(primeiro protótipo da Sé paulistana), a
de Nossa Senhora do Carmo, de 1592
(demolida em 1928), a Igreja de Santo
Antônio (ainda hoje na Praça do
Patriarca), e a capela de Nossa Senhora
da Assunção, por volta de 1600 (que daria
origem ao atual Mosteiro de São Bento).
Um viajante chegando à cidade nas primeiras décadas do século 19 veria algo
como:
‘Depois de ultrapassar a
Igreja da Penha sobre sua pequena colina, ele descortinaria, ao longe, o sítio
inteiro da cidade. Sobreposta sobre outra colina, São Paulo apareceria dominado
pelas torres de suas oito igrejas, seus dois conventos, e seus três mosteiros.
Era ainda necessário caminhar quase nove quilômetros, atravessar o pequeno
aglomerado formado em torno da Igreja do Brás, passar o sítio pantanoso do
Carmo, cruzar a ponta lançada sobre o Riacho do Tamanduateí para chegar afinal
ao centro urbano’.
A base da alimentação nos
primeiros tempos era formada pela canjica, ensinada pelo índio, e o angu de
fubá ou de farinha de milho e de mandioca. Convenientemente que esses alimentos
não precisavam de sal, que naquela época era raro. A mandioca, que era o
principal alimento no início do aldeamento, foi, aos poucos, sendo superada
pelo milho. O trigo, embora desse bem na região, não foi muito utilizado no
início - apenas para hóstias e bolinhos - devido a facilidade de se obter a
mandioca e o milho. Apenas nos primeiros anos do século dezessete que se
iniciou uma produção maior de trigo, com pelo menos cinquenta plantadores de
trigo no planalto e diversas licenças da Câmara para os moradores fazerem seus
próprios moinhos.
Além desses alimentos-base, podia-se encontrar frutas bravas e selvagens, palmitos e outros alimentos encontrados nas roças dos índios], bem como muitas frutas europeias, como maçãs, pêssegos, amoras, melões e melancias. A cultura da vinha também teve desenvolvimento nos primeiros anos, sendo que se encontrava sempre muito vinho na vila, a não ser quando os comerciantes espertos tentavam o açambarcamento. Esses vinhos muitas vezes eram utilizados como remédio, servindo de veículos para plantas medicinais. O mesmo se dava com a cachaça que era produzida na região.
Bandeirantes
No século 17, as
atividades econômicas da vila limitavam-se quase que exclusivamente à
agricultura de subsistência. A produção e exportação de açúcar não tinha grande
desenvolvimento, embora crescessem outros cultivos nos arredores da vila, como
o de trigo, mandioca e milho, além da criação de gado. Não obstante, São Paulo
permanecia como um núcleo de povoamento pobre e isolado das áreas mais
dinâmicas da colônia. Assim, já nas primeiras décadas do século, os paulistas
começaram a organizar as bandeiras – grandes expedições que partiam em direção
aos sertões inexplorados da colônia, em busca de mão-de-obra indígena, pedras e
metais preciosos. Em pouco tempo, os bandeirantes se tornaram os grandes
responsáveis pela ampliação dos limites das fronteiras da colônia, incorporando
ao território do Brasil inúmeras áreas que, de acordo com o Tratado de
Tordesilhas, pertenciam à Espanha.
Os bandeirantes se tornaram figuras centrais na história política de São Paulo no século 17, e a autoridade local dos exploradores por vezes sobrepujava os interesses da Igreja Católica e da própria coroa portuguesa. Em 1640, a forte oposição dos jesuítas à captura e comercialização da mão-de-obra indígena promovida pelos bandeirantes levou a uma série de conflitos entre os dois grupos, que culminariam, em 13 de julho daquele ano, com a expulsão dos jesuítas de São Paulo, medida que teve apoio dos comerciantes da vila. Os jesuítas só obteriam permissão para retornar a São Paulo em 1653.
