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Telefone Celular

Há 50 anos um aparelho conhecido como 'Tijolão', de 1,4 kg, revolucionou o processo de comunicação  

 


A história dos mais de 15 bilhões de telefones celulares no mundo começou 50 anos atrás, em 3 de abril de 1973.

Martin Cooper, engenheiro eletrotécnico da então empresa de rádio automotivo Motorola, ligou para um rival que trabalhava no Bell Labs, da AT&T, para informar que havia vencido a corrida da telefonia móvel.

‘Estou ligando para você de um celular, mas um celular de verdade, pessoal, que cabe na mão’, disse Cooper para o engenheiro concorrente Joel Angel. Antes da reviravolta, a AT&T liderava essa disputa com seu sistema de transmissão de ondas celulares.

A noção de um celular que cabia na mão era diferente da atual. O primeiro DynaTAC pesava 1,4 kg e tinha 25 cm de comprimento. Um tijolo vazado, de 19 cm de comprimento, pesa em média 2,2 kg.

O próprio Cooper, hoje com 94 anos, disse em entrevista recente que era impossível segurar o aparelho por mais de 25 minutos —o tempo que durava a bateria do dispositivo. 

Martin Cooper segura à direita  aparelho celular contemporâneo e, à esquerda, o primeiro protótipo 
           
Ainda assim, Cooper liberou os telefones dos carros. Os aparelhos da AT&T ficavam acoplados a automóveis.

Para colocar o primeiro celular no mercado, a Motorola levou mais dez anos. Apenas em 1983, começou a vender o DynaTAC 8000x, por US$ 5.000 (US$ 15,4 mil em valores atuais, ou R$ 78 mil). Isso porque precisou desenvolver, com US$ 100 milhões, um sistema analógico de transmissão de rádio capaz de suportar a nova clientela, também chamado de DynaTAC.

A noção do que era um celular mudou ao longo dessa metade de século. Aparelhos começaram a tocar faixas em mp3, enviar e-mails, acessar navegadores de internet, e baixar aplicativos. Os preços também baixaram. Nos Estados Unido, um iPhone 14 Pro custa a partir de US$ 999 (cerca de R$ 5.100)

A última revolução dos aparelhos telefônicos veio com o design minimalista do iPhone 2G da Apple, lançado em 2007. O feito consolidou a já grande fama do empresário Steve Jobs. A funcionalidade de multitouch, que permite selecionar com os dedos dois pontos da tela ao mesmo tempo, garante a experiência de uso de dispositivos móveis à qual estamos acostumados hoje.

Em entrevista ao veículo especializado em tecnologia Motherboard, dez anos atrás, Martin Cooper foi além. O engenheiro que idealizou o primeiro telefone móvel pensou no futuro da tecnologia como um chip implantado atrás da orelha, com acesso a uma rede de computadores. ‘Seria um telefone por voz, em estado ótimo’.

‘O conceito de aplicativos está errado. O ideal seria ter uma inteligência artificial capaz de atender aos nossos pedidos, idealmente mais inteligente do que nós. Seria um servo portátil’, disse o criador do celular, bem antes de a OpenAI lançar o ChatGPT, que tem impressionado as pessoas por suas capacidades textuais. 

 

Na entrevista Cooper lamentou que as pessoas sejam consumidas pelas telas de seus smartphones. ‘Quando vejo alguém atravessando a rua olhando para o telefone, sinto-me péssimo. Eles não estão pensando’.

Em excesso, o celular pode causar problemas de sono e de postura, irritabilidade e sedentarismo. Esses efeitos colaterais podem ser piores para crianças, que não têm as capacidades socioemocionais de um adulto, de acordo com a professora da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), Evelyn Eisenstein.

Segundo a pesquisa TIC Kids Online de 2022, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 96% dos jovens de 9 a 17 anos já têm celular no Brasil.

Em junho de 2022, o país já tinha 242 milhões de smartphones, conforme dados da pesquisa ‘Uso de Tecnologias da Informação no Brasil’, da FGV (Fundação Getúlio Vargas). O país tem mais de um aparelho por habitante desde 2016.

Evelyn Eisenstein recorda que, em 1990, quando chegaram os primeiros celulares no Brasil, o acesso era difícil. ‘Nós usávamos o aparelho nas emergências dos hospitais. Era um objeto pesado, que guardávamos em um cinto especial’.

Ela se refere ao Motorola PT-550, que logo ganhou o apelido ‘tijolão’ no país. O modelo, contando a antena externa no topo, tinha 22,8 cm de comprimento. O design do celular era inovador por sua dobradiça, que protegia as teclas de poeira. No exterior, o aparelho custava US$ 3.000, e tinhas as funções agenda telefônica e identificador de chamada.

Quem quisesse usar a linha de celular ainda tinha que desembolsar até US$ 20 mil para a estatal Telerj —e havia fila. O sistema de transmissão ainda era analógico, como aqueles dos Estados Unidos nos anos 1980.

O ex-deputado Eduardo Cunha, que presidiu a empresa de telefonia carioca entre 1991 e 1993, costuma dizer que liderou a implantação da telefonia móvel no Brasil. Essas primeiras linhas contavam com o prefixo ‘982’. A estatal depois foi privatizada, como as outras subsidiárias, e veio a dar origem à companhia que conhecemos como Oi, hoje em sua segunda recuperação judicial.

A estatal paulista Telesp só veio trazer o serviço para o estado em 1993. Em 1997, em Brasília, começou a operar o primeiro serviço de celular digital no Brasil. Nos anos 2000, o país começou a adotar o sistema de padrão europeu, GSM.

Com o avanço da tecnologia, hoje, é possível comprar um chip pré-pago em qualquer banca de jornal. Alguns aparelhos voltaram a ser dobráveis, como o então inovador ‘tijolão’. Um aparelho de topo de linha, como o iPhone 14 Pro Max, custa a partir de R$ 9.499 na loja oficial da Apple.

 

Fonte: Pedro S. Teixeira | FSP

(JA, Abr23)


 

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