O que caracterizava determinadas
pessoas daquele período, as pessoas da 'Geração E', como eram chamadas, era a sua rara sensibilidade. Tinham uma percepção tão desenvolvida
que captavam os menores sinais e, dado ao seu elevado nível de inteligência,
tinham a capacidade de classificar e tirar conclusões, rápida e raramente incorretas.
Eram discretas e, aparentemente, tinham também facilidade para se
localizarem entre si, e acabavam se reunindo em grupos socais, de trabalho
ou de estudo.
Naturalmente, tinham interesses e opiniões
de modo geral coincidentes. Isto facilitava a aproximação e o
desenvolvimento de uma relação mais duradoura.
Chris e Peter pertenciam a esse tipo
de pessoas, e tinham interesses voltados mais para o social. Preocupavam-se com
a exclusão social de algumas pessoas - por falta de estudo, doença, desemprego,
ou idade,...; com os gastos púbicos excessivos, sem a prestação de serviços públicos
básicos suficientes e de boa qualidade; com o excesso de burocracia e falta de
incentivo para empreendedorismo; com a carga
tributária elevada; etc. Eram vizinhos e
frequentavam uma associação que se preocupava com os problemas da cidade, especialmente
com os do bairro onde moravam.
Com o tempo foram se interessando mais
e mais pelo assunto. Logo estavam participando de reuniões representando a sua
associação em entidades públicas relacionadas com os assuntos que tratavam.
Nessas entidades, com a convivência, foram descobrindo outras pessoas do tipo
deles. Essa constatação os fez refletir e concluir que aquilo não era mera
coincidência. Provavelmente, o que eles estavam fazendo, deveria representar algo maior ainda do que o que haviam conseguido perceber até então.
Sempre conseguiam apoio para suas
causas, e o sucesso consequente resultou em maior apoio e mais adeptos. Em
pouco tempo deixaram de se preocupar apenas com interesses da sua comunidade e
passaram a pensar em termos de cidade, de país. Apareciam frequentemente nas
mídias, e de uma forma muito positiva. Suas falas eram bem articuladas e
embasadas, não visando destruir nada, muito pelo contrário.
Para o público eles pareciam representar
aquilo que estava faltando para renovar, para promover a mudança necessária,
levando as pessoas a terem esperança, a crerem que era possível criar uma cidade, um país melhor.
Chris e Peter, quando perceberam o
potencial político que passaram a ter, começaram a pensar numa forma de tirar o
melhor proveito disso a favor das causas que tinham abraçado. Em reunião com o seu grupo, chegaram às
seguintes conclusões:
- Deveriam se organizar como um partido político embora ainda não pretendessem constituir um - os políticos e seus partidos tinham uma imagem muito negativa na sociedade atual. O grupo adotaria o nome de ‘Grupo E’, ou ‘Grupo Esperança’, como de certa forma já eram conhecidos.
- Para tanto, necessitariam definir uma liderança geral, e uma para cada campo de atividade. Cada campo deveria desenvolver seus projetos de ação, sempre considerando o plano dos demais grupos, de forma a manter a convergência para o desenvolvimento e progresso, uniforme e articulado.
- Essas lideranças deveriam envidar esforços para penetrar nos setores estratégicos do pais tais como Saúde, Educação, Tecnologia, Comércio e Indústria, .., cada um dentro da sua especialidade, se sobressair e passar a influenciá-los, levando-os a adotar o planejamento estratégico do Grupo E.
E assim foi feito. Peter foi eleito líder do partido, Chris, Coordenadora Geral, e as demais pastas preenchidas pelos nomes que mais tinham
se destacado em cada área. De certa maneira, todos eles já tinham conhecimento
e influência nas suas áreas afins, e não tiveram dificuldade em cumprir o que
havia sido proposto, definido.
O trabalho inicial foi definir e
priorizar as carências nacionais. E, na sequência, definir como superá-las, da
forma mais simples e rápida. As respostas eram praticamente de conhecimento de
todos - o que realmente faltava era uma ação coordenada e desinteressada de
solução. Aos poucos, em torno de três
anos, as engrenagens começaram a funcionar sincronizadamente, e o
resultado esperado acontecer. A reação dos setores envolvidos, da mídia, e do povo em
geral, foi de espanto: ‘Incrível, o que era considerado tão difícil, acabou por
se mostrar tão fácil!’
