Filho do Português
Cândido Mariano da Silva, e da Mestiça Claudina Freitas Evangelista, nasce no
ano de 1865 em Mimoso, Candido Mariano da Silva Rondon. Tendo ainda
muito jovem ingressado à carreira militar, foi o maior sertanista brasileiro de
todos os tempos, responsável pela ligação do Norte e Centro-Oeste ao litoral
via telégrafo, e o mais consagrado indigenista de nossa história. Rondon é o
patrono das comunicações brasileiras.
‘É minha ascendência materna indígena –
índios terena e bororo com os guaná, de quem descendia minha avó paterna, Maria
Rosa Rondon; são três as tribos de que descendo.
Eram meus bisavós maternos, pais de minha
avó materna, Constantino de Freitas, de origem portuguesa, e Maria de Freitas,
mestiça terena, nascida em Miranda’.
Órfão de pai (que não chegou a conhecer) e mãe (falecida dois anos e meio depois de seu nascimento) aos sete anos, em 1873, deixou Mimoso e mudou-se para Cuiabá, onde passou a ser criado por seu tio, Manoel Rodrigues da Silva. Iniciou seus estudos no mesmo ano, na escola particular de Mestre Cruz. No ano seguinte foi matriculado na escola pública do professor João Batista de Albuquerque. Completou o curso primário na escola do professor Francisco Ribeiro da Costa, mestre Chico, em 1878.
Em 1881, aos 16 anos, conclui o curso de professor no Liceu Cuiabano e foi nomeado para o cargo. Em 26 de novembro de 1881 sentou praça como soldado raso, sendo destacado para o 3° Regimento de Artilharia a cavalo, no quartel do antigo acampamento Couto Magalhães, em Cuiabá.
Em 31 de dezembro de 1881, iniciou seus
estudos na Escola Militar da Praia Vermelha, no Rio de Janeiro. Em 1884 começou o seu curso
superior na mesma escola militar.
No ano seguinte, matriculou-se no curso de
cavalaria e infantaria, concluindo-o no mesmo ano. Em 1887 terminou o curso de
artilharia e, em 1888, ao encerrar o curso de estado-maior de primeira classe, foi
promovido a alferes-aluno.
Em março de 1889, ingressou na então Escola Superior
de Guerra, onde ensinava Benjamim Constant Botelho de Magalhães, líder
republicano e positivista, de quem se tornou aluno e seguidor. A influência de
Benjamim Constant na formação de Rondon foi muito forte, principalmente quanto
ao positivismo, doutrina que Rondon adotou e seguiu por toda a vida.
Candido Rondon na queda do
Brasil Império
Teve participação no movimento que depôs a
Monarquia em 15
de novembro de 1889, cujo apoio ele relata em seu diário:
“Estava
cheio o quartel. Chegamos na ocasião em que era arrombada a Arrecadação. Pedi
logo um dos revólveres nagan que estavam sendo distribuídos – arma que
conservo, com a que me ofereceu Roosevelt, verdadeiras peças de museu.
Escolheu
Benjamin Constant para portadores de tão importante mensagem os dois discípulos
em quem mais confiava – os discípulos amados – Fragoso e eu. Seríamos a ligação
entre a ‘Brigada Estratégica’ rebelada e os oficiais revoltados da Armada.
As 4
horas partimos em cavalos escolhidos para uma galopada de São Cristóvão ao
Clube, no largo do Rossio.
O dia
despertava. Súbito, tingiu-se o oriente sob uma chuva de ouro, pálida a
princípio e depois cada vez mais rubra... e sobre essa cortina surgiria em
breve o sol a iluminar um novo dia, a iluminar pela primeira vez a República
brasileira."
Em dezembro de 1889, recebeu o título
de engenheiro militar, e de bacharel em matemática e ciências físicas pela
Escola Militar. Promovido a alferes no dia 4 de janeiro de 1890, três dias depois
ascendeu ao posto de primeiro-tenente ‘por serviços relevantes à República’.
Nomeado em seguida professor substituto de
astronomia e mecânica da Escola Militar por indicação de Benjamim Constant,
Rondon decidiu que, antes de assumir o cargo, aceitaria o convite que lhe fora
feito para desempenhar, em Mato Grosso, as funções de ajudante do major Antônio
Ernesto Gomes Carneiro, chefe da Comissão Construtora de Linhas Telegráficas,
empenhada em construir a ligação entre Cuiabá e a margem esquerda do Araguaia,
divisa com o estado de Goiás, iniciando sua vida de sertanista e desbravador.
