M. vivia jogado pelas ruas da cidade.
Sujo, maltrapilho, sem saber de onde viria a próxima refeição. Dormia em
qualquer lugar, quando e como
podia. Era um solitário. Primeiro por
não ter o que falar com os seus iguais, pois não se se sentia parte deles. E, em segundo, por
uma questão de segurança – não confiava em ninguém igual a ele.
O estar ali foi uma contingência
acidental. Antes disso era um profissional liberal, empresário,
casado, com filhos. Tinha então várias propriedades, conquistadas ao longo de
anos e anos de trabalho.
De repente, sua vida começou a
desmoronar. Tudo começou quando, por conta de uma mudança inesperada de
mercado, parou de vender seus produtos, e teve que encerrar o negócio, sua maior
fonte de renda. A concorrência surgiu
com produtos produzidos através de uma
nova tecnologia, mais baratos e eficazes do que aqueles que ele comercializava, então... Não sabe até hoje se a causa
foi uma falha estratégica – por não ter previsto ou produzido a mudança –, ou se foi resistente a ela.
E, como uma coisa puxa outra, como se diz, a sua ‘casa
caiu’. A família não aceitou a redução do padrão de vida a que estava
acostumada, e ele, durante um tempo se viu levado a manter o padrão antigo.
Entretanto, ele não tinha condições para isso.
Como era fácil de imaginar, chegou uma hora em que não conseguiu mais.
Endividado, foi perdendo tudo o que tinha. Inicialmente, a família o renegou;
depois os amigos e conhecidos. E, meio que de repente, se viu sozinho, como
está ainda hoje, anos depois.
Num determinado dia, um senhor de boa
aparência e simpático, lhe deu uma esmola, sem ter sido solicitado. No outro
dia, lhe trouxe e ofereceu um lanche. E, no dia seguinte, uma muda de roupas.
Todos os dias, a partir daí, lhe oferecia alguma coisa.
Até que, quando teve oportunidade, M.
lhe perguntou qual era o seu nome. Era S.. Perguntou também por que ele o
estava ajudando. S. respondeu que nem
sempre a vida dele foi como era hoje. Ele também já tinha tido seus momentos de
baixa. E o que o ajudou a superar essa fase foram basicamente duas coisas:
- A consciência de que estava na situação em que se encontrava porque havia alguma coisa errada no seu comportamento. Isso o levou a procurar responder à pergunta: ‘Aonde foi que eu errei?’. Chegou à várias respostas, e escolheu uma, a que lhe pareceu a mais correta. A partir de então, procurou ‘Retificar’ - promover uma mudança interior, uma transformação.
- Exemplificar. Procurar fazer da sua vida um exemplo a ser seguido por quem tivesse oportunidade de se relacionar com ele. Dar sempre o melhor de si, colocar amor no que fizesse, buscando constantemente crescimento, evolução. E, além disso: ter fé, confiança; perdoar sempre – a si mesmo e aos outros.
Aquelas palavras marcaram M. profundamente, e ele começou a refletir sobre elas. Chegou à conclusão que, em
determinado momento, havia perdido a confiança em si mesmo e nos outros. E que,
além disso, havia aceitado a derrota, se acomodado. Acordou da letargia de tantos anos e resolveu
reagir.
Oportunamente, pediu a S. que o ajudasse
a ficar mais apresentável para poder arranjar um emprego, por mais simples que
fosse, para retomar a escalada da sua vida interrompida, para seguir seu melhor caminho possível.
S. o levou à sua casa e, após ter lhe
proporcionado a oportunidade de tomar um longo banho, de fazer a barba após
anos, de vestir roupas adequadas, e de comer uma
refeição decente, lhe ofereceu um
emprego no seu negócio. Ele tinha uma
grande cadeia de lojas que comercializava eletrodomésticos.
Assim, M. começou a trabalhar. E, seguindo
as regras que S. lhe havia passado - que havia observado para conseguir a própria superação
(1 e 2) -, e utilizando a sua experiência anterior, logo se destacou, e fez por
merecer o cargo de confiança que a empresa lhe ofereceu.
M. olha agora para o que conquistou, compara
a sua vida atual com a anterior, e sorri agradecido. Sabe que sorrindo para a vida, a vida vai lhe sorrir de volta, com tudo o que isso significa.
Além disso, seguindo do exemplo de
S., pretende, assim que tiver oportunidade, fazer o mesmo o que S. fez com ele,
ajudando a algum ‘desgraçado’, como ele foi por um tempo, a se motivar, a ter atitude e fé para se transformar, se recompor.
Oração de São Francisco de Assis
Senhor: Fazei de mim um instrumento de vossa Paz. Onde houver Ódio, que eu leve o Amor. Onde houver Ofensa, que eu leve o Perdão. Onde houver Discórdia, que eu leve a União. Onde houver Dúvida, que eu leve a Fé. Onde houver Erro, que eu leve a Verdade. Onde houver Desespero, que eu leve a Esperança. Onde houver Tristeza, que eu leve a Alegria. Onde houver Trevas, que eu leve a Luz! Ó Mestre, fazei que eu procure mais consolar, do que ser consolado; compreender, do que ser compreendido; amar, do que ser amado. Pois é dando que se recebe, perdoando que se é perdoado, e é morrendo que se vive para a vida eterna! Amém.
(A Oração da Paz, também denominada de Oração de São Francisco, é uma oração de origem anônima que costuma ser atribuída popularmente a São Francisco de Assis. Foi escrita no início do século XX, tendo aparecido inicialmente em 1912 num boletim espiritual em Paris, França. Em 1916 foi impressa em Roma numa folha, em que num verso estava a oração, e no outro verso da folha uma estampa de São Francisco. Por esta associação, e pelo fato de que o texto reflete muito bem o franciscanismo, esta oração começou a ser divulgada como se fosse de autoria do próprio santo)
(JA, Jan15)