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Cérebro não é feito para mudar de ideia

Autores de livros recentes no campo da ciência cognitiva procuram repensar o papel da razão, e descrever as armadilhas que ela nos prepara. Segundo algumas novas hipóteses:

Ø  A lógica é apenas um artifício retórico para persuadir

Ø  Nosso cérebro evoluiu de forma a nos convencer de que sabemos mais do que sabemos.

Em psicologia, essa operação mental de dar atenção às evidências que sustentam nossa teoria preferida, e descartar as que a contradizem, tem nome: viés de confirmação. Ubíquo nas atividades humanas, ele não é um cochilo da razão, um simples erro aleatório que de vez em quando cometemos. Trata-se, ao contrário, de um elemento constitutivo de nosso pensamento, moldado por milhares de anos de evolução biológica.

Há vários livros bem interessantes no campo da ciência cognitiva cujos autores procuram repensar o papel da razão, e descrever as armadilhas que ela nos prepara.

I.      O Enigma da Razão’, dos franceses Hugo Mercier e Dan Sperber

Para eles a razão é como um mecanismo de gerar inferências.

Até aí, nada de muito especial. Bichos também fazem inferências o tempo todo - mesmo sem ter consciência disso. Eles usam o que já sabem, para tirar conclusões sobre o que ainda não sabem. Esse tipo de operação mental lhes permite antecipar o que poderá acontecer nos próximos instantes, e agir de acordo - fugir quando percebem que o predador está se aproximando, por exemplo.

Nossos amigos peludos ou emplumados não fazem isso a partir de um mecanismo geral de extrair inferências, mas por meio de diferentes tipos, cada um voltado a um problema específico: O que comer? Com quem copular? Quando fugir?

Humanos, dizem os autores de ‘The Enigma of Reason’, são como outros animais. Não possuímos uma competência geral para inferir, mas vários mecanismos especializados. A diferença é que, enquanto os dos bichos estão calcados quase exclusivamente em instintos, os nossos, ainda que partam de uma base instintiva, são em larga medida adquiridos a partir da interação com outras pessoas.

Intuições aparecem prontas ante nossa consciência, mas sentimos que são conclusões que se formaram dentro de nossas mentes, ainda que de forma opaca. Mercier e Sperber afirmam que elas são como um iceberg mental: vemos a pontinha, mas há uma grande massa de processos abaixo da consciência que não conseguimos enxergar.

A razão é uma máquina de gerar intuições, mas intuições sobre um tipo específico de representação: as próprias razões, em especial aquelas que nos levam a agir.

No contexto hipersocial em que evoluímos, usamos essas intuições a fim de produzir razões –argumentos- para justificar nossos pensamentos e atitudes em relação aos outros, os quais tentamos o tempo todo persuadir a agir como nós mesmos. Nesse quadro, a própria lógica se torna mais um artifício retórico, usado mais para convencer, do que um superpoder intelectual

No modelo de Mercier e Sperber, alguns dos vieses cognitivos não precisam mais ser vistos como uma falha catastrófica, mas como uma característica desejável. O melhor exemplo é justamente o viés de confirmação. Se a razão foi selecionada para nos fazer justificar nossas atitudes, e para vencer debates, então faz sentido que busquemos apenas provas em favor de nossas teses, e não contra elas.

A tese de Mercier e Sperber é que somos melhores ao julgar as razões dos outros, do que ao criar as nossas próprias justificativas. E essa é uma excelente notícia. Tal característica permite que, na interação com as razões dos outros, acabemos descartando raciocínios ruins, e guardando os melhores. Como empreitadas coletivas, a cultura e a ciência funcionam e até podem nos levar a ‘verdades’.

II.    ‘O Animal Moral’, de Robert Wright

Wright explica a razão da nossa parcialidade: ‘O cérebro é como um bom advogado: dado um conjunto de interesses a defender, ele se põe a convencer o mundo de sua correção lógica e moral, independentemente de ter qualquer uma das duas. Como um advogado, o cérebro humano quer vitória, não a verdade; e, como um advogado, ele é muitas vezes mais admirável por sua habilidade do que por sua virtude’. 

III.   ‘Rápido e Devagar’- Daniel Kahneman

Segundo Paul Slovic e Daniel Kahneman, temos por assim dizer dois modos de pensar: um eminentemente intuitivo, que é rápido e se ampara em instintos e emoções, e outro racional, que é lento e calcado na lógica. 

