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Mostrando postagens de março, 2014

Viver Só

Quando somos jovens, não vemos a hora de sair da casa dos nossos pais, onde fomos criados. Queremos e buscamos a nossa individualidade, liberdade - faz parte do processo de crescimento. Com o tempo isso se torna possível -  estudamos, nos formamos, arrumamos emprego, temos o nosso dinheiro e, muito provavelmente, nos casamos. Então, passamos a ter o nosso espaço e, em princípio, não temos que dar satisfações a ninguém sobre a nossa vida – exceto para o nosso parceiro. Entretanto, ocasional e não pouco frequentemente, o casal se se separa  (2,5 ocorrências para cada mil habitantes, Brasil  2012) . Essa separação pode também independer de escolha, ser compulsória, no caso de um uma das partes renunciar a relação, ou  vir a falecer.  De qualquer forma, alguém poderá ser levado a viver sozinho. Então, tudo fica diferente. Chega em casa e não encontra roupa lavada/passada, a comida não está pronta, não há  ninguém aguardando, ninguém para comentar sobre o  dia,  o noticiário e film

Escolhas

O escritor americano William Styron explorou o drama da escolha em seu livro “A Escolha de Sofia”. Conta a história de  uma mãe judia, que é forçada por um soldado alemão a escolher entre o filho e a filha, ainda crianças. Teria que decidir qual seria salvo e qual seria executado. Se ela não escolhesse um, ambos seriam mortos. No limite da decisão, ela opta por poupar o garoto que,  por ser mais forte teria mais chance de sobreviver – fato que ela não pode confirmar, pois nunca mais teve notícias dele. Este é um exemplo de uma grande decisão. Uma decisão cujas consequências ela teve que carregar para sempre.  Existem outras decisões, mais simples, do tipo: qual cor de roupa vou vestir hoje,  o que devo fazer antes do que no meu trabalho, o que vou comer no almoço, etc. Estamos decidindo do tempo todo; faz parte do nosso dia a dia. Entretanto, todas as decisões, desde as mais complexas até as mais simples, têm algo em comum: “Sempre que escolhemos alguma coisa, descartamos outr

Os enamorados

Os enamorados se sentem vivendo um sonho, um sonho que, ao contrário do que é próprio dos sonhos, está ao seu alcance. O sonho é o outro, seu namorado. Eles não vêem a hora se encontrarem, de se falarem, de se tocarem, de estarem juntos. O simples pensar um no outro, já os torna eufóricos - não acreditam que é possível ser tão feliz. Estão vivendo num plano superior, acima da realidade. Nesse plano, os dois se vêem com tanta simpatia, que tudo o que o outro faz, até os defeitos, são positivos, acrescentam. Tudo alimenta o sentimento de realização mútuo. Entretanto, a paixão é um sentimento tão forte quanto volátil - tem prazo de validade, dura pouco, evapora, como um gás liberado, procurando o espaço. Em decorrência, começa a ocorrer um desequilíbrio de sentimento entre as partes: o índice de paixão varia - neste passa a ser maior ou menor do que naquele. E, pouco a pouco, o mundo real vai ocupando o espaço, antes ocupado pelo mundo romântico dos enamorados, onde tudo é tão mara

Os garotos daquela época

Ele tinha uns 10 anos de idade. Não tinha irmãos da sua idade, mas, em compensação, tinha muitos amigos.  Era um menino inteligente e de grande imaginação. No quintal de sua casa, por exemplo, montou uma barraca utilizando sarrafos de madeira descartados e cobertura de papelão, e fazia de conta que ali era o seu quartel general. Tinha uma tia que era costureira. Ela lhe dava carreteis de linha velha ou que não tivesse mais utilidade. Quase todos os dias pela manhã,  utilizava essa linha para empinar as pipas que fazia. Logo em  seguida devia almoçar para ir para a escola. Aguardava até o último minuto, até a mãe o chamar, gritando, dizendo que estava na hora.  Nessas alturas, havia soltado quase toda a linha  da pipa; à distância ela ficava tão pequena no espaço que quase não era visível. Então, para ganhar tempo, ao invés de recolher a pipa, cortava a linha, almoçava rapidamente, e saia. No caminho para a escola, ficava procurando a pipa que deveria ter caído naquela direção.

