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Mostrando postagens de agosto, 2018

A última visita

O artigo abaixo, a respeito da morte de Machado de Assis (1839-1908) foi publicado por Euclides da Cunha, em 30 de setembro de 1908, no ‘Jornal do Comércio’. Machado havia falecido um dia antes. Retrato de Machado de Assis, 1905, de autoria de H. Bernardelli, óleo sobre tela Na noite em que faleceu Machado de Assis, quem penetrasse na vivenda do poeta, em Laranjeiras, não acreditaria que estivesse tão próximo o desenlace de sua enfermidade. Na sala de jantar, para onde dizia o quarto do querido mestre, um grupo de senhoras – ontem meninas que ele carregara no colo, hoje nobilíssimas mães de família – comentavam-lhe os lances encantadores da vida e reliam-lhe antigos versos, ainda inéditos, avaramente guardados em álbuns caprichosos. As vozes eram discretas, as mágoas apenas rebrilhavam nos olhos marejados de lágrimas, e a placidez era completa no recinto, onde a saudade glorificava uma existência, antes da morte. No salão de visitas viam-se alguns discípulos dedic

Um intelectual pop - Yuval Noah Harari

Como o historiador Yuval Harari, que lança seu terceiro livro no Brasil, tornou-se um improvável best-seller e um discreto profeta de pesadelos tecnológicos     História Futurista - Um holograma de Harari em conferência no Canadá: visão crítica da inteligência artificial Yuval Noah Harari é uma criatura rara entre os autores mais vendidos no mundo hoje. Não escreve para o mercado que os americanos designam como young adult — jovem adulto —, que impulsionou os sucessos de uma Stephenie Meyer ou de um John Green. Tampouco é uma celebridade de rede social, embora o universo dos instagrammers , youtubers e digital influencers entre na paisagem que ele desenha em ‘21 Ideias para o Século 21’, o novo livro cujo lançamento global se dará nesta quinta-feira, 30. Trata-se de um acadêmico, um homem das ciências humanas, com formação em história pela vetusta Universidade de Oxford, na Inglaterra. Frequenta o circuito fast-food de divulgação do pensamento que se organizou em tor

Modo de falar do brasileiro

O ‘R’ caipira do interior de São Paulo, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina deve-se ao fato de que os indígenas que aqui moravam não conseguiam falar o ‘R’ dos portugueses, não havia o som da letra ‘R’ em muitos dos mais de 1200 idiomas que se falavam aqui. Então na tentativa de se pronunciar o ‘R’, acabou-se criando essa jabuticaba brasileira, que não existe em Portugal. A isso também se deve o fato de muitas pessoas até hoje em dia trocarem ‘L’ por ‘R’, como em farta (falta), frecha (flecha) e firme (filme). Com a chegada de mais de 1,5 milhão de italianos à capital de São Paulo o sotaque do paulistano incorporou o ‘R vibrante’ atrás dos dentes, ficando porta como ‘porita’, e em alguns casos até incorporando mais ‘Rs’ do que existem: carro como ‘caRRRo’, se quem falar for de Mooca, Brás e Bexiga, bairros paulistanos com bastante influência italiana. O ‘R’ falado no Rio de Janeiro deve-se ao fato de que quando a corte portuguesa pisou aqui, a moda era