É também na vila de São Paulo
que se registra, no mesmo ano de 1640, o primeiro movimento nativista do Brasil, a chamada ‘Aclamação
de Amador Bueno’. Com o fim da Guerra da Restauração, em que Portugal
restabeleceu sua independência política da Espanha, os moradores de São Paulo,
principalmente bandeirantes e comerciantes, temiam ser prejudicados, já que
haviam se beneficiado economicamente do contrabando de índios na região do rio
da Prata durante as décadas em que vigorou a União Ibérica. Como forma de
protesto, declararam São Paulo reino independente, e Amador Bueno, capitão-mor,
rico morador da vila e irmão do bandeirante Francisco Bueno, é aclamado como
rei. Amador Bueno, no entanto, rejeita o título e jura fidelidade à coroa
portuguesa, encerrando o levante.
Em um primeiro momento, a
concentração da atividade bandeirista em São Paulo fomentou, ainda que de forma
tímida, a atividade econômica da vila, que ensaia exercer, pela primeira vez, a
posição de entreposto comercial. Alguns bandeirantes, enriquecidos com o
comércio de escravos indígenas, faziam benfeitorias na vila. Fernão Dias,
eleito juiz ordinário e presidente da Câmara Municipal, por exemplo, doou aos
monges beneditinos os recursos necessários para a reconstrução do Mosteiro de
São Bento. Outras ordens religiosas se instalariam na cidade no século 17, como os
franciscanos, que em 1647 haviam inaugurado o convento (demolido em 1932, para dar lugar à Faculdade de
Direito) e a igreja de São Francisco, no
largo homônimo.
A corrida pelo ouro
Estrategicamente localizada
defronte os principais caminhos para o interior, e banhada pelo rio Tietê (cujo curso natural servia de caminho ao interior da
capitania e à atual região Centro-Oeste),
São Paulo converteu-se no principal centro do movimento bandeirante,
especialmente a partir da década de 1660. Foi da vila que partiram as históricas expedições de
Fernão Dias Pais, Antônio Raposo Tavares, Domingos Jorge Velho e de Bartolomeu
Bueno da Silva, entre outras.
Em 1690, os
bandeirantes paulistas descobriram ouro no ‘Sertão do Cuieté’, atual estado de
Minas Gerais. Repetiriam o feito alguns anos mais tarde, em Mato Grosso e
Goiás. Primeiros a explorar e ocupar o território mineiro, os paulistas logo
enfrentariam a concorrência de luso-brasileiros de outras regiões da colônia,
culminando no conflito denominado Guerra dos Emboabas. A descoberta paulista
despertou pela primeira vez a atenção do reino português sobre a vila, já que
São Paulo, a essa altura, não apenas concentrava a partida das expedições, mas
também tornara-se o núcleo principal de irradiação das correntes de povoamento
que se dirigiam para Minas Gerais e, posteriormente, para o Mato Grosso e
Goiás. Como consequência, em 1709, São Paulo substitui São Vicente como sede
administrativa da capitania (que tem seu
nome alterado para Capitania de São Paulo e Minas de Ouro). Em 1711, São Paulo é elevada a cidade. Conta nesse ano 9 mil
habitantes. Em 1745, torna-se sede de bispado autônomo, separando-se da
diocese do Rio de Janeiro.
Embora a corrida pelo ouro de
Minas tenha enriquecido muitos desbravadores paulistas, o efeito sobre a cidade
foi o oposto. O esvaziamento populacional empobreceu São Paulo, que assistiu a
um longo período de estagnação em seu crescimento econômico. Com o esgotamento
das jazidas mineiras, na segunda metade do século XVIII, a situação se agrava,
e muitos paulistas retornam aos seus locais de origem. A cidade recebe novo
fluxo populacional e tenta reorganizar sua atividade econômica.
