Nestor foi fazer um
estágio em outro país, proporcionado pela multinacional onde trabalhava. A família, mulher e filhos, permaneceram no
Brasil. Lá, teve oportunidade de conhecer e conviver com uma colega de
trabalho, Anne,
Ambos tinham cerca de 40
anos, casados, com filhos. Com o tempo, como consequência de histórias de vida
muito parecidas, afinidades, foram,
naturalmente, se aproximando, até que, oportunamente, se tornaram amantes. Sua relação não era exclusivista, e nem tinha
prazos ou horários pré-determinados.
Quando acontecia de terem uma oportunidade, se encontravam. Se não, tudo
bem. Cada um tinha a sua vida bem estruturada, que seguia seu curso , como
sempre.
Nestor não tinha
problemas com a família – muito pelo contrário. Entretanto, nos últimos tempos
seu casamento tinha entrado num processo de esfriamento que tornou a relação do
casal mais de amizade, com cada parte cuidando de suas responsabilidades, sem
dar uma atenção especial um ao outro, como acontecia no início da relação. Por
conta disso e, principalmente, devido à distância que os separava, com muita
frequência, ultimamente, se sentia sozinho, carente.
Anne, por sua vez,
vivia um casamento que passou a ser insípido por diversas razões. Mas, a
principal era que seu marido trabalhava em outra cidade, e só vinha para casa
nos fins de semana. Ela aceitava essa situação principalmente pela conveniência
financeira, por conta do companheirismo histórico que dedicava ao marido, e
pelos seus filhos – jovens ainda, dependentes de seu apoio, orientação.
A relação entre Nestor e
Anne não levou a nada concreto. Apenas lhes proporcionou alguns momentos
excitantes, agradáveis, enquanto durou. Esses momentos, então, foram muito úteis
para ajudá-los a suportar, a superar a fase de ‘baixa’ em que ambos estavam
vivendo. Entretanto, com o tempo, por diversos motivos, principalmente
profissionais - terminado o estágio, ele voltou para o Brasil-, acabaram por se
afastar de uma maneira definitiva, natural, sem consequências.
Com o término da relação,
Nestor, refletindo sobre, concluiu que o seu caso foi compensador. Não causou sofrimento a ninguém, não se
sentia culpado de nada. Pelo contrário, sentia-se contente pela sua escolha
acertada, por terem tido ambos um comportamento responsável durante o processo,
e por todos os momentos bons que tiveram juntos. Neste caso, o final foi feliz para todos, sem
consequências negativas.
Naturalmente, essas
histórias nem sempre acabam assim. Muitas vezes, na sua maioria pode-se dizer,
causam efeitos colaterais, envolvendo outras pessoas - separação, sofrimento,
dor... - e, portanto, não compensam o benefício obtido.
Pesquisando, Nestor ficou
a par de que, em muitos casos, a infidelidade conjugal é uma forma de agressão
a si mesmo, ou ao parceiro original. Em decorrência, as pessoas, homem ou
mulher, podem criar um espaço e mergulhar num relacionamento ocasional,
inconsequente, irresponsável, sem uma escolha e motivação emocional mais
profunda. Previsivelmente, a relação é satisfatória, prazerosa só por pouco
tempo. Então, insatisfeitas, partem para outras relações, de forma recorrente, tentando
compensar a sua frustração. Como consequência, acabam por causar problemas para
si, seus parceiros, e para os outros envolvidos.
Não são apenas os homens
que têm esse comportamento, podemos dizer ‘predador’. As mulheres também podem
agir assim. A infidelidade masculina é mais frequente porque os impulsos sexuais
do homem são mais intensos. No caso da feminina, pode ser decorrente da
emancipação emocional - que é outra característica dessa nova geração de
mulheres que, mesmo estando em um relacionamento satisfatório, têm curiosidade,
querem experimentar novos prazeres. É sabido que a infidelidade tem relação com
o sistema de recompensa do cérebro. Esta área produz dopamina, substância
responsável pelo prazer. Ela é ativada durante o ato sexual e ao comer
alimentos gostosos. Ou seja, quando fazemos algo que gostamos, queremos
repetir. O sistema de recompensa funciona da mesma forma em homens e mulheres.
Portanto, não é o fato de
ser homem ou mulher que determina esse comportamento, mas, principalmente, as
experiências de vida anterior, o seu momento atual. Isso vale tanto para pessoas normais, para as fortes
e bem sucedidas, como para as frágeis e fracassadas. A relação extraconjugal,
nesse caso, é uma forma que encontram para
satisfazer uma curiosidade, sentir prazer; ou para se auto afirmar, demonstrar o seu poder; ou
para adquirirem confiança para conseguir superar a sua fragilidade.
O casal pode se
distanciar basicamente por dois motivos: pelo distanciamento físico ou por fatores
comportamentais. A distância física é fácil de entender. Na falta de um parceiro, a tendência é que o
vácuo seja preenchido. A outra é quando ambos, tendo perdido a atração
inicial, se mantém juntos, mas sem se complementarem, sem troca de emoções, de
sensações físicas, ou seja, estão juntos mas afastados.
Idealmente, a traição
deve ser evitada, considerando suas consequências. Para tanto, o recurso mais recomendável é
expor suas dúvidas, medos e insatisfações, ao parceiro. É o primeiro passo para
uma relação saudável. Quando sentir que seu parceiro está diferente, que o sexo
não é mais a mesma coisa, coloque as cartas na mesa. Conversando, o casal pode
se entender.
E foi assim que ele fez.
Voltando ao Brasil, Nestor oportunamente contou à sua esposa o que sentia e,
surpreso, ficou sabendo que ela sentia o mesmo que ele. Então, procuraram ajuda psicológica e, pouco
a pouco, foram se reencontrando, renovando seus laços, tratando um ao outro
como alguém especial.
“Enquanto não atravessarmos a dor de nossa própria solidão, continuaremos a nos buscar em outras metades. Para viver a dois, antes, é necessário, ser um.” Fernando Pessoa,
(JA, Dez16)