No semáforo

Há algumas horas, passei por uma das mais movimentadas avenidas do bairro - a Giovanni Gronchi -, indo no sentido da Av. Morumbi. Passei ao lado do palácio do governo do Estado de SP, e parei, aguardando a abertura do semáforo.  Ocupando uma das ruas laterais da Praça Vinicius de Moraes -  a que dá para o palácio, vi um aglomerado de gente. À primeira vista era composto apenas por homens, entre 30 a 40 anos.  Temperatura agradável, sol de fim de tarde, o pessoal animado conversando alto, alguns soltando rojões, rindo. Vários veículos estacionados nessa rua - caminhões, ônibus, vans. Ao lado, meio que assim, uma viatura da Policia Militar, com uns policiais aparentando indiferença, dando plantão. Os 'manifestantes' estavam protestando contra o atual Governador se São Paulo Geraldo Alckmin, reivindicando aumento salarial - deu para ver um grande cartaz onde ele aparecia com o nariz do Pinóquio. Vi aquilo e o que me ocorreu, não foi um sentimento emocionado por  estar p

Sombras de cada um

Cada um  carrega dentro de si energias geradas pelo seu conhecimento, talento, deficiências, história, sentimentos, sonhos, etc. Toda essas energias vão sendo reconhecidas e inconscientemente processadas pela nossa mente. Todas somadas, com a predominância natural das mais fortes, podem resultar e tomar a forma de figuras fantásticas, que muitas vezes nem imaginamos, que representam a nossa realidade interior. Essas figuras são dotadas de  um forte impulso para se externar.  Entretanto, nem sempre conseguem, contidas que são pelas circunstâncias e  pelas limitações da vida e do corpo que as contem. Entretanto, elas sempre estarão lá. E, se houver uma oportunidade favorável, estimulante, certamente irão se manifestar, nem que seja como sombra de alguém que fomos, poderíamos ter sido ou ser.  

A Viagem da Vida

Viver é como fazer uma viagem. Eventualmente, podemos até dar uma paradinha para tomar folego, descansar, mas o avançar é compulsório. Vamos seguindo, passando por lugares maravilhosos, às vezes inóspitos, às vezes, assustadores, às vezes parados, sem vida, aborrecidos. Planícies a perder de vista, morros e vales, desfiladeiros, cachoeiras. Alguns l ugares estimulam nossas  lembranças;  outros, nos parecem muito estranhos. Faz sol, chove, escurece, amanhece. Faz frio, calor. Procuramos nos adaptar o melhor possível, a cada momento, a cada estação. De quando em quando, caímos, nos machucamos. Levantamos. Às vezes, obtemos algum sucesso, nos alegramos, comemoramos. E continuamos.   O tempo vai passando. Se nos encontrarmos em um lugar desagradável, pensamos:  vai passar. Sabemos que, provavelmente, lá na frente, deve haver um lugar   melhor. Então, procuramos nos distrair, pensando nos lugares e momentos bons que que conhecemos ou vivemos, nas pessoas interessantes com as qu

Sedan Mercedes-Benz 280S

Recentemente li sobre um senhor que manteve durante 82 anos o seu Rolls Royce. Quando trabalhei na Mercedes-Benz, tinha como uma das minhas responsabilidades cuidar da frota de veículos. Tínhamos na frota cerca de 300 veículos, de quase todos os tipos, incluindo aí carros de serviço e de executivos.  Os executivos – nível de diretoria - tinham a sua disposição os da marca Mercedes-Benz. Na época, aqui no Brasil, era proibida a importação de novos, exceto para consulados e embaixadas. Então, comprávamos os nossos carros desse pessoal, quando algum ficava disponível para venda. Num determinado momento, a legislação foi alterada e foi liberada a importação. Então, com a possibilidade de renovação, foi decidido que iríamos vender quatro dos cinco MB 280 S que tínhamos - os mais antigos. Dos veículos que seriam vendidos, aproveitamos tudo o que cada um tinha de melhor, de mais atual, e transferimos para o que estava em melhor estado, o que permaneceria conosco. Entretanto, no fina