O ciclo do açúcar
O governo paulista passa a
desenvolver um plano de fixação de suas populações em áreas exploradas da
capitania, e começa a fornecer incentivos à lavoura e à indústria. O plantio da
cana-de-açúcar é estimulado nas áreas a sudeste da capital, e grandes fábricas
de tecelagem e fundição são instaladas. Em 1792, a abertura da Calçada do Lorena, importante obra de
engenharia do período colonial, ligando as cidades de São Paulo e Santos,
forneceria condições adequadas para o transporte de açúcar e de outros gêneros
alimentícios produzidos no interior da capitania. São Paulo é beneficiada por
sua posição geográfica estratégica, como encruzilhada natural das vias de
circulação entre o interior e o litoral da colônia. Afirma então seu papel de
centro comercial, através do qual se fazia o escoamento da produção, rumo ao
porto de Santos.
De forma ainda intermitente,
São Paulo começa a prosperar, e novas edificações são erguidas. Em 1750, com a
expulsão dos jesuítas do Brasil, dessa vez por determinação do marquês de
Pombal, os bens da ordem são confiscados. A igreja dos jesuítas, reconstruída
no início do século 18, é transformada em sede da administração da capitania
(agora, já separada de Minas Gerais e
renomeada Capitania de São Paulo). Em 1765, é fundada
a Casa de Ópera do Pátio do Colégio, primeiro teatro da cidade, e em 1775 é
inaugurado o Cemitério dos Aflitos, primeira necrópole paulistana, destinada ao
enterro de pobres, escravos e condenados à forca. Também do século 18 são o
Mosteiro da Luz (recolhimento de
religiosas construído em taipa de pilão, a partir do projeto de Frei Galvão, de
1774) e a Igreja das Chagas do Seráfico
Pai São Francisco (1787), entre outros. Em 1798, a cidade inaugura seu Jardim Botânico (atual Jardim da Luz). Ainda no fim do século 18, por iniciativa do marechal José Arouche de Toledo
Rendon, os limites urbanos da cidade são expandidos, com a abertura da rua São
João e da ponte do Marechal, sobre o rio Anhangabaú. Começa a ser formado o
Campo do Curro, atual Praça da República.
Período
imperial
O primeiro
reinado e a Faculdade de Direito
Durante a maior parte de todo
o século 19, São Paulo preservaria as características de uma cidade provinciana,
mas vê crescerem suas possibilidades de desenvolvimento após a transferência da
Família Real Portuguesa para o Rio de Janeiro. A abertura dos portos às nações
amigas, decretada por Dom João VI em 1808, dá novo alento à economia do litoral paulista, ao
passo que interior da capitania continua a registrar relativa prosperidade com
a plantação da cana-de-açúcar. A capital, situada em meio à rota obrigatória
para o escoamento da produção do açúcar, assiste ao desenvolvimento do
comércio.
Cresce a importância política
da capitania (que se torna província em
1821), e a cidade de São Paulo serve de
palco para acontecimentos de grande importância na história do país. Entre os
mais destacados nomes da campanha pela independência brasileira figurou um
paulista, José Bonifácio de Andrada e Silva. E foi na capital paulista, à
margens do riacho do Ipiranga, que Dom Pedro I proclamou a independência do
Brasil. Também vivia na cidade a mais célebre amante do imperador, a marquesa
de Santos. Após a independência, São Paulo recebeu o título de ‘Imperial Cidade’,
outorgado por D. Pedro I em 1823.
Em 1825, é criada a
Biblioteca Pública Oficial de São Paulo, a primeira da província. Em 1827, é lançado
o primeiro periódico da cidade, O Farol Paulistano. Em 1828, é
inaugurada a Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Trata-se da mais
antiga instituição de ensino jurídico do país, ao lado da Faculdade de Direito
de Olinda, ambas instituídas por decreto imperial de 1827. Após a
instalação da faculdade, a cidade recebe o título de ‘Imperial Cidade e Burgo
dos Estudantes de São Paulo de Piratininga’. O consequente afluxo de mestres e
estudantes ocasiona uma radical mudança no cotidiano da cidade. Além de
demandar a construção de hotéis, restaurantes e núcleos artísticos, a
aglomeração de acadêmicos enriquece a vida cultural paulistana. Ao longo da
história, a faculdade (incorporada à USP
em 1934) se tornaria responsável pela
formação de parte considerável da elite intelectual e política brasileira, e
seu edifício (instalado no local do
antigo convento de São Francisco) foi
palco de atos e manifestações públicas relacionadas a inúmeros fatos da vida
política do país.
