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Siga seu Dono


Súbito, ou Sub como era normalmente chamado, era um cão Bassê que se deu bem na vida.
Vivia numa família que apreciava e respeitava a natureza e os animais.  Tomava todas as vacinas recomendadas, era levado a passear duas vezes por dia, banhado de 15 em 15 dias numa Pet Shop próxima, e tinha o pelo aparado quando era necessário. Ocasionalmente, quando as pessoas da casa viajavam, ficava hospedado numa grande casa, agora transformada em canil, em companhia de outros cães, sob os cuidados de um ex-militar - especializado em treinamento de cães, Eventualmente também ia junto nessas viagens.
Sub, embora fosse híper ativo, era também um cão observador e, pouco a pouco, com a convivência, foi aprendendo a interpretar o funcionamento da natureza humana, e a utilizar esse conhecimento a seu favor. Do ponto de vista das pessoas, aquele olhar que ele lhes dirigia, tentando entendê-las,  parecia querer dizer alguma coisa, e só isso já criava uma grande empatia entre eles. As pessoas gostavam dele de imediato, lhe faziam agrados, brincavam com ele.
Com o treinador do Canil onde ele eventualmente ficava, conheceu outros cães que sofriam muito por não entenderem o que faziam ali, o que pretendiam com eles.
Sub, quando ficava no Canil, foi aprendendo como se comportar de acordo com o ambiente, para se sair bem. Notou que o comando ali era militar, que obedecer não era opcional. Então, sabiamente, procurava entender os comandos e a obedecer. Adaptou-se de tal maneira que, quando alguém chegava no Canil, tocava a campainha,  os cães ficavam todos alvoroçados - latiam, corriam de cá para lá. Exatamente o que não era para ser feito. Ele, então ele tomou a iniciativa, nessas ocasiões, de agrupar os cães na lateral do portão de entrada, do lado de dentro, organizar a formação de várias filas - menores na frente, maiores atrás, e orientava os cães para ficarem sentados, imóveis, em posição de sentido, sem latir, aguardando o visitante entrar.  Para aqueles que não se enquadravam, ele latia, mordia suas patas, levando-os a manterem a compostura, a ficarem no devido lugar – em formação. O interessante é que todos os cães obedeciam, sem exceção, inclusive os maiores que poderiam imobilizá-lo com suas mandíbulas poderosas. Isso deixou claro para ele que a razão pode e tem como subjugar o instinto animal original. Os visitantes ficavam encantados com a recepção organizada, e, se ainda não conheciam, de imediato passavam a confiar no trabalho que era praticado no Canil. Por conta disso, e de outras coisas, ele, naturalmente, tinha seus privilégios no local.
Quando saia para passear com um de seus donos, nunca saia de perto dele, mesmo que estivesse sem guia. Sabia que poderia ser divertido, mas que poderia ser perigoso também. Poderia encontrar um cão maior que ele, mau intencionado, e ser atacado, machucado; poderia distraidamente sair da calçada e ir para a rua correndo o risco de ser atropelado; poderia se perder de seu dono; ... Enfim era melhor seguir o seu dono.
Nas oportunidades que tinha de viajar para o litoral com a família, se não tivesse nada para fazer, dava uma escapada e ia andar na praia sozinho. A casa ficava num condomínio fechado e não tinha muros que dificultassem a saída dele, ao contrário do ocorria onde moravam. Nessas ocasiões, quase sempre, encontrava alguém, um estranho, caminhando também sozinho e o acompanhava - talvez por força de hábito. Havia descoberto que os solitários são também solidários. Logo passava a se relacionar com o estranho, e quase sempre descobria através dele novos caminhos, novas oportunidades para se divertir.  Findo o passeio, se despediam com pena de ter acabado,  e cada um ia para o sua casa.
No Pet Shop onde era levado para tomar banho ou para fazer tosa, procurava ficar quieto para aquilo ser feito rapidamente e sem stress. Havia cães que resistiam - ou por medo da água, ou para evitar que algum estranho os tocasse. Bobagem – as pessoas ali não eram inimigas, muito pelo contrário. Os cães eram todos muito bem tratados, e ganhavam mimos quando se comportavam direitinho.