IV.  ‘A Ilusão do Conhecimento’, dos cientistas cognitivos Steven Sloman e Philip Fernbach.

Ignoramos o básico sobre coisas simples que utilizamos o tempo todo, mas temos a nítida sensação de que somos experts nesses objetos.

As pessoas invariavelmente superestimam seu conhecimento - se dão conta de sua ignorância somente quando instadas a descrever em detalhes os processos envolvidos.

O cérebro foi projetado para arquivar as grandes regularidades do mundo, deixando de lado os detalhes. Operar de forma minimalista nos ajuda a fazer generalizações e, assim, ampliar nossa capacidade de resolver problemas novos.

Por que temos a ilusão de que sabemos muito mais do que sabemos? Por que vivemos essa mentira?

A resposta curta é: para poder agir. Se fôssemos proceder a uma avaliação realista e completa antes de executar qualquer ação, nós nos perderíamos em dúvidas hamletianas, e nunca faríamos nada. Pior até, mergulharíamos num poço de dissonâncias cognitivas que são torturantes para o cérebro.

A solução encontrada pela evolução foi a mais simples possível: pare de fazer perguntas, considere que você já sabe tudo o que é necessário saber, e aja. Se seus instintos estiverem bem calibrados, suas chances de sobreviver serão maiores do que as de morrer, e você conseguirá passar seus genes sabichões para a posteridade.

Como conseguimos enviar o homem à Lua, criar instituições políticas razoavelmente funcionais -em alguns países, pelo menos? ‘Nossos crânios podem delimitar a fronteira de nossos cérebros, mas não a de nosso conhecimento. A mente se estende para além do cérebro, para incluir o corpo, o ambiente e outras pessoas’.

Nós vivemos numa comunidade de conhecimento. Como coletividade, conseguimos armazenar uma quantidade impressionante de conhecimentos, que depositamos em livros, grupos de especialistas, e nos próprios objetos

V.     ‘A Morte da Expertise’, de Thomas Nichols

Vivemos tempos paradoxais. O conhecimento nunca foi tão fácil. A quantidade de informações reunidas na internet, e à disposição de qualquer um que tenha um computador, não tem precedentes na história da humanidade.

Não obstante, nós nos vemos em meio a uma onda antirracionalista, que ameaça destruir o conhecimento especializado e, com ele, a própria democracia.

São tempos perigosos. Nunca tantos tiveram acesso a tanto conhecimento e se mostraram tão resistentes a aprender alguma coisa’, escreve Nichols, que dedica o restante do livro a mostrar os vários modos pelos quais uma combinação de narcisismo arrogante com ideias igualitárias, meio fora de lugar, está minando o lugar do saber especializado.

Não faltam exemplos disso: movimentos ‘culturais’ se insurgem contra a vacinação de crianças e a pasteurização do leite; um presidente africano acha que a Aids não pode ser provocada por um vírus, e atrasa em vários anos programas que poderiam ter salvado milhares de vidas em seu país.

Paul Slovic, psicólogo especializado em percepção do risco, não confia muito em especialistas. Diz que eles padecem dos mesmos vieses dos leigos, mas têm uma capacidade infinitamente maior de enrolar as pessoas.

Para ele, a própria noção de risco objetivo nada tem objetivo. O perigo associado à poluição, por exemplo, deve ser expresso em mortes por milhão de habitantes, ou em mortes por milhão de dólares produzidos? A reação do público a cada uma dessas informações é bastante diferente.

Cass Sunstein, jurista convertido em economista comportamental, adota posição pró-ciência. Para ele, apenas reagir com o cérebro emocional às notícias de jornal, leva a resultados no mais das vezes negativos.

Um exemplo: o excesso de mortes em acidentes automobilísticos entre americanos que trocaram o avião pelo carro por medo de ataques terroristas – 2.300 óbitos, segundo exercício estatístico de Garrick Blalock; número que não fica tão distante das 2.996 de mortes contadas no 11 de Setembro.

O resultado, sustenta Nichols, é um certo desprezo, não só pelo especialista como também pela educação, que vem enfraquecendo as bases da democracia representativa.

Em vez de um público informado, pronto a dialogar e forjar soluções políticas para os problemas, encontramos um mundo de pós-verdades, no qual tribos histéricas estão prontas a se digladiar umas com as outras, ao primeiro sinal de desconforto emocional.

Afinal, se há algo evidente no ramo da ciência cognitiva, é que o saber é uma empreitada coletiva, que tem resultados impactantes em nossas vidas.

 

Fonte: Hélio Schwartsman, bacharel em filosofia, jornalista, autor de ‘Pensando Bem...’| FSP

 

(JA, Set22)

 


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