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Tebas, o arquiteto escravo de São Paulo



Falar da história de São Paulo e, em especial do centro, é complicado. É fácil contar a história da Catedral da Sé, da Estação da Luz, e da fundação de São Paulo. São temas comuns à população, e que muita gente tem alguma noção de sua trajetória de formação.

Entretanto, enquanto são feitas pesquisas, é possível descobrir curiosidades que, na maioria das vezes, são ignoradas pela maioria das pessoas e, até mesmo, pelos jornalistas em geral. Tive a oportunidade de, em uma grande pesquisa que estou fazendo para a SP In Foco, me deparar com o nome de Joaquim Pinto de Oliveira, ou Tebas, como também era conhecido.

Nascido em 1721, na cidade de Santos, no litoral do estado, ele foi escravizado por Bento de Oliveira Lima, português, e um dos mais reconhecidos mestre de obras da região. Foi com ele que Tebas teve seus primeiros ensinamentos de pedreiro. Com o passar do tempo, e a falta de oportunidades em Santos, os dois subiram a serra em busca de serviços melhores.

E foi aí que Tebas passou a fazer parte da história de São Paulo.

Com grande talento na arte da cantaria, que consistia em talhar pedras para serem usadas em construções, ele foi responsável pelo primeiro chafariz público da capital paulista, localizado onde hoje existe a rua Direita. Desde 1886, a peça não se encontra mais no local, tendo sido retirada após o processo de canalização de água.

Igreja da Ordem Terceira do Carmo São Paulo

O mestre de obras Bento de Oliveira Lima morreu antes da conclusão da reforma da antiga Catedral da Sé. Endividada, a família dele vendeu Tebas para a Igreja. Tempos depois, Tebas processou a viúva de Lima, ganhou a causa, e conquistou sua alforria entre 1777 e 1778, aos 57 ou 58 anos de idade, e seguiu trabalhando como arquiteto até o fim da vida.

Por volta de 1750, com 29 anos, Tebas teve uma ascensão meteórica em seu ofício de construtor, sendo o responsável por empreendimentos como: projetar e construir a torre da primeira Catedral da Sé, o frontão (conjunto arquitetônico que decora o topo do lado principal de um edifício) do Mosteiro de São Bento, e os elementos decorativos da fachada da Igreja da Ordem Terceira do Carmo, e Igreja das Chagas do Seráfico Pai São Francisco.

Igreja Matriz da Sé, onde Tebas construiu a torre, em 1750, e executou a reforma do prédio, entre 1777/8 

Alforriado entre 1777 e 1778, aos 57 ou 58 anos de idade, Tebas morreu no dia 11 de janeiro de 1811, vítima de gangrena, aos 90 anos. O velório e o sepultamento foram realizados na Igreja de São Gonçalo, ainda hoje existente na Praça João Mendes.

Encontrei várias referências relativamente atuais ao trabalho de Tebas, como a de Benedito Lima de Toledo, professor emérito da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU-USP), em entrevista concedida à revista ‘Leituras da História’, 2012, destacando que Joaquim Pinto de Oliveira soube captar a religiosidade da época, e expressá-la de maneira muito pessoal.

‘Essa expressão da religiosidade é que o transformou em arquiteto, e as suas obras em arte. Pode-se dizer que Tebas foi decisivo para a constituição daquilo que Luís Saia, outro arquiteto de peso, chamou certa vez de período de renovação estilística, ocorrido especialmente nas igrejas na segunda metade do século 18, afirma Abílio Ferreira.

Uma curiosa ‘estória’ sobre o arquiteto

Encontrei no portal da CEERT a seguinte história:

No século 18, enquanto construíam a primeira catedral da Sé, em São Paulo, Tebas passava um bom tempo observando as obras. Intrigado com a curiosidade do escravo, o padre Justino, capelão do Convento do Carmo, perguntou-lhe o motivo dele estar ali. Tebas retribuiu com outra pergunta: ‘Cadê a torre?’

Justino disse que não havia nenhum construtor capaz de erguer tal torre. Tebas, que dominava a técnica de taipa e pilão, entendia de alvenaria e hidráulica, se dispôs a construí-la, sob duas condições: receber sua carta de alforria e que o primeiro casamento da catedral fosse o dele. E, em 1755, ficou pronta a primeira catedral da Sé, com a torre construída por Tebas.  
                                                                      
Homenagens, um livro e um ‘Doodle’ sobre o arquiteto

Também é possível encontrar algumas homenagens, ainda que poucas, ao trabalho executado por Tebas. O grande compositor Geraldo Filme fez uma música em homenagem ao artista, que você pode conferir abaixo:



Além disso, há um livro, que não encontrei em lugar nenhum, sobre a obra e a vida de Tebas: ‘Tebas: Um Negro Arquiteto na São Paulo Escravocrata’. Foi lançado em 2019 pelo escritor e jornalista Abilio Ferreira e é a primeira publicação de não ficção dedicada ao construtor, reunindo artigos de cinco especialistas. 

A descrição do livro é a seguinte:


Chafariz de Tebas – Largo da Misericórdia, 1888 

Tebas foi o responsável pela construção do Chafariz da Misericórdia, 1792, sua obra mais conhecida, além dos ornamentos de pedra da fachada das principais igrejas paulistanas da época, como a da Ordem Terceira do Carmo, 1775-1776; a do Mosteiro de São Bento, 1766 e 1798; a da velha Catedral da Sé, 1778; a da Ordem Terceira do Seráfico São Francisco, 1783; e também do enorme Cruzeiro Franciscano da cidade de Itu, 1795

Mais de 200 anos após sua morte, em 2018, Tebas finalmente foi reconhecido como arquiteto pelo Sindicato dos Arquitetos no Estado de São Paulo (Sasp).

No dia 30 de junho de 2020, o Google o homenageou com o um de seus famosos Doodles, registrando a história desse homem importantíssimo para a história paulista.




Fontes


(JA, Jul20)



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