De tanto ver seus colegas sofrerem por problemas de comportamento – alguns até foram abandonados, como ele teve oportunidade de saber –, teve a ideia de escrever um livro de auto ajuda para cães. Naturalmente os cães não sabiam ler, então ele imaginou passar a sua mensagem de uma outra forma.
Um dos filhos do seu dono era muito ligado nessas tecnologias de ponta e, há pouco tempo, havia baixado um aplicativo que permitia entender o que significavam os sons e latidos produzidos pelos cães – era assim como um tradutor automático do idioma canino para o humano. De vez em quando, o rapaz testava esse aplicativo com ele, e, surpreendentemente, funcionava.  Então, através desse meio, ele ‘conversou’ com o jovem e o convenceu a fazer uma filmagem dele, Sub, dando as suas ‘dicas’ para os demais cães, a ser divulgada nas redes sociais, com orientação para os donos de cães a reproduzirem para eles.  
No finalmente, acordaram que as 'dicas' deveriam ser passada através vários filmes, capítulos, compondo uma série que iria se chamar ‘Siga o Seu Dono’.  O objetivo pretendido era orientar os cães quanto ao seu papel na sociedade, humana e canina: o que se esperava deles, e como eles deveriam se comportar para serem bem sucedidos, para evoluírem. Estava previsto que as suas falas/latidos seriam legendados para serem compreendidos também pelos humanos. Embora os cães fossem do reino animal, sempre pertenceram a uma espécie muito próxima do homem, tendo sempre o ajudado a guiar os seus rebanhos, a protegê-los e as suas propriedades, etc. E, por conta disso tinham direito à vida que tinham hoje, desfrutando tantas regalias, ao contrário da maioria dos demais animais. O mote da  sua primeira fala seria:
‘Se nós evoluímos tanto até aqui, será que não poderemos evoluir ainda mais?  A ciência explica a evolução que sofremos até  os dias de hoje, mas não explica a nossa evolução futura. E isso, afinal, não depende de ninguém, a não ser nós mesmos.’
E assim foi feito. A gravação e a reprodução do primeiro capítulo foi um sucesso e, de imediato, produziu um efeito considerável, de acordo com a audiência, e comentários feitos. Aparentemente, ele havia se tornado um interlocutor entre a raça canina e a humana. Foi muito elogiado, tanto pelos seus pares, como pelos humanos. Todos ficaram muito interessados e curiosos para verem a continuação.  
A partir de então, ao invés de ‘Sub’, ele passou a ser chamado de ‘Buda’. Buda é um título dado na filosofia budista àqueles que despertaram plenamente para a verdadeira natureza dos fenômenos, e se puseram a divulgar tal descoberta aos demais seres.
Atualmente, apesar de já ter conseguido uma mudança consciente e positiva do comportamento canino, ele estava a estudando a possibilidade de, a exemplo das  religiões cultuadas pelos humanos, poder oferecer também o céu para aqueles  cães que durante a vida tivessem agido de acordo com certas normas de conduta, ainda a serem definidas.  Para tanto, consultou vários cães que viviam em lares onde residiam pessoas religiosas (católicas, protestantes, espíritas,.. ), e, pelo que ouviu até agora, concluiu não será muito difícil desenvolver e divulgar uma doutrina com  esse propósito. Afinal, quanto maior for o prêmio, maior será o número de interessados. Imagina que, se for bem sucedido, algum dia, os cães poderão frequentar os mesmos ambientes dos humanos, sem restrições de raça ou de cor. Vamos ver.

“A fé é uma crença inerente aos seres. Ela tem uma caraterística especial: ‘É tão mais poderosa, quanto mais se acredita nela’. A força da fé, por diversos motivos, não é igual para todos – para uns é mais forte do que para outros. Ela  ilumina e leva a pessoa para onde ela deve ir, a percorrer o caminho do seu melhor destino, de acordo com a sua crença. Nessas condições, o ser assume plenamente a sua  energia e, com determinação e esforço, consegue realizar o que deve ser feito.”



(JA, Dez15)

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