Canja de Galinha

Outro dia, uma das minhas filhas pediu que fizessem 'canja de galinha' em casa. Eu concordei, mas disse que eu não gostava. Perguntaram: ‘- Por que?’ Respondi que não gostava, e pronto – não sabia porque. Entretanto, fiquei sensibilizado com uma lembrança que me ocorreu nessa hora e, dos meus olhos, saíram algumas lágrimas que naturalmente disfarcei. Voltei no tempo, e me vi numa situação que não era incomum naquela época. Era então um garoto de cerca de 10 anos,   e minha mãe sofria de terríveis enxaquecas. Isto acontecia mais ou menos uma vez por mês e, quando acontecia, ela ficava de cama, por uns dois ou três dias seguidos, até se recuperar.  Nesse meio, tempo, eu cuidava da casa. Ela não comia nada no início da crise e, depois, quando melhorava um pouquinho, pedia uma sopinha de arroz aquecido em água, sem tempero, que eu preparava e levava.   Ela comia em seu quarto, na cama, meio recostada. Ver aquele arroz flutuando na água – que para mim parecia vômito, me causa

Ser Corintiano

Algumas coisas não têm explicação, mas o fato de eu ser corintiano tem.   É o seguinte, quando era menino, na segunda metade da década de 50, morava ao lado do Clube do Corinthians – ou Parque São Jorge como é conhecido.  Eu e   meus colegas frequentávamos o clube, as piscinas, etc. Alguns deles eram   filhos de jogadores titulares do time principal do Corinthians que, na época, já era um   grande time do futebol paulista e brasileiro. Entretanto, ao contrário   do que acontecia até há pouco tempo atrás, o time ganhava todas. Não tínhamos   TV em casa, e eu ia assistir os jogos do time na casa dos meus amigos vizinhos. Então,   naturalmente, torcíamos para o Corinthians. Naqueles dias, os meninos colecionavam figurinhas de jogadores para  completar o que chamávamos de 'álbum' – cada time de futebol tinha duas páginas do álbum, com um espaço para colar as figurinhas, como nome de cada um dos  seus jogadores. Lembro-me que  ter conseguido completar mais de um álbum

Calcinha de atropelamento

Essa expressão remete a uma  lenda urbana que fala de uma senhora idosa, com problemas de audição, que fazia questão de sempre usar calcinhas bonitas, as quais ela apelidava carinhosamente de ‘Calcinha de Atropelamento’.  Quando ela chegava em casa com suas comprinhas, questionada sobre o que havia comprado, de vez em quando dizia que havia comprado umas ‘calcinhas de atropelamento’. As pessoas já estavam acostumados com essa fala, achavam engraçado, mas  já haviam desistido de perguntar o ‘por que’ desse nome. Seu  neto, depois de muito empenho, conseguiu descobrir. É que ela, por não escutar direito, tinha receio de que, atravessando uma rua, eventual e muito provavelmente, viesse a ser atropelada, e ficasse estirada no chão, com o vestido levantado. Nesse caso, todos que a vissem naquele estado, poderiam constatar que ela estava usando uma calcinha velha, feia, esgarçada e desbotada. Então, seguramente, iriam comentar o acidente como sendo o atropelamento de uma ‘velha relaxa

Solução, Superação, Evolução

Outro dia tive a oportunidade, num desses momentos em que as coisas parecem fazer mais sentido, de  refletir que é muita pretensão nossa achar que sabemos muito, que temos isto ou aquilo, .... Realmente, não é uma atitude inteligente, considerando que cada vez mais sabemos menos de mais coisas, devido ao momento em que vivemos, uma época caracterizada pelo boom científico e tecnológico. É claro que não podemos generalizar, pois outros ramos do conhecimento humano não evoluíram tanto, às vezes muito pelo contrário.  E quanto a ter, é irrelevante, pois quanto mais temos, mais julgamos necessário ter;  então ... Por outro lado não devemos nos minimizar, nos sentir inferiorizados. Se agirmos assim poderemos perder muitas oportunidades de relacionamentos enriquecedores, de aumentar nosso conhecimento, reduzir nossas limitações. Um antigo mestre na faculdade dizia que, muitas vezes durante a nossa vida, seremos colocados diante de pessoas sábias, poderosas, e que, então, para oti

