Entre os muitos segmentos da nossa cidade a gastronomia, com
certeza, é um dos mais atrativos, diferentes e multiculturais. Muito do que
consumimos, todos os dias, são pratos e iguarias trazidos por outras nações
que, em alguns casos, foram adaptadas ao gosto local.
Muitas pessoas desconhecem, mas a coxinha, panetone, lanche
de mortadela, bauru e a sopa do Ceagesp são pratos típicos da nossa cidade que,
com o tempo, foi caindo no gosto de toda a população, não só de São Paulo, mas
de todo o país.
Para refrescar essas lembranças e levar ainda mais curiosidade a todos, fizemos um resumo da história desses cinco pratos tradicionais da nossa gastronomia e trouxemos para vocês! Preparem os guardanapos e vamos lá:
Sanduíche de Mortadela - A história do lanche mais famoso
do Mercadão começa em 1933, em um pequeno estabelecimento
chamado ‘Bar do Mané’. Durante muitos anos esse bar serviu lanches, bebidas, e
todo tipo de gastronomia que agradasse seus fregueses, mas, em 1970, após achar que seu lanche tinha pouco recheio, um
cliente reclamou.
Foi então que um dos donos do estabelecimento resolveu encher
o lanche de mortadela para que o cliente não reclamasse mais. Entretanto, diz a lenda, que o cliente que
estava ao lado do ‘reclamão’ também quis seu lanche com o recheio extra, e
assim foi criada a tradição do enorme lanche do Mercadão.
A iniciativa deu certo e a iguaria começou a ficar famosa na cidade. No dia 10 de julho de 1979, o guia do Estadão falou pela primeira vez do sanduíche em uma matéria de página inteira. A partir de então, a iguaria só foi ficando mais famosa, aparecendo, inclusive, em uma das novelas da Globo, ‘A Próxima Vítima’.
Coxinha - Uma das lendas que fala sobre o surgimento da coxinha
relaciona o salgado à cidade de São Paulo. Diz-se que, com a rápida
industrialização de SP, a demanda por comida nos portões das fábricas era
grande.
O salgado mais consumido, na época, eram as coxas de galinha que, infelizmente, estragavam muito rápido. Pensando em como resolver esse problema, os comerciantes começaram a desfiá-las, e a envolvê-las em uma massa, dando o aspecto de coxinha que conhecemos hoje. A iniciativa foi um sucesso, e o salgado se popularizou em níveis gigantescos, sendo consumido em todo o país.
Panetone - Essa é uma receita que não foi exatamente feita por
aqui, mas que ganhou uma sobrevida em São Paulo. E essa repaginada no panetone
começa em 1948, quando Carlo Bauducco chegou ao
Brasil vindo da Itália.
Comerciante nato, Bauducco percebeu que existia um consumo de
panetone no país, embora ele fosse muito pequeno, se comparado à colônia
italiana que morava por aqui.
Pensando em se estabelecer na cidade, ele começou a trabalhar
em um panetone artesanal para preencher essa lacuna de mercado. Em 1950 ele já produzia um novo tipo de panetone, e começava a
se tornar febre na cidade. Uma das maiores curiosidades dessa doceria que, mais
tarde se tornaria uma grande empresa, fica por conta de uma ação de marketing que
ele executou. Sua ideia foi encher um avião de panfletos, e espalhar pela
cidade.
Ele conseguiu, ao mesmo tempo, divulgar o panettone, desconhecido para muita gente, e vender todo o estoque em apenas três dias. E a receita BAUDUCCO do bolo com uvas passas, e frutas cristalizadas, rapidamente ganhou espaço de honra na mesa das famílias brasileiras.
Bauru - A origem de outro lanche extremamente famoso e que faz
parte da história viva de São Paulo é curiosíssima, e tem a participação direta
de Casimiro Pinto Neto, um estudante de direito do Largo São Francisco.
Nascido na cidade de Bauru, Casimiro era um frequentador
assíduo do Ponto Chic, point tradicionalíssimo da cidade. E o lanche surgiu de
um pedido seu para um dos sanduícheiros da casa. Diz a lenda que o surgimento
do lanche aconteceu da seguinte forma, nas palavras de Casimiro:
‘Abre um pão francês, tira o miolo, e
bota um pouco de queijo derretido dentro. Depois disso o Carlos já ia fechando
o pão eu falei: - Calma, falta um pouco de albumina e proteína nisso. (Eu tinha lido em um opúsculo livreto
de alimentação para crianças, da Secretaria da Educação e Saúde, escrito pelo
ex-prefeito Wladimir de Toledo Piza, também frequentador do PONTO CHIC - que a
carne era rica nesses dois elementos). Bota umas fatias de roast beef junto com o queijo, e já ia
fechando de novo, quando eu tornei a falar: - Falta a vitamina, bota aí umas
fatias de tomate’.
O nome do lanche, entretanto, é o tema da maior curiosidade. Quando Casimiro estava comento, chegou o Antonio Boccini Jr., conhecido como Quico, que pegou um pedaço do lanche do amigo e, ao gostar da refeição, gritou para o garçom: Me vê um desses do ‘BAURU’. Estava marcada, assim, a origem de uma tradição paulistana, o Bauru do Ponto Chic!
Sopa do Ceagesp - Outro ícone da gastronomia de São
Paulo é a famosíssima sopa do CEAGESP, prato que
deu origem ao festival de sopas que conhecemos nos dias de hoje e que acontecem
no inverno.
Essa receita é oriunda dos anos 60 e 70, época em que o entreposto comercial
estava em construção. Para situar melhor, principalmente os leitores mais
jovens, é preciso ressaltar que, nessas duas décadas supracitadas, não existiam
opções de comida nas horas mais tardias da noite. Não existiam hamburguerias,
fast foods e entregas delivery.
O surgimento do restaurante interno do Ceasa (mais tarde Ceagesp) foi uma novidade única para São
Paulo, já que ele fora criado para sanar a fome dos trabalhadores que
descarregavam as mercadorias do entreposto, na madrugada paulistana. Assim, em um primeiro momento, a iguaria era
servida aos comerciantes, carregadores, colaboradores, e alguns clientes que
chegavam ao entreposto.
O sucesso e o sabor da receita, contudo, fizeram com que sua
fama ultrapassasse os muros, ainda em fase de construção da instituição, e
chegasse ao conhecimento de toda a população de São Paulo.
Assim, o restaurante do entreposto se tornou um ponto de
encontro para os boêmios da cidade que, na ausência de possibilidades melhores,
sentavam-se para tomar uma gostosa sopa de cebola na zona oeste de SP.
Por muitos e muitos anos o restaurante da Ceagesp foi o lugar
que servia a sopa. Contudo, nos anos 80,
ele fecharia suas portas, deixando os admiradores do prato ‘órfãos’ da receita
tradicional. Contudo, em 2009, quando a instituição completou 40 anos de vida, o festival de sopas foi retomado pela
diretoria da Companhia, e se tornou um verdadeiro sucesso.
Ponto dos Estudantes e Caminhoneiros
Em um interessante artigo do jornalista Mouzar Benedito, no
site Boi Tempo, há um registro de que, entre 1967 e 1968, importantes reuniões políticas
aconteciam no CRUSP, Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo.
E, lá, diversas personalidades que se tornariam ministros do
país se reuniam para discutir a política nacional e, lá pelas 3 ou 4 horas da manhã, se deslocavam, a pé,
para o Ceasa, e dividiam o espaço com os caminhoneiros, fato praticamente
inédito até então.
Fonte: Histórias Paulistanas
(JA, Dez21)