Ângelo (Angelin)
Massarioli e Messias (Filinha) de
Alvarenga, nasceram no interior do
Estado de São Paulo, no final da segunda década do século 20.
A família
dela tinha uma propriedade rural próxima à cidade de Barretos. Eram em muitos
irmãos. Oportunamente, o pai dela, comandando uma comitiva de vaqueiros fez uma
viagem a cavalo para levar uma boiada
para vender numa região próxima. A família, mãe e irmãos, por segurança, foram
ficar na casa que tinham na cidade de Penápolis, enquanto isso. Durante a
viagem, alguns vaqueiros da comitiva pegaram algum tipo de vírus e vieram a
falecer. Num determinado momento, tentaram atravessar um rio largo, com forte
correnteza, e perderam muitos animais. Ele, desesperado, vendo que estava
perdendo tudo o que tinha investido, sofreu um derrame e foi levado para a
fazenda, onde veio a falecer alguns anos depois, após um segundo derrame.
A mãe e as
filhas mais velhas e um dos irmãos, começaram então a costurar para fora para
sobreviver. A fazenda que naquela época, como as demais da região, não tinha o
devido registro em cartório e acabou sendo ‘administrada’ por um dos tios que
assumiu a propriedade, o controle dos negócios, contratando alguns dos filhos
do falecido como empregados.
Filinha, inicialmente
morou na casa de um irmão mais velho, casado, ajudando nas tarefas domésticas.
Mais tarde, começou a costurar com a mãe e irmãos. Cheia de iniciativa, algum
tempo depois, veio sozinha para São Paulo capital, a procura de trabalho. Arranjou
um emprego como enfermeira estagiária. Em seguida, teve a oportunidade, e
começou a trabalhar no recém inaugurado Hospital das Clínicas, onde fez um
curso profissionalizante, conseguindo então se formar como Técnica em
Enfermagem.
Angelin era
filho de pais da 2ª geração de imigrantes italianos que, vindos da
Itália, inicialmente, foram trabalhar na lavoura no interior de São Paulo.
Emilio, seu pai, por isto ou por aquilo, acabou deixando a agricultura de lado,
e passou a trabalhar como motorista de ‘Táxi’, numa pequena cidade próxima a
Catanduva – Elisiário. Muito bem relacionado e querido, acabou sendo eleito
prefeito dessa cidade por um determinado período. Um dos irmãos do Angelin tinha se tornado
alfaiate e, ele, por seu intermédio, aprendeu a profissão.
Querendo
mais da vida, acabou vindo para São Paulo, onde, depois de várias tentativas de
trabalho, se encontrou na profissão de ‘Barbeiro’. Trabalhou em alguns dos salões mais famosos
da cidade - anos mais tarde acabou se se tornando proprietário de um deles-, e
passou a frequentar o Clube Tietê, onde jogava Futebol e praticava Remo.
Ocasionalmente
se conheceram e, no prazo de mais ou menos um ano, acabaram se casando.
Um ano mais tarde, 1947, nasceu seu primeiro filho. E, oito anos depois, em 1955, o segundo.
Eles, embora
vivessem sem luxo, sempre conseguiram residir em casas boas e bem localizadas;
uma ou duas vezes por ano, faziam viagens para visitar os familiares no
interior; e conseguiram dar estudo de uma bom nível para seus dois filhos. Ambos
se formaram, também constituíram família, compraram seus móveis e imóveis e,
atualmente estão procurando fazer o mesmo com os filhos deles.
Quanto a
ela, embora a partir de determinada época tenha passado a sofrer de uma dor de
cabeça crônica, sempre foi uma mulher forte, determinada. Sua casa sempre
esteve aberta para os parentes jovens do interior que, como ela no início,
buscavam uma oportunidade de emprego, de crescimento na capital. Uma de suas
irmãs viveu na sua casa durante toda a vida, depois de vir do interior para a
capital.
Ele mais
calmo e tolerante, sempre foi um homem responsável e bem humorado. Nunca deixou
faltar nada em casa, dentro das suas possibilidades. Não reclamava de nada e,
quando foi necessário, sem que os filhos ficassem sabendo, tomava alguma
iniciativa para superar o problema e restabelecer o equilíbrio doméstico.
Valorizavam
muito a vida em família. Todos os fins de semanas havia encontros entre os
parentes. Todos se frequentavam, se ajudavam, participavam dos problemas e
alegrias um do outro. Atualmente, observa-se um declínio desse hábito que, quem
teve oportunidade de praticar, valoriza muito.
Hoje as pessoas, independentemente da frequência com que acessam as
redes sociais, vivem mais isoladas, têm uma vida mais solitária. Poderíamos
dizer que a maioria sofre de falta de amor, que era abundante no passado.
Ela, muito
religiosa, sempre se relacionou bem com os representantes da igreja, e, nos
momentos certos, sempre conseguiu colocar seus filhos nos melhores colégios
particulares católicos, provavelmente mediante a obtenção de um desconto
significativo, considerando suas limitações, nunca comentado.
Foram sócios
do Clube Atlético Ipiranga e, mais tarde ainda, do Paineiras do Morumby.
Com o passar
do tempo, a chama que lhes dava energia e motivação, foi se apagando, até que,
quando tinham cerca de 80 anos, se apagou de vez.
Seus filhos,
hoje, lamentam não terem conversado mais com eles, terem tido oportunidade de
conhecer mais detalhes da sua história, reconhecido mais o seu valor enquanto
vivos. Mas, a forma de ser deles parecia tão natural, que os filhos não
imaginavam então que pais pudessem ser diferentes. E como podem...
Se fosse para resumir a vida desse casal em algumas palavras, poderíamos dizer: ‘Foram pessoas que se destacaram pelo seu Ânimo, Iniciativa, Responsabilidade, Trabalho, Coragem, Idealismo e Solidariedade’. Serviram de exemplo positivo para mais de uma geração, e merecem todo o nosso respeito.
“Os pais nunca morrem, apenas ficam invisíveis.”
(JA, Out18)