Em 1830, o
jornalista Libero Badaró, escritor do liberal Observador Constitucional (segundo periódico mais antigo da cidade, fundado em
1828), escreve artigo comentando sobre a
Revolução de 1830, na França, que levou à deposição de Carlos X, em que
exortava os brasileiros a seguirem o exemplo dos franceses. Logo em seguida,
estudantes da Faculdade de Direito realizam manifestações públicas de apoio às ideias
republicanas expressas no artigo do jornalista, e são ameaçados legalmente. O
Observador Constitucional abre campanha em favor dos estudantes, e os ânimos se
exaltam. Em 20 de novembro deste mesmo ano, Líbero Badaró é
assassinado em uma emboscada. A repercussão na cidade foi imediata: cinco mil
pessoas comparecem ao enterro, e o clamor por justiça leva à prisão do ouvidor
Cândido Japiaçu, acusado de envolvimento no assassinato. A consequência principal
do episódio é o reforço ao desgaste político de Dom Pedro I, que por esta
e por outras razões, renuncia ao trono no ano seguinte.
O segundo
reinado e o ciclo do café
Desde as primeiras décadas do
século 19, a queda dos preços do açúcar nos mercados internacionais havia
motivado o cultivo do café no Brasil. Vindo do Rio de Janeiro, o café começou a
ser extensivamente cultivado em São Paulo, sobretudo na região do Vale do
Paraíba. Em 1850, o café já era o principal produto exportado por São
Paulo. Do Vale do Paraíba, os cafezais se espalharam pelas terras roxas do
oeste paulista, antes ocupadas com a cana-de-açúcar (Rio Claro, Campinas e Jaú), enriquecendo a província. A partir do reinado de D.
Pedro II, a cidade ganha novo impulso com o desenvolvimento da economia
cafeeira: os setores de comércio e de serviços aumentam consideravelmente e
observa-se a formação de uma expressiva burguesia.
Muitos fazendeiros prosperam,
com lucros provenientes da utilização do trabalho assalariado e do emprego de
mão-de-obra imigrante. A abundância de recursos financeiros propicia a
realização de grandes investimentos, a maior parte custeada pela iniciativa
privada. São abertas várias ferrovias, interligando a cidade de São Paulo às
principais áreas produtoras da província e ao porto de Santos: a primeira é a
São Paulo Railway, inaugurada em 1867, à qual se segue a Estrada de Ferro Sorocabana,
entregue em 1870.
No primeiro censo nacional,
realizado em 1872, São Paulo contabilizava 31.385
habitantes. A cidade ganha casas exportadoras e vários bancos de financiamento.
Sua fisionomia começa a mudar: o casario baixo e acanhado começa a ceder lugar
a edificações maiores e tipicamente urbanas. Com vistas a garantir a
salubridade, é inaugurado, em 1858, o Cemitério da Consolação, o mais antigo em
funcionamento da cidade. Em 1865, é fundado o Teatro São José. Em 1872, são
instalados os serviços de abastecimento de água, esgoto e iluminação a gás, e é
criado o sistema de transporte com bondes de tração animal. Em 1884, começam a
funcionar as primeiras linhas telefônicas. Para suprir as necessidades
educacionais da crescente elite paulistana e minorar os problemas provenientes
da falta de habilitação técnica, a iniciativa privada inaugura as primeiras
instituições de ensino (Instituto
Presbiteriano Mackenzie, em 1870; Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, em
1873; Escola Alemã, em 1878).