Agulha Perdida

Na Índia, numa praça, uma senhora olhava no chão aqui e ali, procurando alguma coisa. Os que passavam por ali notaram e perguntaram o que ela estava procurando. Ela disse que procurava uma agulha, muito importante para o trabalho que tinha que fazer. Algumas pessoas também ouviram a resposta, e todos começaram a ajudá-la na busca. Depois de certo tempo, não encontrando , perguntaram-lhe onde, exatamente, a perdera.  Ela disse que havia perdido na casa dela, mas que lá estava muito escuro, e que, então,  tinha vindo procurar na praça, onde estava mais claro. Todos ficaram atônitos. Então,  ela começou a rir, e disse que era uma monja e que, com essa encenação, pretendia apenas passar uma mensagem para as pessoas: “Não adianta procurar externamente algo que perdemos dentro de nós mesmos”.  Por exemplo, se somos infelizes, nenhuma festa, viagem, etc. irá nos trazer a felicidade de volta. Nesse caso,  temos que parar, refletir, buscar encontrar a causa dessa tristeza na me

Fila do Correio

Outro dia estava na fila do correio para despachar alguma coisa, quando uma senhora idosa, bem vestida,  até então desconhecida para mim, foi atendida como cliente preferencial.  Uma mulher de cerca de 30 anos, que também estava na fila, sub nutrida e mau cuidada, ficou transtornada com o privilégio e começou a externar sua opinião, falando alto, indignada. A senhora que ouviu tudo, ao terminar, saiu normalmente, ignorando a intempestiva.  Nessas alturas, eu também estava terminando de ser atendido e, ao final, ao passar pela mau educada ainda na fila, falei para todos ouvirem, olhando nos seus olhos, no mesmo tom que ela usou: “Um pouco de respeito com os mais velhos, não faz mau a ninguém!” Ela, ignorando o que eu havia acabado de dizer e a minha postura evangélica, deu um tapa na minha cara.  Fiquei atônito, sem palavras. Foi a primeira vez que alguém me faz uma coisa dessas. Passou pela minha cabeça a opção de devolver o tapa. Mas, nessas alturas, um segurança da agência,

Alienação Induzida

Num determinado momento vou deixar de existir!   É um pensamento estranho. Entretanto, a finitude iminente, é uma das poucas coisas que podemos ter certeza.   A nossa razão, inteligentemente,  cria um bloqueio, dificultando encararmos essa realidade no dia a dia, evitando assim prejudicar nosso desempenho, ficarmos deprimidos e, eventualmente, perdermos o nosso norte. A verdade é que evitamos trazer para o consciente a pergunta abaixo, e sua provável resposta: “Para que tanto esforço se, no finalmente, vou morrer mesmo ...?” Se todos encarássemos esse fato de frente, de uma maneira bem objetiva, se o confrontássemos com todas as decisões, atos e pensamentos, como seria a vida em sociedade, como seria nosso desempenho, qual seria o resultado ? Imagino que o que conseguimos conquistar até agora, o nível  evolução social alcançado, deve-se a essa alienação esperta. Tudo isso vem confirmar a validade da tese, a que chamo de 'Alienação Induzida'. Essa tese estabelece qu

Transição

Vivemos dias de transição, um momento único, de extraordinárias transformações.  Há sinais evidentes de que estas sejam as últimas décadas de uma era muito importante na história da humanidade. Naturalmente, após esta há de surgir outra. A questão é: ‘ Como ocorrerá?  Como será essa outra?’ De acordo com o pensamento de muitos espiritualistas,  esse momento de transição ocorrerá em cinco escalas,  da de menor para a de maior intensidade.  Em princípio, deverão ser marcadas por acidentes naturais, a maioria decorrentes da agressão recorrente do homem contra si e contra o seu próprio planeta. Esses momentos de transição não terão claramente definidos o seu princípio e fim. Situações próprias do período que estará se  encerrando – o passado, conviverão simultaneamente com as próprias do período que se iniciará– o futuro. Haverá muita destruição, morte, doença, sofrimento. No finalmente,  após a expiação, da depuração decorrente,  emergirá um homem,  uma sociedade, um mundo