Outro dia, ocasionalmente, falando sobre
doce de sagu com uns amigos, lembrei de uma passagem relacionada com esse doce.
Essa lembrança me remeteu à uma época remota da minha vida, entre a infância e a
adolescência, e à minha família - especialmente à minha mãe. Durante uma certa época considerei o que
aconteceu meio constrangedor. Mas, agora, passado tanto tempo, considero até engraçado.
Cursava o Ensino Fundamental 1,
antigo Ginásio, numa cidade do Rio de Janeiro - Nova Friburgo, no Colégio
Anchieta.
Na altura dos meus 13-14 anos, estava
voltando de uma das férias de fim de ano, indo de São Paulo para o Rio, de
onde, em seguida, iria para Nova Friburgo. O horário de partida do ônibus foi
calculado de forma que eu chegasse no Rio pela manhã.
Na Rodoviária, ao se despedir, minha mãe me entregou um potinho com doce de
sagu ao vinho tinto, embalado num saco plástico. Disse que havia feito especialmente para
mim, pois sabia que eu gostava. Recomendou que eu o comesse durante
a viagem. Aceitei, sem questionar, e agradeci - para não melindrá-la.
Na verdade, embora gostasse,
entendia que não era a hora nem lugar para comer esse doce. E, além disso, não queria ficar carregando
aquilo.
Como sempre preferia, sentei e me
acomodei na 'janelinha' de um dos bancos do ônibus, com o doce ainda nas mãos. O
ônibus partiu, tomou a estrada – a famosa via Dutra, e seguiu viagem. Depois de algum tempo, noite avançada, todos
dormindo no ônibus em movimento, abri parcialmente o vidro da janela, e esvaziei o pote de sagu através dela.
A partir daí, dormi tranquilo, até o
fim da viagem.
Ao descer na Rodoviária do Rio, pela
manhã, vi um pessoal, em pé, ao lado do
ônibus, olhando para a sua lateral toda manchada de vermelho - ainda com os
restos do sagu que eu havia jogado, e comentando entre si:
'Nossa... O cara deve ter passado mal mesmo!'
'Nossa... O cara deve ter passado mal mesmo!'
Não falei nada. Apenas ouvi. Abaixei
a cabeça e fui em frente, para a
próxima etapa da viagem.
“Não se arrependa de nada. As coisas boas, deixam alegria; as más, deixam lições; e as maravilhosas, deixam lembranças.”
(JA, Ago16)