Ele tinha um molho de chaves onde
estavam todas as chaves da casa: as das portas
de entradas, dos armários; das edículas da
casa de máquinas da piscina, das ferramentas utilizadas para jardinagem, do
filtro da água que vem da rede externa, da entrada da energia elétrica, dos botijões de gás; do espaço sob a
churrasqueira, onde fica a minigeladeira, exclusiva para resfriamento de bebidas;
da dispensa, dos quartos e do depósito.
Um dia, pensando na possibilidade de alguém
necessitar acessar a casa, e precisando apenas utilizar as chaves de entrada – porta
principal, da área de serviço e da varanda -, e para facilitar, tirou essas
chaves do molho principal e as colocou num outro chaveiro, específico.
Num outro dia, tirou do molho as
chaves das edículas e as colocou num chaveiro próprio, para facilitar, quando o
piscineiro/jardineiro, necessitasse e não dispusesse das suas próprias.
Como era de seu uso exclusivo, tirou
as chaves da geladeirinha e da dispensa da casa e as colocou num chaveiro exclusivo
também.
Tirou do molho as chaves que eram dos
armários e as colocou num outro chaveiro. Elas tinham um formato diferenciado
das demais e só eram utilizadas em ocasiões especiais. Não tinha sentido ficar
carregando essas chaves para lá e para cá.
No finalmente, só sobraram no molho
original as chaves das portas internas que raramente eram trancadas. Então,
colocou essas chaves nas respectivas fechaduras, para serem utilizadas quando
necessário.
A casa ficava localizada em um
condomínio fechado, com uma segurança rígida, feita por agentes armados que
circulavam de moto, de maneira recorrente, por toda área. Além disso, havia
sido instalado um sistema de câmeras que controlava visualmente todos os acessos,
tanto das áreas comuns como das casas, com um monitoramento central muito bem
administrado: sempre que se notava alguém estranho na área, ou alguma
impropriedade, o agente mais próximo era alertado via rádio e se dirigia ao
local para verificar.
Considerando o baixo risco de invasão,
ele não se preocupava em manter as portas fechadas. Aliás, como era costume
local, deixava sempre aberta a porta principal sinalizando que as visitas eram
bem vindas.
Hoje em dia, além de não ter o molho
original, onde estavam todos as chaves da casa, tem dificuldade em localizar,
quando necessário, os chaveiros específicos, pois raramente são utilizados.
Analisando esse ‘case’, é fácil
concluir que frequentemente somos levados, por isso ou por aquilo, a passar muito tempo construindo castelos de
cartas (ou de chaves), e cuidando para que não caiam, sendo que se caíssem,
isto não teria nenhuma consequência mais séria, não significaria nada, além do fato.
Considerando a limitação do tempo, da
própria vida, mais produtivo seria definirmos e concentrarmos nosso empenho e
energia, nas coisas que forem realmente
importante para nós, e não meros caprichos ou manias.
Quanto ao resto, relaxar, deixar as ‘portas
e janelas’ abertas, respirar o ar puro que entrar; fechar quando o tempo não
estiver bom. Enfim, criar condições para fazer o que deve ser feito, sem
estresse. Estar atento e aproveitar todos momentos especiais que ocorrerem. E eles
sempre ocorrem, quando se está disponível,
de coração aberto.