Após a década de 1880, o café teve nova valorização internacional. Os fazendeiros paulistas, entretanto, tinham de lidar com o problema da escassez de trabalhadores. Após a promulgação da Lei Eusébio de Queirós e a consequente abolição do tráfico negreiro, ocorrida em 1850, os escravos negros tornaram-se escassos e cada vez mais caros. Para substituí-los, começaram a chegar os imigrantes, sobretudo italianos. Um número significativo desses imigrantes fixou-se na própria capital, empregando-se nas primeiras indústrias que se instalavam nos bairros do Brás e da Mooca, a partir de investimentos provenientes dos lucros obtidos pelos empresários do setor cafeicultor. Em 1882, é fundada a Hospedaria dos Imigrantes, a princípio no Bom Retiro (1882) e posteriormente na Mooca (1885).
A riqueza proveniente dos
cafezais e de uma indústria ainda incipiente sustentou a liderança paulista no
movimento republicano. Em 1873, realiza-se em Itu a primeira convenção republicana do
Brasil, e é criado o Partido Republicano Paulista (PRP), que utilizará o
periódico Correio Paulistano como veículo oficial. Com a extinção da escravidão
após a promulgação da Lei Áurea, em 1888, os fazendeiros paulistas exigem indenização pela
perda de propriedade. Sem conseguir, aderem ao movimento republicano como forma
de pressão. O império perde sua última base de sustentação (crises políticas e econômicas iniciadas ou agravadas
após a Guerra do Paraguai já haviam afastado a igreja e os militares da base de
apoio da monarquia) e a república é
proclamada no Rio de Janeiro, a 15 de novembro de 1889.
República
Velha
Com o fim do Segundo Reinado
que a cidade de São Paulo, assim como o estado de São Paulo, tira grande
proveito da situação e tem crescimento econômico e populacional fabulosos,
fruto da política do café com leite e de mudanças estruturais do federalismo no
Brasil pelo estado de São Paulo, com a ajuda de Minas Gerais.
O auge do período do café é
representado pela construção da segunda Estação da Luz (edifício que hoje recebe tal denominação) no fim do século 19. Neste período, o centro financeiro da cidade desloca-se
de seu centro histórico (região chamada
de ‘Triângulo Histórico’) para áreas mais
a Oeste.
O vale do rio Anhangabaú é
ajardinado e a região do outro lado do rio passa a ser conhecida como Centro
Novo. Os melhoramentos realizados na cidade pelos administradores João Teodoro
Xavier e Antônio da Silva Prado contribuem para o clima de desenvolvimento:
estudiosos consideram que a cidade inteira foi demolida e reconstruída. Neste
período a cidade passa a ser chamada, por estes estudiosos como a ‘cidade da
alvenaria’, visto que o sistema construtivo adotado passa a ser a alvenaria,
especialmente aquela importada da Europa. Tal mudança altera profundamente a
paisagem da cidade: seus habitantes consideram os estilos arquitetônicos do
período colonial como ‘antiquados’ e ‘provincianos’ e passam a adotar o
ecletismo possibilitado pela alvenaria. O atual edifício da Pinacoteca do
Estado (construído em 1900 para sediar o
Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo) é
exemplar deste período da cidade.
Século 20
Com o crescimento industrial
da cidade, no século 19 e 20, a sua área urbanizada passou a aumentar em ritmos
acelerados, sendo que alguns bairros residenciais foram construídos em lugares
de chácaras. O grande surto industrial se deu durante a Segunda Guerra Mundial,
devido à crise na cafeicultura e às restrições ao comércio internacional, o que
fez a cidade ter uma taxa de crescimento muito elevada até os dias atuais.
Neste século São Paulo passou
por dois momentos turbulentos durante a Revolta Paulista de 1924 que foi o
maior conflito armado urbano ocorrido na história do Brasil e a Revolução
Constitucionalista de 1932.
Atualmente, o crescimento
vem-se desacelerando, devido ao desenvolvimento industrial verificado em outras
regiões do Brasil. A cidade passa por um processo de transformação em seu
perfil econômico, convertendo-se de um centro industrial para um grande polo de
comércio, serviços e tecnologia, sendo, atualmente, uma das mais importantes
metrópoles do mundo.
Fonte: Giulia Trecco, São Paulo Secreto | WP
(JA, Jan21)