Os responsáveis por essa mudança,
dentro da proposta de se tornarem conhecidos para poderem influenciar ainda mais, assumiram a
paternidade dos projetos - embora os antigos políticos tivessem tentado
compartilhar o seu mérito. Desde o início, sempre fizeram questão de citar
Peter como alguém que estava por trás de cada ideia que foi proposta e
realizada. Assim, quando decidiram, agora sim, a formalizar o ‘Grupo Esperança’
como um partido político, não foi surpresa para ninguém que Peter fosse
definido como seu líder nacional. Rapidamente
o partido se tornou um dos mais conhecidos e influentes do país. Seus
integrantes, dentro de suas competências, começaram a se candidatar e a
conquistar cargos, tanto no poder legislativo - onde logo se tornartam maioria, como
no executivo.
Nesse clima de euforia em que vivia a
nação diante dos resultados auspiciosos que estavam sendo alcançados, o nome de
Peter foi lembrado e lançado como candidato à Presidência da República para a
próxima eleição. Como ele tinha uma grande empatia com o público, conhecimento e sucesso em todos os campos - dado à sua participação no
desenvolvimento e implantação dos projetos mais importantes e recentes da administração
pública, não teve dificuldade para superar seus concorrentes, e ser eleito.
Assim que assumiu a Presidência,
montou seu Ministério com pessoas
qualificadas, originárias do Grupo Esperança. Sua gestão deu
continuidade ao desenvolvimento e implantação dos projetos que sabia serem
ideais para o país que imaginava, considerando o momento atual e as projeções futuras.
Basicamente, seu trabalho consistiu no
seguinte:
- Desestatizar os empreendimentos que poderiam ser tocados pela iniciativa privada, e assumir as funções que entendia caber ao governo: Planejamento Estratégico, Gestão e Controle.
- Incentivar o desenvolvimento industrial e agrícola, em todos os seguimentos, especialmente os mais carentes e os que dependiam de importação.
- Estimular o ensino à distância, com qualidade, para todos as cidades e estados. O Ensino Fundamental I e II, Ensino Médio, e Cursos Profissionalizantes, seriam grandes centros receptores, com monitores preparados para complementar presencialmente o que era ministrado à distância por mestres especialistas, observando um currículo definido dentro dos melhores padrões internacionais. Esses monitores teriam também a função de checar e quantificar a qualidade da captação do ensino por parte dos alunos.
- Criar uma eficiente ouvidoria popular – onde todos poderiam registrar suas queixas e sugestões. Essas queixas e sugestões serviriam de base para controle de execução do que já estava implantado, e captação de novas ideias de solução.
- Na área da Saúde criar uma escala que classificaria a necessidade do paciente por nível. Dependendo da triagem, o nível o paciente seria definido, e ele encaminhado para atendimento público ou privado. O público era voltado para atendimentos mais comuns, e o privado para casos mais raros, mais complicados. Em todos, o governo financiava as despesas decorrentes, utilizando para tanto recursos sociais pagos pelos empregados e empregadores. Esses recursos sociais eram recolhidos e aplicados em fundos rentáveis gerando mais recursos pela sua atualização e rendimento. Esses recursos se destinariam, além de subsidiar as despesas com a saúde, à manutenção da população mais idosa - já fora do mercado de trabalho-, em centros qualificados e preparados para cuidar da melhor maneira dessa geração, conforme necessidade.
- Na área internacional, através de sua Chanceler Chris, procurar e ser aceito nas associações internacionais mais importantes já existentes, fazer acordos comerciais e financeiros convenientes para todas as partes. E, além disso, ajudar alguns países subdesenvolvidos mais carentes e receptivos a se superarem, com base nas experiências bem sucedidas.
Surpreendentemente, ao contrário do
que acontecia antes, foram surgindo novas e bem preparadas lideranças, afinadas com a proposta inicial.
Assim, em menos de uma década, o país conseguiu implantar e consolidar seus principais
projetos e, no finalmente, se classificar entre os mais desenvolvidos do
planeta, com uma população que podia desfrutar
de uma qualidade de vida invejável.
Tendo sido resolvidos os problemas
antigos e básicos - alimentação, saúde,
educação, moradia, trabalho, segurança e transporte-, os gestores e o povo
passaram a se preocupar com problemas existenciais mais elevados, mais ligados
à realização e felicidade pessoal, buscando o equilíbrio entre a ambição
pessoal e coletiva, e o respeito aos valores éticos e religiosos fundamentais.
É o futuro tão esperado que estava chegando. O momento a partir do qual a humanindade estará em condições ideais para se realizar, resgatando o divino inerente
à sua natureza original.
“Ideais são como as estrelas; você não terá sucesso se tentar tocá-los com as mãos. Mas, como um homem do mar, no deserto das águas, você os escolhe como seus guias e, se os seguir, você alcançará o seu destino.” Carl Schurz
(JA, Jan16)