O recém-criado governo republicano estava
preocupado com o oeste do Brasil, muito isolado dos grandes centros e nas
regiões fronteiriças.
Em 1890, foi nomeado ajudante da Comissão de
Construção das Linhas Telegráficas de Cuiabá a Registro do Araguaia, a primeira
linha telegráfica do estado de Mato Grosso.
Esta linha telegráfica foi finalmente
concluída em 1895 e, posteriormente, Rondon iniciou a construção de uma estrada que ligava
o Rio de Janeiro (então capital da república) a Cuiabá, capital de Mato Grosso.
Até esta estrada ser concluída, o único caminho entre estas duas cidades era
pelo transporte fluvial.
Em 1891 (ou 1892), Rondon é nomeado chefe do Distrito
Telegráfico de Mato Grosso e pede exoneração do cargo de professor. Nessa
época, ele se casara com Francisca Xavier, no Rio de Janeiro. Juntos, eles
tiveram sete filhos (Heloísa Aracy, Bernardo Tito Benjamin, Clotilde Teresa,
Maria Sylvia, Beatriz Emília, Maria de Molina e Branca Luíza).
De 1900 a 1906, Rondon ficou encarregado de instalar a linha
telegráfica do Brasil para a Bolívia e o Peru. Durante esse período, entrou em
contato com os indígenas bororos, no oeste do Brasil, e foi tão bem sucedido
nesse contato, que completou a linha telegráfica com a ajuda deles.
Ao longo de sua vida, Rondon descobriu e
nomeou rios, montanhas, vales e lagos e implantou mais de cinco mil quilômetros
de linhas telegráficas nas florestas brasileiras.
Em 1906, foi encarregado pelo então presidente da
república, Afonso Pena, de ligar Cuiabá ao recém incorporado território do
Acre.
Explorações
Pela competência demonstrada na construção
de linhas telegráficas, Rondon foi encarregado de estender a linha telegráfica
de Mato Grosso para a Amazônia.
No curso da construção da linha, descobriu o
rio Juruena, um importante afluente do Tapajós, no norte de Mato Grosso. Também
descobriu os Nambiquara, um povo isolado que até então havia matado todos os
não índios com quem entrara em contato.
Rondon também descobriu as ruínas do Real
Forte Príncipe da Beira, a maior relíquia histórica de Rondônia.
Foi promovido a major do Corpo de
Engenheiros Militares, responsável pela construção da linha telegráfica de
Cuiabá para Santo Antônio da Madeira, a primeira a chegar até a região
amazônica. Os trabalhos da chamada Comissão Rondon foram desenvolvidos de 1907 a 1915.
Ao mesmo tempo, estava sendo construída a Ferrovia Madeira-Mamoré, que, juntamente com a exploração e integração telegráfica de Rondon, ajudou a ocupar a região do atual estado de Rondônia.
Em maio de 1909, Rondon iniciou sua mais longa expedição. Ele partiu do distrito de Tapirapuã, em Tangará da Serra, rumo ao noroeste até o rio Madeira, um dos principais afluentes do rio Amazonas. Em agosto, todos os seus suprimentos de sua equipe estavam esgotados. Para sobreviver, a expedição recorreu à caça e à coleta na floresta. Quando chegaram ao rio Ji-Paraná, não tinham suprimentos.
Durante a expedição descobriram um grande
rio entre o Juruena e o rio Ji-Paraná, que Rondon chamou de rio da Dúvida. Para
chegar ao destino, construíram canoas e, com sucesso, a equipe conseguiu chegar
ao Rio Madeira, no Natal de 1909.
Ao regressar ao Rio de Janeiro, o Marechal
Rondon foi saudado como herói, porque se acreditava que ele e a expedição
haviam morrido na selva. Após a expedição, ele se tornou o primeiro diretor do
Serviço de Proteção ao Índio, criado no governo do presidente Nilo Peçanha.
Em setembro de 1913, Rondon foi
atingido por uma flecha envenenada dos índios nhambiquaras. Foi salvo pela
bandoleira de couro de sua espingarda. Porém, ordenou aos seus comandados que
não reagissem, e batessem em retirada, demonstrando seu princípio de penetrar
no sertão somente com a paz. Ele afirmava:
‘Morrer,
se preciso for. Matar, nunca’.
