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Esfera da Memória



Paulo, quando entrou na faixa dos 60 anos, notou que as suas lembranças recorrentes referiam-se a uns poucos fatos que, embora parecessem recentes para ele, eram muito antigos. Parecia que o tempo estava encolhendo, quanto mais os anos passavam, mais rapidamente pareciam passar. A seleção dessas memórias eram feitas automaticamente, independentemente da sua vontade.  As lembranças variavam – podiam se referir a passagens boas e ruins, importantes e menos importantes, que ele vivenciou ou presenciou. Entretanto, todas tinham uma coisa em comum: elas afetaram a sua sensibilidade, os seus sentimentos, na época e até agora.

À propósito, reportou-se aos acontecimentos de 11 de Setembro de 2011.  Nessa data, num ato terrorista, aviões foram jogados sobre o Edifício do WTC, em Nova York, EUA. Foi um grande sinistro que provou inúmeras mortes e um impacto mundial, pela violência e pelo inesperado.

Aquele evento  ficou marcado em sua mente. Ele ainda se lembra exatamente onde estava naquela hora, fazendo o que, e o que pensou e sentiu quando soube do ocorrido.  Pensando bem, concluiu, já se passaram tantos anos desde então, e, no entanto, está tudo tão claro que parece que foi ontem. 

Realmente, quando nos lembramos dos acontecimentos mais marcantes da nossa vida, que nos tornaram o que somos, ficamos surpreendidos com a quantidade de tempo decorrido. Não parece ter passado tanto tempo.  Então, somos levados a concluir que o tempo, relativamente, diminuiu.

Paulo percebeu também que, com o avançar da idade, quando a vida para ele já não era tão atraente quanto antes, a seleção de memórias conscientes foi sendo reduzida naturalmente. Algumas memórias permaneceram, outras simplesmente foram perdendo a força, o significado, ficando ocultas. 

Embora o tempo seja definido, controlado, ele varia de acordo com a percepção individual. Pode ser mais rápido, mais lento. Mas, inexoravelmente, ele passa.
Ao vermos alguma coisa ou pessoa se afastando do ponto em estamos, parece que ela está diminuindo de tamanho.  O mesmo acontece em relação às nossas lembranças. O tempo passado nos distancia dos fatos que, aos poucos, através de uma seleção natural, vão  ocupando um espaço cada vez menor em nossa memória consciente.
No primeiro caso, a distância aumentou e, paralelamente, diminuiu a pessoa ou objeto. No segundo, o tempo aumentou, e as memórias diminuíram. Em ambos os casos as pessoas, os objetos e as memórias continuavam com seus tamanhos, com a sua força originais.  Isto o levou a validar a correção da teoria científica que definiu que a relação intima entre tempo, espaço e matéria.
Em Física, de acordo com a teoria de Einstein, a matéria em deslocamento influi na velocidade do tempo dispendido para percorrer determinada distâcia. Quanto menos matéria, maior a velocidade. Será que a percepção de que o nosso tempo acelerou, parecendo voar, não se deve ao fato da nossa ‘matéria’ ter diminuido? 
Baseado nessas observações e dúvidas, Paulo desenvolveu uma teoria a qual chamou de ‘Memória Esférica. Essa teoria, poderia ser resumida assim:
A matéria existencial de cada ser humano é a sua memória. Quanto menor o volume de memórias conscientes, mais rápido passará o seu tempo, de acordo com a sua percepção.
O que poderia ser traduzido pela fórmula:  Vm = ΔM/ΔMS
Onde
Vm  =  Velocidade média               
ΔM   =  conjunto de todas as memórias               
ΔMS  =   memórias selecionadas, conscientes 
.
Portanto, quanto menor for a quantidade de memórias selecionadas pela mente do indivíduo, de acordo com a sua percepção, maior é a velocidade da passagem do tempo para ele. E o contrário também vale: quanto maior a quantidade de memórias selecionadas pela mente, menor é a velocidade da passagem do tempo
Quando nascemos, vivemos nossa primeira infância, nosso tempo é como se fosse ilimitado, e o nosso espaço disponível para registro de memórias conscientes parece ser interminável. Isso é explicável porque esse espaço  ainda foi muito pouco utilizado. Como o passar dos anos, com as experiências que forem sendo vividas, acumuladas, na adolescência, juventude, maturidade, esse espaço vai ficando mais cheio. Como nessa época da vida estamos ocupados com o nosso dia a dia - quase  todo preenchido com estudo, trabalho, interesses diversos, normalmente nem percebemos pois o nosso foco está no presente e no futuro,  muito pouco no passado.  Entretanto, nesse período, as memórias vão sendo criadas, se acumulando, ocupando espaço. 
Ao entrarmos na velhice, o presente e o futuro vão ficando mais limitados, perdendo a força, e passamos a valorizar mais o passado: as pessoas queridas, que foram importantes para nós, nossas realizações,... Então, entre todas as memórias, embora todas tenham deixado a sua marca indelével em nós,  na nossa alma, selecionamos e convivemos apenas com as que consideramos mais importantes. A esfera das nossas memórias vai sendo reduzida e, consequentemente,  de acordo com a teoria, o tempo passa mais rápido. .
No finalmente, essa esfera se reduz de tal maneira que, então, só se destacam as memórias mais significativas entre as importantes, aquelas que tiveram um papel decisivo nas nossas vidas, aquelas que realmente contribuíram para ser o que nos  tornamos.  Então, é como se a esfera fosse se reduzindo, reduzindo, excluindo da nossa consciência as memórias menos importantes ou significativas, até que todas sejam descartadas. Nessa fase, a pessoa pode se fechar tanto, e, como consequência, deixar o seu tempo tão reduzido,  passando tão rápido, que praticamente fica pronta para partir, para deixar de existir.
Paulo, embora reconhecesse a lógica da sua teoria, não aceitava, não concordava com a sua natureza.  Ele acreditava que essa esfera poderia ter a sua redução prorrogada se as pessoas passassem a cultivar com mais carinho as suas memórias. Valorizado mais as boas lembranças, minimizando as más, criando novas, classificando-as para ajudar na sua recuperação, quando necessário.
À exemplo do escritor que anota tudo que considera interessante, classificando suas anotações por assunto, para maior facilidade de localização, as lembranças também poderiam ser. Memórias afetivas, sociais, eróticas, turísticas, relacionais, monetárias, patrimoniais, ...
Ao nos preocuparmos em criar, reunir e classificar as nossas memórias, valorizamos mais os fatos da nossa vida, aos quais poderemos sempre recorrer, principalmente naqueles momentos que precisamos nos sentir mais alegres, mais amados, com maior autoestima, ... Além disso, passamos então a identificar mais claramente, o que é mais e menos importante para nós, para nossa vida. Isso, paralelamente, facilitará, aumentará a chance, do acerto nas nossas escolhas futuras.
Realizando melhores escolhas, teremos mais memórias positivas, de uma forma recorrente, aumentando sempre a nossa Esfera da Memória, retardando a velocidade da passagem do tempo. Assim, teoricamente, além de termos uma vida mais longa, ela será mais produtiva e, muito provavelmente, mais feliz.
E Paulo assim fez. Hoje aos 88 anos, tem uma vida social ativa, muitos bons amigos, financeiramente está tranquilo para o seu padrão, e ainda tem alguns projetos pessoais que está buscando realizar.

Às vezes, o próprio indivíduo é mais limitante do que a sua idade.
A relatividade do tempo não modifica o fato de cada um tem uma vida única, exclusiva, pela qual ele é o responsável e maior interessado.

(JA, Abr16)

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