Meados dos anos 60, um grupo de seis jovens
de São Paulo, na faixa entre 18 e 20 anos, que estudavam num mesmo Colégio, estavam
em período de férias escolares. Como sempre, tinham pouco dinheiro
disponível. Então, aceitaram a sugestão do mais articulado do grupo para
passarem alguns dias num colégio tradicional do Rio de Janeiro. Ele havia
conseguido autorização junto aos padres que administravam o colégio para
utilização das instalações pelo grupo, apenas para pernoite. Ele havia
conseguido essa autorização por conhecer alguns dos administradores que, por
coincidência, haviam lecionado num outro colégio da mesma ordem religiosa, onde
havia estudado anteriormente.
Sugestão aceita, passagens de ônibus
compradas, partiram de São Paulo rumo ao Rio, percorrendo os 410 km da velha
Via Dutra até chegar lá.
Da Rodoviária, foram direto para o
Colégio. Lá chegando, surpreendentemente,
já estavam sendo esperados por um grupo de alunos do colégio, que os aguardava
para jogar futebol de campo. O colégio dispunha de um campo de futebol que
embora fosse de terra, tinha tamanho oficial. Desfizeram as malas, se prepararam,
e foram jogar. Os jovens do Rio não
sabiam, mas aquele grupo de rapazes de São Paulo, se reunia todos os sábados,
há vários anos, para jogar futebol de salão, e que, quando jogavam futebol de
campo, eram praticamente invencíveis. O futebol de campo proporciona muito mais
espaço do que o de salão para realização de jogadas, e, além disso, tinham a
rapidez própria daqueles que jogam habitualmente em espaços menores. Conheciam
as características, o deslocamento um do outro, estavam em plena forma física,...
E aconteceu o esperado: ganharam de
lavada. Os cariocas foram humilhados em campo. E, para piorar, um dos paulistas
perguntou o que se tinha para fazer na cidade. Os cariocas começaram a
confabular, até que concluíram sobre uma sugestão. O rapaz começou dizendo que o
lugar sugerido – uma danceteria - era um programa muito bom, mas tinha um
inconveniente - era muito caro. Nisso, um dos paulistas, pernósticamente colocou:
‘- Nós pedimos uma sugestão de um lugar legal para ir; não perguntamos preço!’
Bem, a relação entre paulistas e cariocas, que sempre foi meio prejudicada, não
ficou melhor depois desse comentário.
Numa tarde, depois de almoçarem, saíram,
tomaram um bonde, e foram conhecer a cidade. No bonde, conheceram duas moças bonitas,
que se mostraram muito simpáticas com o grupo. Conversaram, e elas acabaram dizendo
que eram dançarinas, contratadas para um programa de TV, e que, aliás, estavam
indo para lá agora mesmo, para se apresentarem num show. Convidaram o grupo
para assistir.
Eles foram. Quando o show começou, eles
logo localizaram as garotas que, sorridentes, devidamente paramentadas,
participavam do grupo de dançarinas que fazia a abertura. Então, foi
apresentado o astro principal: Cauby Peixoto!
Ele surgiu sorridente, com uma roupa colorida e brilhante, todo
estrela, senhor da plateia que o ovacionava, aplaudia – ele já era famoso
então. Todos do grupo conheciam o Cauby, mas não pessoalmente.
Ele tinha uma voz extraordinária, suas músicas eram especiais, e tinha um carisma pessoal que envolvia a
todos. O show foi ótimo.
Ao final, foram cumprimentar as, agora,
suas amigas e elas convidaram o grupo
para, mais tarde, irem tomar um café. Deram o endereço do apartamento delas e
se despediram.
Aí começou o problema. Todos concordaram
que não tinha sentido todos irem ao encontro. O mais razoável seria irem apenas
dois, já que elas eram duas. Tinha lógica. Mas quem? Aquele que era o mais
desinibido, que puxou a conversa inicial com elas, se julgava no direito. Sim,
mas depois, cada um conversou com elas também. A mais nova deu mais atenção
para esse, a mais velha para aquele... Enfim, não chegaram a nenhuma conclusão,
e decidiram que o melhor então seria irem todos. E lá, no decorrer, decidiriam
o que fazer.
Na hora combinada, em torno de 20h, o
grupo chegou no apartamento. Tocaram a companhia e um senhor veio atender. Lá
de dentro ouviram uma voz de criança e latidos de cachorro. Perguntaram pelas
suas amigas, e logo elas apareceram e convidaram o grupo a entrar. A mais velha
apresentou o grupo para o seu marido, dizendo que os meninos eram de São Paulo.
Logo ficaram sabendo que a mais nova era filha da mais velha. Enfim, haviam
sido convidados para um café mesmo, por uma acolhedora família carioca.
Quando terminou a semana, depois de
conhecerem os vários pontos turísticos tradicionais da cidade, deixaram o Rio. Mais uma vez, o mesmo que arrumou a estadia para
o grupo no Colégio, conseguiu junto a um seu conhecido, autorização para utilizarem, durante alguns dias, uma casa
de veraneio no litoral sul de São Paulo,
Itanhaém. Era uma casa bonita, bem implantada.
Mas lá não havia roupa de cama, banho, louça, talheres, nada. O tempo estava chuvoso, e fazia tanto frio que
um deles, à noite, se cobriu com um colchão disponível de outra cama para se
aquecer. No dia seguinte, resolveram
voltar para São Paulo, e cada um foi para sua casa.
Meses mais tarde, ficaram sabendo que
um dos colegas, aquele mais comunicativo, havia conseguido obter o telefone de
uma das dançarinas, a mais moça, que havia ligado, que se falaram e combinaram um
encontro. Os demais nunca ficaram sabendo se era verdade mesmo, se o encontro
aconteceu, e no que deu.
Com o passar dos anos esses colegas foram
se afastando, cada um seguindo a sua vida e seus objetivos, até perderem
completamente o contato entre si. Entretanto, certamente, a lembrança de suas (des)aventuras
daquela época permanece na memória de cada um, compondo um passado comum,
inesquecível e prazeroso.
"Boas lembranças, são como um tesouro, que guardamos com muito carinho dentro do nosso peito. Nada consegue apagá-las. Recorremos a elas de vez em quando, mas principalmente nos momentos mais difíceis. São elas que nos incentivam, dão ânimo e confiança para nos superarmos e conseguir conquistar, o que, muitas vezes, inicialmente, parecia impossível."
(JA, Mai16)
__________
Cauby morreu na noite de domingo (15), aos 85 anos. Ele estava internado devido a uma pneumonia desde segunda-feira passada, dia 9 de maio, no Hospital Sancta Maggiore, no Itaim Bibi, em SP. O velório está sendo feito na Assembleia Legislativa de SP e o enterro foi marcado para ocorrer às 16h30 desta segunda feira (16), no Cemitério Congonhas, Jardim Marajoara.Cauby Peixoto (1931-2016)
Daniel D'Ângelo, marido da cantora Ângela Maria, amiga e parceira de Cauby, disse que estava no hospital ao lado de Cauby às 23h30, na hora da morte. ‘Estávamos ao lado dele na cama, eu e um grupo de amigos, fizemos uma oração, e assim que dissemos 'amém', ele morreu. Coisa de artista’, afirmou D'Ângelo.
____________