Em 1914, com a Comissão Rondon, construiu 372 km de linhas, e
mais cinco estações telegráficas: Pimenta Bueno, Presidente Hermes, Presidente
Pena (mais
tarde Vila de Rondônia e atual Ji-Paraná), Jaru e Ariquemes, na área do atual estado
de Rondônia.
Em 1 de janeiro de 1915, completou sua
missão com a inauguração da estação telegráfica de Santo Antônio do Madeira.
O Meridiano 52 Oeste é também uma referência geográfica
para a história das comunicações no Brasil. Rondon foi o segundo ser humano a
receber em sua honra um meridiano com seu nome. Ele cumpriu missões abrindo
estradas, criando linhas telegráficas, mapeando florestas, rios e montanhas e
estabelecendo relações cordiais com os índios. Ele manteve contato com vários
povos indígenas do Brasil.
Expedição com Roquette-Pinto
Em 1912
Em 1912 o cientista Edgard Roquette-Pinto (1884-1954) viajou à Amazônia, a convite do general Candido Rondon, em mais uma expedição para desbravar a região, contatar tribos e demarcar fronteiras. Em cada viagem, Rondon levava um perito para cada disciplina. Ao chamar Roquette-Pinto, levou um homem-equipe.
Naquela expedição Roquette foi cartógrafo,
etnógrafo, sociólogo, geógrafo, arqueólogo, botânico, zoólogo, médico,
farmacêutico, legista, linguista, desenhista, fotógrafo, sonoplasta e
folclorista. Registrou toda a aparência da região: folha, árvore, floresta,
composição dos solos, contorno dos rios, variedade da fauna.
Nas visitas às tribos já contatadas, mediu o
crânio de seus membros, comparou pesos e alturas, analisou suas endemias e
descreveu seus conhecimentos, formas de produção, comércio e transporte,
relações familiares, língua, hábitos religiosos e coreografias. Anotou musicalmente
seus cantos e gravou-os em cilindros de cera. Roquette realizou até a primeira
autópsia de um indígena --por acaso, uma mulher.
A morte estava sempre ao lado: dias e dias
de caminhada sem sol visível, à mercê de calor, animais, flechas, armadilhas,
varíola, beribéri, malária. De volta ao Rio em dezembro, doou ao Museu Nacional
uma tonelada e meia de objetos, que transportara em carro de boi pela selva. As
anotações musicais foram entregues ao jovem Villa-Lobos para serem
harmonizadas.
Em 1916, Roquette condensou tudo em sua obra-prima,
‘Rondônia’, um tratado multidisciplinar sobre aquele Brasil recém-revelado, e
um libelo contra a tese, então corrente, de que nossas mazelas se deviam à
composição étnica.
Expedição com Roosevelt
Em janeiro de 1914, Rondon partiu com o ex-presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt na
Expedição Científica Rondon-Roosevelt, cujos objetivos eram explorar o Rio
da Dúvida e definir se era afluente ou não do Rio Amazonas. A expedição deixou
Tapiripuã e chegou ao Rio da Dúvida em 27 de fevereiro de 1914. Devido aos muitos
imprevistos que ocorreram, até o final de abril eles ainda não haviam alcançado
a foz do rio. Durante a sofrida expedição, o Rio da Dúvida foi renomeado para
Rio Roosevelt.
Com 679 quilômetros de extensão (fonte: Agência
Nacional de Águas), o Roosevelt nasce em Rondônia, passa pelo Mato Grosso, e
vai até o Amazonas.
A expedição científica descobriu que o Rio Roosevelt
tornava-se, no estado do Amazonas, um afluente do rio Madeira. As águas claras,
as ilhas, as praias e a riqueza e variedade de peixes e animais silvestres em
suas margens também contribuíram para tornar o rio um dos mais famosos do Mato
Grosso.
A aventura no rio da Dúvida foi a mais
difícil da vida de Theodore Roosevelt, tendo abalado sua saúde para o resto da
vida. Todos os homens, exceto Rondon, sofreram de doenças e enfermidades
constantes.
Anos depois
Após a expedição de 1914, Rondon trabalhou
até 1919, mapeando o estado
de Mato Grosso. Durante esse tempo, ele descobriu mais alguns rios, e fez
contato com várias tribos indígenas.
Em 1919, já como general de brigada, Rondon foi
nomeado diretor de Engenharia do Exército, e autorizou a construção de
quartéis. Nessa época ele também acumulou os cargos de chefe da corporação
brasileira de engenheiros, e de chefe da Comissão Telegráfica.
Em 1924 e 1925, ele liderou as forças do exército contra
uma revolta no estado de São Paulo.
De 1927 a 1930, Rondon foi encarregado de examinar todas
as fronteiras entre o Brasil e seus países vizinhos.
Durante a Revolução de 1930, Rondon renunciou
ao cargo de chefe do SPI.
Durante 1934-1938, Rondon foi encarregado de uma missão
diplomática, como mediador de uma disputa entre a Colômbia e o Peru sobre a
cidade de Leticia.
Em 1939, ele voltou à direção do SPI e expandiu o
serviço para novos territórios do Brasil.
Na década de 1950, ele apoiou a campanha dos Irmãos
Villas-Bôas, que enfrentava forte oposição do governo e dos fazendeiros de Mato
Grosso, que levou ao estabelecimento da primeira reserva para os povos
indígenas: o Parque Nacional do Xingu, criado em 1961.
Em 5 de maio de 1955, data em que completou 90 anos de idade, foi
agraciado com o título de Marechal do Exército Brasileiro, concedido pelo
Congresso Nacional.
Em 1957, Rondon foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz
pelo Explorers Club de Nova Iorque.
Faleceu no dia 19 de janeiro de 1958, aos 92 anos de idade. Seu
corpo foi sepultado no Cemitério de São João Batista, no Rio de Janeiro.
Homenagens
O marechal Cândido Rondon é considerado um
dos principais heróis e patriotas brasileiros e, portanto, tem sido homenageado
pela população e pelo governo de várias maneiras. Ele é o ‘Pai das
Telecomunicações Brasileiras’, e o dia 5 de maio, data de
seu aniversário, é também o ‘Dia Nacional das Telecomunicações’, estabelecido
em sua homenagem. Teve a glória de ter seu nome escrito em letras de ouro no
maciço Livro da Sociedade Geográfica de Nova Iorque.
Títulos
Em 5 de maio de 1955, data de seu aniversário de 90 anos, recebeu o
título de Marechal Honorário do Exército Brasileiro, concedido pelo Congresso
Nacional.
Em 1957, foi indicado para o prêmio Nobel da Paz,
pelo The Explorers Club, de Nova Iorque.
Em 1963, foi homenageado com a designação de
‘Patrono da Arma de Comunicações do Exército Brasileiro’.
Logradouros
Por meio da Lei Ordinária, nº 2 731/56, em 17 de fevereiro de 1956, o Território
Federal do Guaporé teve seu nome alterado para Território Federal de Rondônia
e, em 22 de dezembro de 1981 foi elevado a
estado com o nome Rondônia por meio da Lei Complementar nº 41/81.
O município de Marechal Cândido Rondon foi
criado em 1960.
O principal aeroporto de Mato Grosso chama-se Aeroporto Internacional Marechal Rondon, enquanto o Aeroporto de Marechal Cândido Rondon serve à cidade homônima.
O Marechal Rondon é também homenageado
nomeando diversos bairros, escolas e logradouros no Brasil, como a Rodovia
Marechal Rondon.
Em 1918, o povoado de Rio Vermelho foi renomeado como
Rondonópolis, em homenagem ao mato-grossense Marechal Rondon que também teve
préstimos realizados nesta cidade durante as realizações das expansões
telegráficas.
Outros
Em 1918, recebeu a Medalha Centenário de David Livingstone da Sociedade
Geográfica Americana.
Em 1919, recebeu a Medalha do Explorers Club.
Seu rosto foi estampado na nota de mil cruzeiros.
Em 1º de julho de 2015, o Governo Federal determinou a inscrição
do nome de Rondon no Livro de Heróis da Pátria, depositado no Panteão da
Pátria, em Brasília.
Em 1968, foi iniciado o Projeto Rondon, com o objetivo de levar a juventude universitária a conhecer a realidade brasileira e a participar do processo de desenvolvimento.
Fonte: Esther de Viveiros, ‘Rondon conta sua
vida’, Cooperativa Cultural dos Esperantistas, Rio, 1969 | Brazil Imperial | WP
(JA, Abr22)